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domingo, 15 de março de 2015

Zelo Fraterno.


Elpídio era tio de meu pai. Irmão do meu avô Honório, do meu tio-avô Bernardo... Até os 14 anos, Elpídio fora um garoto inteiramente normal. Aconteceu então um acidente. Diz-se que foi o coice de uma mula, que o deixou desacordado. Ele não voltaria a ser o mesmo.

Morava com duas das suas irmãs, irmãs do meu avô e do tio-avô Bernardo. Eram ao todo 22 irmãos de dois casamentos do meu bisavô José Freire de Castro Sedrim Jucá. 

Iguatú, no Ceará, era a cidade onde moravam. Lá, em outra casa, também morava o meu tio-avô Airton, outro dos meus numerosos tios-avôs. 

Elpídio costuma ir muito à casa do tio Airton. Ainda mais durante todo o período em que andava muito doente o tio Bernardo, que morava no Crato.

Acompanhavam todos com preocupação o seu estado de saúde. 

As comunicações na época eram muito precárias.
Elpídio, sempre por perto, ficava atento às notícias que a conta gotas chegavam: Está na mesma! Teve uma leve melhora! Piorou um pouco! 

Cada nova notícia Elpídio apressava-se em contar as suas irmãs, em uma repetição lacônica do que diziam os telegramas.

Um dia o tio Airton recebeu do Crato, mais um telegrama, que abriu com grande temor. Não se conteve! Leu em voz alta para todos ouvirem: Bernardo acaba de falecer. 

Mal acabara de pronunciar a última palavra, e Elpídio já levantara, fazendo menção de sair, sendo clara a sua intenção de ir correndo para casa levar a má notícia às irmãs.

O meu tio-Avô Airton, preocupado pela reação das suas irmãs àquela notícia, em tempo deteve a saída de Elpídio.

Conversou com ele: Elpídio, nossas irmãs estão velhas, nervosas, têm a saúde precária! Está entendendo? Não quero que você conte a elas sobre a morte de Bernardo. Elas ficariam tão chocadas, que temo pelo que lhes possa acontecer. 

Eu mesmo quero dar-lhes a notícia, porque antes precisarei prepará-las para só então dizer. Se você quiser ir para casa, vá. Mas não conte nada a elas. 

Elpídio ouviu com atenção o que lhe dissera o irmão, e prometendo guardar o segredo, foi embora para casa.

As velhas tias Ermelinda e Ermezinda, viram chegar Elpídio que desta vez, estranhamente, não entrou em casa. Tinha em uma das mãos uma espécie de chicote, e andava nervosamente de um lado para o outro do terraço, batendo com o chicote na perna.

Estranhando o que com ele se passava, procuraram descobrir o que era:

Perguntou-lhe uma das irmãs:

- Por que não entras Elpídio? Pareces um pouco nervoso!

Respondeu Elpídio:

- Tô nervoso não!

Mas continuava a andar repetidamente de um lado para o outro.

Insistiu a outra irmã:

- Então por que não entras? É quase hora de dormir!

Respondeu Elpídio:

- Não entro, não!

Desconfiada, perguntaram a ele:

- Aconteceu alguma coisa?

Resistiu Elpídio:

- Não.

Prosseguindo, insistiram:

- Então porque não entras, homem de Deus! Tens mesmo certeza de que nada há para nos dizer?

Ao que Elpídio falou:

- Vocês não podem saber!

As minhas tias, ficando ainda mais intrigadas, estavam cada vez mais tensas e agitadas.

Disseram:

- Como não é para saber, Elpídio?

Continuou ele:

- Antes vocês vão tomar um chazinho de erva cidreira que é para se acalmar, e só quando estiverem bem calminhas, pois a notícia é terrível, é que vão poder saber!

As duas desesperaram e juntas gritaram de uma só vez:

- Ai meu Deus! Bernardo morreu!!!

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