Elpídio era tio de meu pai. Irmão do meu avô Honório, do meu tio-avô Bernardo... Até os 14 anos, Elpídio fora um garoto inteiramente normal. Aconteceu então um acidente. Diz-se que foi o coice de uma mula, que o deixou desacordado. Ele não voltaria a ser o mesmo.
Morava com duas das suas irmãs, irmãs do meu avô e do tio-avô Bernardo. Eram ao todo 22 irmãos de dois casamentos do meu bisavô José Freire de Castro Sedrim Jucá.
Iguatú, no Ceará, era a cidade onde moravam. Lá, em outra casa, também morava o meu tio-avô Airton, outro dos meus numerosos tios-avôs.
Elpídio costuma ir muito à casa do tio Airton. Ainda mais durante todo o período em que andava muito doente o tio Bernardo, que morava no Crato.
Acompanhavam todos com preocupação o seu estado de saúde.
As comunicações na época eram muito precárias.
Elpídio, sempre por perto, ficava atento às notícias que a conta gotas chegavam: Está na mesma! Teve uma leve melhora! Piorou um pouco!
Cada nova notícia Elpídio apressava-se em contar as suas irmãs, em uma repetição lacônica do que diziam os telegramas.
Um dia o tio Airton recebeu do Crato, mais um telegrama, que abriu com grande temor. Não se conteve! Leu em voz alta para todos ouvirem: Bernardo acaba de falecer.
Mal acabara de pronunciar a última palavra, e Elpídio já levantara, fazendo menção de sair, sendo clara a sua intenção de ir correndo para casa levar a má notícia às irmãs.
O meu tio-Avô Airton, preocupado pela reação das suas irmãs àquela notícia, em tempo deteve a saída de Elpídio.
Conversou com ele: Elpídio, nossas irmãs estão velhas, nervosas, têm a saúde precária! Está entendendo? Não quero que você conte a elas sobre a morte de Bernardo. Elas ficariam tão chocadas, que temo pelo que lhes possa acontecer.
Eu mesmo quero dar-lhes a notícia, porque antes precisarei prepará-las para só então dizer. Se você quiser ir para casa, vá. Mas não conte nada a elas.
Elpídio ouviu com atenção o que lhe dissera o irmão, e prometendo guardar o segredo, foi embora para casa.
As velhas tias Ermelinda e Ermezinda, viram chegar Elpídio que desta vez, estranhamente, não entrou em casa. Tinha em uma das mãos uma espécie de chicote, e andava nervosamente de um lado para o outro do terraço, batendo com o chicote na perna.
Estranhando o que com ele se passava, procuraram descobrir o que era:
Perguntou-lhe uma das irmãs:
- Por que não entras Elpídio? Pareces um pouco nervoso!
Respondeu Elpídio:
- Tô nervoso não!
Mas continuava a andar repetidamente de um lado para o outro.
Insistiu a outra irmã:
- Então por que não entras? É quase hora de dormir!
Respondeu Elpídio:
- Não entro, não!
Desconfiada, perguntaram a ele:
- Aconteceu alguma coisa?
Resistiu Elpídio:
- Não.
Prosseguindo, insistiram:
- Então porque não entras, homem de Deus! Tens mesmo certeza de que nada há para nos dizer?
Ao que Elpídio falou:
- Vocês não podem saber!
As minhas tias, ficando ainda mais intrigadas, estavam cada vez mais tensas e agitadas.
Disseram:
- Como não é para saber, Elpídio?
Continuou ele:
- Antes vocês vão tomar um chazinho de erva cidreira que é para se acalmar, e só quando estiverem bem calminhas, pois a notícia é terrível, é que vão poder saber!
As duas desesperaram e juntas gritaram de uma só vez:
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