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segunda-feira, 9 de março de 2015

Sons, Movimentos e Cores.


Início da década de 70, na pacata mas progressista Campina Grande, cidade sobre a serra da Borborema. 

O silêncio é outra vez quebrado pelo mesmo barulho contínuo, que devagar vai aumentando. Se faz mais alto, mais alto, cada vez mais alto, porque é o caminhão que se aproxima.

Aqui e ali ouvem-se pancadas surdas. Homens sacodem o lixo que das casas recolhem, e o caminhão sem parar a tudo acolhe.

Dentro da casa uma "criança de braço", que poucas palavras sabia, fascinava-se pelos ruídos distantes. Era o prenúncio do seu grande espetáculo diário.

Sons, movimentos e cores. Tudo aquilo durava poucos minutos! Era só enquanto passavam os homens agitados, contrastando com a lentidão do caminhão de lixo, amarelo. Caminhão de lixo amarelo imperturbável em seu lento percurso.

Aos seus primeiros sinais mobilizava-se a criança, e interpretava-a corretamente a cuidadosa babá. A porta para a rua era aberta. Logo postavam-se as duas no terraço da frente, que a um nível mais alto que a rua, tornava-se o camarote ideal para assistir à peça.

Não me lembro de um olhar tão perdido e atento, quanto aquele do meu filho! Perdido, atento e duradouro. Durava o quanto demorasse toda aquela coleta de lixo.

Àquela época, foi quando decorridos os meus primeiros anos de formado, comprei enfim o primeiro carro. Foi o chamado "Fuscão", de cor por demais chamativa, já que era todo amarelo.

Lembro quando à frente de casa, com o meu filho no braço, observei o quanto aquele carro parecia interessá-lo. 

Perguntei:

- Gostou do carro de papai?

Ele respondeu sem do carro retirar os olhos:

- Bonito! Parece o caminhão do lixo!

2 comentários:

Bartira e Ferdinando disse...

Como sempre leitura muito boa. Daquelas, como dizem, que dá gosto de lê.

Tilde disse...

Adorei de montão ! Manda mais ...

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