Apenas mais um Blog.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

"Mensagem Brutal"



Christophe Dejours é um psiquiatra e psicanalista francês, fundador da chamada "psicodinâmica" do trabalho. A psicodinâmica é o estudo das relações entre respostas e estímulos. 

Sabemos que o neo liberalismo que se nos abateu após a queda do muro de Berlim, mudou para pior a organização do trabalho. 

As consequencias hoje já se podem medir, pelos efeitos decorrentes da perda da saúde mental de trabalhadores em todo o mundo. 

Em uma longa entrevista ao jornal português Público, Christophe Dejours revela aspectos cruciais sobre essa questão, e eu diria que alguns são realmente estarrecedores. 

Há 12, 13 anos, passaram a ocorrer suicídios e tentativas de suicídio, na França, no próprio local de trabalho. Segundo o especialista entrevistado, "um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal". 

Fatos da mesma natureza foram também observados em outros países europeus, como a Bélgica, onde a questão foi igualmente investigada.

A responsável por tais ocorrências é uma das maiores características atuais dos ambientes de trabalho nas empresas: a falta de solidariedade, decorrente da natureza competitiva estimulada entre colegas de trabalho.

De toda essa pobreza de comportamento, sempre achei emblemático (e ridículo) , o conto do "Leão e a gazela". Ele fez parte por uns tempos (talvez ainda faça) do repertório de consultores administrativos em suas palestras corporativas: 

"Toda manhã na África, uma gazela acorda.
Ela sabe que precisa correr mais rápido que o mais rápido dos leões ou será morta...
Toda manhã um leão acorda.
Ele sabe que precisa ultrapassar a velocidade da gazela mais lenta ou morrerá de fome.
Não importa se você é um leão ou uma gazela...
Portanto, quando o sol nascer, é melhor você estar correndo!"

Acredito porém que você poderá considerar que ainda não viu nada, até ler a entrevista aqui postada. É incrível que em plena Europa do século XXI, treinamentos absurdos ocorram, algo verdadeiramente insólito, como é o caso de um treinamento que veio a tona, e é comentado pelo entrevistado, ao longo dessa entrevista, a qual lhe convido a ler.

Por outro lado, é dito que "entre 2006 - 2007 na Renault, aconteceram 5 suicídios consecutivos, sendo que 4 deles, atiraram-se do topo de escadas interiores do quinto andar, à frente dos colegas num lugar de muita passagem na hora do almoço. Na France Télécom aconteceram 25 suicídios".

Hoje na França ocorrem cerca de 300 a 400 suicídios no trabalho, por ano.

A questão merece portanto a devida atenção, e na opinião do psiquiatra e psicanalista Christophe Dejours, "Temos de aprender a pensar o trabalho colectivo, de desenvolver métodos para o analisar, avaliar – para o cultivar. A riqueza do trabalho está aí, no trabalho colectivo como cooperação, como maneira de viver juntos. Se conseguirmos salvar isso no trabalho, ficamos com o melhor, aprendemos a respeitar os outros, a evitar a violência, aprendemos a falar, a defender o nosso ponto de vista e a ouvir o dos outros."

Pois é, eu sempre soube que isso não ia mesmo dá certo! O tempo é mesmo o senhor da razão!

Para ler a entrevista, clique no título acima ("Mensagem Brutal") ou acesse:
http://www.publico.pt/Sociedade/um-suicidio-no-trabalho-e-uma-mensagem-brutal_1420732

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sobre o PIG.


A sigla P I G (Partido da Imprensa Golpista) foi cunhada pelo Jornalista Paulo Henrique Amorim. No seu Blog, (http://www.paulohenriqueamorim.com.br/) ele costuma exercitar o que podemos chamar de jornalismo independente. Em tempos de novos espaços para divulgação das opiniões, a internet é o que podemos hoje considerar, o espaço democrático por excelência. 

O mesmo não podemos dizer no Brasil, da mídia tal como constituída e organizada, para a defesa de interesses pessoais dos seus donos. Considerando que as rádios e TV´s são concessões públicas, não deveriam muitas delas terem renovadas essas concessões, face aos descalabros que já cometeram; interferindo inclusive no resultado de eleições, como na fraude por ocasião da eleição de Brizola para governador  do Rio de Janeiro, e posteriormente na edição tendenciosa do debate final entre Lula e Collor, na eleição presidencial de 1989. 

De acordo com comentários no Blog do PHA, "nos Estados Unidos, Obama não dá entrevista a FOX News, de Rupert Murdoch, porque a Fox não é um orgão de imprensa, mas um apêndice do Partido Republicano."
"No Brasil o chamado PIG é um apêndice do PSDB, dos Demos e do Golpe."

Ao clicar no título acima, "Sobre o PIG", ou no link: http://vimeo.com/7459748 você poderá assistir a um interessante vídeo que busca conscientizar para a importância dessa questão, e que termina por ajudar a entender a posição de Hugo Chávez, no tocante a essa questão na Venezuela.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Arte de Responder.


Mais interessante do que a arte de perguntar, é a arte de responder. 

A arte de bem responder, entretanto, requer sensibilidade, senso de oportunidade, e sobretudo inteligência e preparo.

Como essas não são qualidades democraticamente distribuídas, sobretudo entre os políticos, é incomum que alguém se destaque pelo brilhantismo, durante uma entrevista.

Gostaria de recomendar a todos a leitura da entrevista à página 42 da Revista Época desta semana (22 de fevereiro de 2010), com a candidata à presidente, Dilma Rousseff.

Eu destacaria para exemplificar o que disse, os seguintes trechos:

Época - A aproximação do Brasil com o Irã não afiança os abusos cometidos contra os opositores do regime?
Dilma - Quando a gente faz a mesma coisa com os Estados Unidos, estamos afiançando Guantanamo (prisão em Cuba para os acusados de terrorismo)? Ou o que aconteceu em Abu Ghraib (prisão do Irque onde iraquianos foram torturados por americanos)? Não estamos fazendo isso. Estamos nos relacionando soberanamente. Essa posição de interferência na política interna dos outros já levou a muitos problemas no mundo. Um exemplo é o Haiti, produto de uma política internacional que se julgava no direito de exigir A, B, C, ou D do povo haitiano. Deu no que deu, um desastre.

Época - Vários governos da América Latina, em especial a Venezuela, tentam controlar a mídia e cercear a liberdade de opinião. Qual é a sua opinião sobre o governo do presidente Hugo Chavez?
Dilma - No governo brasileiro somos a favor da liberdade de imprensa e de livre manifestação, um direito fundamental da democracia. Não queremos cercear, controlar o conteúdo de jornais ou fazer algo similar. Mas não nos relacionamos com países exportando nosso modelo para ninguém, nem impondo esse modelo. Não fazemos isso. É muita pretensão quem pensa que define de fora a política interna de um povo. Ela tem suas características, suas especificidades e suas realidades sociais. A Venezuela é uma realidde, nós somos outra. Temos uma relação com a Venezuela sim, e mantemos essa relação. Temos também uma relação com o presidente Álvaro Uribe (da Colômbia), que está pedindo o terceiro mandato - e não tenho visto por aqui ninguém questionando o terceiro mandato dele.

Época - Quando a senhora diz ser radicalmente contrária a privatização do patrimônio público, isso soa como crítica às privatizações do governo FHC, como se elas tivessem sido danosas...
Dilma - Não chegou a ser tão danoso como foi para países vizinhos, porque não conseguiram fazer tudo. Mas pegaram a Petrobras e começaram a tentar reduzi-la a uma dimensão menor. Impediram a verticalização da empresa, que ela tivesse ganhos de escala.

Época - Mas a privatização da Petrobras estava impedida por lei ...
Dilma - Achamos estranha aquela história do nome Petrobrax. Era uma tentativa de abrir o capital mais do que devia. A única parte do Brasil no nome da Petrobras é o "bras". Se é capaz de transformar um S em X, tem dó ... As intenções são muito claras.

Época - E a privatização da Vale? E das Teles?
Dilma - Com as teles, acho que foi diferente. Em relação à Vale, vamos ter de fazer exigências a respeito do uso da riqueza natural. Isso não significa reestatizar. Ela pode ser perfeitamente privada, desde que submetida a controles. Só não acho possível concordar que a Vale exporte para a China minério de ferro e a gente importe bens e produtos siderúrgicos. Essa não é uma relação do nosso interêsse como nação. Não vejo grandes problemas no setor elétrico. A privatização de Furnas foi impedida porque o pessoal se mobilizou. A visão que se tinha de não planejamento e de não visão de longo prazo no caso da energia deu no que deu em 2001 (ano do apagão). Sou contra privatizar o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal. Minha gratidão com a história é que ela provou que a gente estava certo. Ai de nós se não estivéssemos os três bancos! Só conseguimos enfrentar a crise econômica porque tinhamos estrutura para enfrentá-la. Porque na hora da crise, quando o pavor bate ...

Época - Podemos mudar de assunto?
Dilma - Não, é que quero explorar muito essa história do Estado, sabe? O Estado mínimo tem uma perversidade monstruosa. Sabe qual é? 

.... e a entrevista continua...

Para os interessados, visitem:

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A Possível Comunicação com Pacientes em Estado Vegetativo.


A extensão do texto a seguir

é compensada pelo conteúdo

verdadeiramente interessante,

atual e naturalmente importante!


    
Imagens do cérebro permitem que um paciente em estado vegetativo possa se comunicar.

A pesquisa é um desafio às nossas idéias sobre consciência.


Quinta feira, 04 de Fevereiro de 2010

Algumas pessoas pensam que em estado vegetativo - uma persistente falta de sensibilização seguida a um dano causado ao cérebro - pode-se estar mais acordado do que previamente se pensava, e de acordo com novas pesquisas, capaz até de se comunicar. 



 Um paciente em estudo publicado hoje no New England Journal of medicine (NEJM), foi capaz de corretamente responder a uma série de perguntas do tipo sim ou não, sendo as suas respostas interpretadas via imagens do cérebro.



Mind reading: A patient with no outward signs of awareness was able to answer yes-no questions via functional magnetic brain imaging.
Credit: UK Medical Research Council
A pesquisa destaca o quanto pode ser difícil diagnosticar pessoas nessa condição, e como novas tecnologias podem ser capazes de ajudar.

Ela também abre novos caminhos para a comunicação com aqueles pacientes considerados perdidos para o mundo, e levanta questões éticas e filosóficas sobre a definição de consciência e como acessá-la.

Em minha visão, este artigo científico é uma descoberta da ciência cognitiva e da neurologia, e será a base para uma discussão mais aberta sobre o que realmente significa estar acordado, alerta, e humano," Diz Allan Ropper, um neurologista do Brighham and Women´s Hospital em Boston, que escreveu um comentário no artigo do NEJM.

Em 2006 Adrian Owen, um neurocientista do Medical Research Council (MRC) em Cambridge, Inglaterra, e colegas, publicaram uma surpreendente descoberta. Uma imagem de ressonância magnética funcional, uma medida indireta da atividade cerebral, revelou que um paciente que não apresentava sinais de sensibilização vários meses após um acidente de carro, podia responder mentalmente a uma complexa série de comandos quase da mesma maneira que uma pessoa saudável.

O novo estudo originado dessa pesquisa mostra que o caso anterior não era um incidente isolado, e que a imagem do cérebro pode atualmente ser usada para se comunicar com pacientes sem respostas.

Essas condições, chamadas de desordens da consciência, são frequentemente erradamente referidas como comas. Entretanto, comas duram tipicamente dias ou semanas. Depois disso os pacientes acordam ou passam a um estado vegetativo (no qual tais pessoas são totalmente inconscientes do ambiente) ou um estado mínimamente consciente (no qual eles podem ocasionalmente chorar ou rir, alcançar objetos, ou mesmo responder a simples questões). Pacientes são tipicamente diagnosticados ao lado do seu leito por meio de uma série de exames neurológicos que acessam o seu estado de consciência do seu ambiente.

No presente estudo, pacientes diagnosticados como vegetativos ou minimamente conscientes foram solicitados a imaginarem-se jogando tenis - uma tarefa motora - ou imaginarem-se caminhando pelas ruas de uma cidade que lhes fosse conhecida ou sua casa - uma tarefa espacial.  

 Em pessoas saudáveis, cada uma dessas tarefas ativa uma parte característica do cérebro, permitindo aos cientistas a partir do escaneamento do cérebro saber qual das situações a pessoa está visualizando.

A tarefa é também do ponto de vista cognitivo considerada complexa: O paciente deve compreender o comando, relembrá-lo durante o teste, e então realizar a vizualização.


Os pesquisadores encontraram cinco de 54 pacientes que presumia-se em estado vegetativo que foram capazes de intencionalmente controlar sua atividade cerebral, sugerindo que, embora raro, algumas pessoas com poucos ou nenhum sinal de sensibilização, tinha sinais mensuráveis de consciência.Todos aqueles cinco tinham sofrido danos cerebrais resultantes de trauma, mais do que privação de oxigênio, confirmando que esse grupo tem uma perspectiva mais promissora de recuperação.

A equipe foi além para mostrar que em um paciente, de 22 anos de idade tinha sido diagnosticado como em estado vegetativo depois de um acidente de carro cinco anos antes, dessa tarefa de imaginação ter sido utilizada para estabelecer a comunicação.

O paciente foi instruido para imaginar jogando tenis se a resposta a uma pergunta fosse sim, e imaginar em sua casa se a resposta fosse não. Ele foi capaz de responder cinco de seis questões, e respondeu todas elas corretamente. Os cientistas não souberam as respostas as perguntas antes do teste, confirmando-as depois com a mãe do paciente. Para a última pergunta, em lugar de que tivesse dado uma resposta incorreta, ele não mostrou nenhuma atividade cerebral.  Os pesquisadores dizem que ele pode ter adormecido, sofrido um lapso de consciência, ou escolhido não responder.


 "Este é um primeiro caso, mais pelo menos ele mostra que a tecnologia está desafiando os limites   dos exames clínicos realizados no leito," diz Steven Laureys, chefe do grupo de ciencia do coma na universidade de Liege, na Belgica, e um dos autores do paper. "Eu estou convencido que nós necessitamos adaptar nossos padrões de cuidados e as nossas estruturas éticas e legais para levar em conta esta nova tecnologia. Os pesquisadores não testaram os outro quatro pacientes que poderiam ter imaginação mental, principalmente devido a dificuldades de fazer os testes.

As descobertas abrem a possibilidade de que alguns desses pacientes possam ser capazes de participar de decisões a respeito dos seus próprios cuidados médicos, embora um certo número de questões cientificas, éticas e legais necessitarão ser discutidas antes de dar esse passo.

No recente experimento, por exemplo, cientistas não perguntaram ao paciente se ele sentia dor, em lugar disso fixando-se a questões factuais com respostas que eles pudessem depois confirmar. 

Antes de atacar importantes questões como a dor, tratamento, fim da vida, e daí por diante, há uma porção de coisas que nós devemos discutir na comunidade médica como um todo," diz Laureys.
Saber exatamente o quanto tais pacientes possam estar acordados, ainda não está claro. 
Pessoas em um mínimo estado de consciência tendem ter niveis flutuantes de consciênica, respondendo a simples questões ou comandos sem muita confiança.

E ao contrário de pacientes com "locked-in syndrome", na qual um específico tipo de "brain-stem stroke" deixa a pessoa profundamente paralizada mas amplamente intacta cognitivamente, essas pessoas tem claramente dano cerebral e provávelmente sofrem de severas deficiências. "Mesmo que elas possam dizer sim ou não a uma pergunta simples, se elas retém suficiente capacidade cognitiva para responder a mais complicadas questões, nós não sabemos." Diz Martin Monti, um  pesquisador em pós doutorado do MRC e o autor principal do paper.


Intrigantemente, antes do recente experimento, médicos especializados eram incapazes de estabelecer qualquer tipo de comunicação com o paciente de 22 anos. (alguns pacientes, por exemplo, podem piscar em resposta a sim ou não às perguntas.) "Isso deve significar que em algum lugar o seu sistema não pode produzir comportamento que se adeque ao seu nivel de funcionamento cognitivo." Diz Monti. "Ele claramente podia entender a fala, nos ouvir e imaginar coisas. Estes são todos comportamentos razoavelmente complicados.

Pesquisadores estão agora tentando desenvolver metodos alternativos de medição de atividade no cérebro desses pacientes. A MRI funcional é muito cara, leva muito tempo, e aspectos tecnicamente desafiantes devem permanecer durante o escaneamento, um problema para aqueles que não podem confiávelmente seguir orientações. Dispositivos de eletroencefalograma (EEG), os quais medem a atividade elétrica do cérebro via sensores na superfície do couro cabeludo, são mais baratos e mais portáveis que scaners MRI e estão atualmente sob estudos por Laureys e outros. Pesquisafores também apontam para o desenvolvimento de interfaces cognitivas do cérebro as quais permitirão os pacientes interegirem com o seu ambiente, similares aqueles sob desenvolvimento para pessoas severamente paralizadas.

"Eu penso que você verá que essas ferramentas serão desenvolvidas relativamente rápido, porque há um senso de urgência." Diz Nicholas Schiff, que está coordenando uma pesquisa similar na Weill Cornell Medical College, em Nova York. "Nós queremos saber o quanto confiavelmente elas podrão se comunicar, e se podemos dar a eles diferentes metodos para iniciar a comunicação.

Para conhecer o artigo na íntegra, visite: 
http://www.technologyreview.com/biomedicine/24475/

O Sexto Sentido.

Uma Volta ao Mundo, Dançando!