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quarta-feira, 14 de maio de 2008

O Presidente Negro.

Monteiro Lobato, criador do sítio do Pica Pau Amarelo, escreveu em 1926 o seu único romance para adultos, sob o título “O Choque das Raças”. Em 1946 ganhou o novo título de “O Presidente Negro” e, acaba de ser reeditado pela Editora Globo. Trata-se de uma narrativa de ficção científica, no ano 2228 nos Estados Unidos, palco de uma renhida luta política presidencial, que soa premonitória da atual disputa entre Hillary Clinton, Barack Obama e John Mc-Cain.
Os fatos de natureza premonitória são revelados na trama, por um aparelho científico denominado “Porviroscópio”, criado por uma das suas personagens, o doutor Benson:
“Dez anos antes começara a aparecer na cena americana um vulto de excepcional envergadura: Jim Roy, o negro de gênio. Tinha a figura atlética do senegalês dos nossos tempos, apesar da modificação craniana sofrida pela influência do meio.”
“Era Jim Roy na realidade um homem de imenso valor. Nascera fadado a altos destinos, com a marca dos condutores de povos impressa em todas as facetas da sua individualidade”.
O livro tem ainda dois outros aspectos bastante curiosos. O primeiro deles, ainda no campo da antecipação do futuro, está expresso nos seguintes trechos:
“A roda, que foi a maior invenção mecânica do homem e hoje domina soberana, terá seu fim. Voltará o homem andar a pé. O que se dará é o seguinte: o radiotransporte, tornará inútil o corre corre atual. Em vez de ir todos os dias para o escritório o empregado e voltar pendurado num bonde que desliza sobre barulhentas rodas de aço, fará ele o seu serviço em casa e o radiará para o escritório. Em suma, trabalhar-se – á a distância.”
“ - Já estive numa oficina de jornal e sei o que é isso. Puro inferno ...
- Pois toda essa complicação desapareceu. Cada colaborador do Remember radiava de sua casa, numa certa hora, o seu artigo, e imediatamente suas idéias surgiam impressas em caracteres luninosos na casa dos assinantes”.

O outro aspecto, revela a influência das idéias da eugenia sobre autor. A eugenia, teoria racista que pregava a pureza das raças, tinha a simpatia de muitos intelectuais brasileiros na década de 20. Essa concepção só começou a ser superada, nos anos 30, quando Gilberto Freyre publicou Casa-Grande & Senzala, onde defendia que “a cultura era mais importante do que a raça na formação das identidades dos povos”.

Voltando ao Monteiro Lobato, em um determinado momento, ao defender a segregação americana e criticar a miscigenação brasileira, o autor expressa-se assim, através de uma das suas personagens:

“A nossa solução foi medíocre. Estragou as duas raças fundindo-as. O negro perdeu as suas admiráveis qualidades físicas de selvagem e o branco sofreu a inevitável piora de caráter, conseqüente a todos os cruzamentos entre raças díspares”.

Quem ler o livro, haverá de se surpreender com a viabilidade de outros exercícios de futurologia bastante plausíveis, com as idéias racistas alí defendidas e sobretudo com o desfecho do Romance, por sinal bem ao gosto dos eugenistas.

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