Amanheceu o tão esperado dia, e eis que chegaram os tão esperados interventores. Mais respeitáveis, impossível. Sem dúvida que pessoas da mais alta hierarquia. Inspiravam confiança na capacidade de vencer os maiores desafios, e soerguer qualquer empresa.
Puseram-se a vontade em meio aos funcionários, aos quais quiseram conhecer nominalmente. Simpáticos, conversavam amistosamente com todos, enquanto aguardavam a chegada do Sr Constantino, "O detestável".
Finalmente a porta de entrada se abriu, e de lá soou um alto e sonoro BOM DIA, diria que retumbante! Eis que chegava o esperado quase ex-diretor, para o mais que esperado encontro, com os seus carrascos, na frente dos empregados.
Fez-se um silêncio geral, o que só ressaltou a chegada daquele homem baixinho, obeso, de terno e chapeuzinho de feltro, para o qual voltavam-se todas as atenções.
Foi sob todos esses olhares curiosos que Constantino cantarolante, caminhou em direção aos interventores. Ao deles se aproximar apressou o passo, e ensaiando uma breve corridinha, ao passar por eles sem ligar a mínima para as suas presenças, levantou uma das pernas e uma flatulência sonora soou ajudado pela acústica do saguão.
Dois ou três dias depois, aguardados com muita impaciência, Constantino saia de férias para nunca mais voltar, tendo aquela, sido a sua mensagem de despedida final.
Nascia então, a boa expectativa de uma gradativa volta à normalidade. Eu estava ali a quase três meses e ainda não tivera a oportunidade de assistir o funcionamento normal de uma empresa.
Retomamos começando pelo restabelecimento do Departamento Técnico, para que pudéssemos voltar a trabalhar como antes.
Os interventores, terminaram os seus primeiros relatórios que além de relatos, incluíam suas recomendações, e os enviaram para o Rio de Janeiro.
Novos boatos começaram a circular, de que viriam por aí medidas administrativas que a muitos poderia afetar.
O clima de alívio que tomara conta do ambiente se desfez. Voltaram todos a sentirem-se tensos e preocupados, como já estavam acostumados.
Logo circulou à boca miúda, a palavra mais temida: demissões.
A sala onde antes trabalhava um homem atormentado por uma doença psicológica ou mental, continuaria para muitos, a sala dos tormentos.
A cada dia empregados eram lá chamados para que a eles fossem comunicadas as suas demissões. E aumentava a quantidade dos que eram demitidos, sem que se soubesse quando aquilo tudo iria terminar.
Foi lá, naquela sala, com o imenso birô que fora do Sr Constantino em outra posição, lugar onde eu a tão pouco tempo conquistara a duras penas aquele emprego e aquela condição, que fui abatido em pleno voo.
Aqueles interventores deviam ser diretores de verdade! Sabiam demitir muito bem. Demitiram-me da melhor maneira possível. Alegres, simpáticos, chegando até a ser agradáveis, e demonstrando grande otimismo em relação ao meu futuro. Em outro lugar!
Comentaram que as razões daquela medida não eram pessoais, e que apenas as admissões feitas pelo diretor anterior precisavam ser revistas.
Disseram sentir vontade de que fosse possível me manter, mas que eu estaria saindo contemplado pelo que me asseguravam as leis trabalhistas, e que eu era muito jovem, tinha um futuro pela frente, e o potencial para ir trabalhar noutra grande empresa. Eu ouviria, ir trabalhar em outra freguesia.
Esqueceram-se de considerar o quanto seria quase impossível, recuperar em outro emprego, o meu salário atual. Só mesmo um doido, pagaria o salário de um engenheiro recém formado, a um estudante de engenharia, na metade do curso. Foi o que pensei!
Fechara-se esse ciclo, e nem contar ao meu pai eu poderia. O jeito era guardar aquele segredo, levantar a cabeça, e procurar outro emprego.
Enquanto isso, naquele dia, voltei para casa o mais triste e desamparado, que alguém poderia se sentir.
E ponto final.
Relatarei nas próximas postagens, sob um titulo que ainda nem escolhi, a sequência desses fatos, já que como se sabe a eles sobrevivi.
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