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domingo, 19 de abril de 2015

Crescer e Acreditar - Ato II (2/4).



Também Salgueiro, o nosso professor de geometria descritiva, viria, muito tempo após o episódio envolvendo o padre Borges, a ser mais uma vítima dos birôs sobre estrados no nosso colégio.


Salgueiro era um excelente professor! Mas tinha em comum com o padre Borges o jeito de sentar e inclinar a cadeira, para se recostar na parede.

Quis o senso de observação, e a criatividade de algum "poltergeist", inventar algo que também viria a enfurecê-lo e, mais uma vez, todos terminariam por "pagar o pato".

Quando de volta à posição normal, o professor Salgueiro costumava tocar com as mãos no birô, que inevitavelmente sofria um empurrão para a frente!

Um dia, antes que ele entrasse para dar aula, o birô foi cuidadosamente afastado sobre o estrado, de maneira que seus pés dianteiros de cima dele caíssem ao menor empurrão, fazendo tombar o birô. 

Esse foi outro início de aula esperado com enorme expectativa, e outra vez, deu tudo muito certo! Foi uma alegria geral! Impossível não rirmos, nós que andávamos sempre em busca de diversão! 

Difícil era conter-se diante do pálido Salgueiro, que se refazendo do susto, disse algo que nos ajudaria a parar de rir. Ele disse: A posição  em pé, na sala de aula, é a que o professor escolhe para aplicar prova.

E mandando que alguém fosse buscar papel na secretaria, aplicou um desses exames que por não estar programado, pegaria a maioria despreparada.

Portanto, manter-se com a matéria em dia, teria no Nóbrega o significado de prevenir-se do revide preferido por parte dos professores, em caso de eventuais brincadeiras.

Gostaria que esses e os demais mestres aqui citados, caso venham a conhecer essas minhas lembranças, as vejam como uma carinhosa homenagem pelo que muitas vezes precisaram passar, a fim de contribuir tão bem para a nossa formação. 


Havia no Nóbrega um padre português extremamente nervoso, chamado "Irmão Barbosa", cuja função principal era ficar em sala, a tomar conta dos alunos que cumpriam castigo.

Perdia a paciência com facilidade, quando havia alguma tentativa de conversa de uns alunos com os outros. Atrapalhava-se ao pedir silêncio, repetindo sempre: acabem com o silêncio!

As tentativas de conversas viravam então risos abafados, enquanto ele aumentava o tom: já falei para acabarem com o silêncio!

O professor Paulo, de química, era químico. E para ele, os alunos olhavam com muita admiração e respeito. O motivo era que trazia no corpo marcas de uma explosão decorrente de uma experiência de laboratório mal sucedida. Sempre achei essa admiração que meus colegas a ele devotavam, decorrente de um fato que a tornava paradoxal!

Na realidade não havia um único professor que não trouxesse consigo uma marca, ou que não pudesse ainda hoje ser lembrado por algo de bom que fez, ou até mesmo por algum mal que deixou de fazer. 


Assim, outro de nossos memoráveis professores, o professor de Física, Câmera Lima, era alegre, brincalhão e provocador. Certa vez mandou que resolvêssemos em casa um problema em que propositalmente omitira um dado, sem o qual seria impossível solucioná-lo. 

Também durante as provas, para testar o grau de segurança e auto-confiança dos alunos, costumava alertar para que tivéssemos cuidado com as "cascas de banana" que pusera em algumas questões, as quais embora aparentemente simples, na verdade não eram. Um exemplo de um mal que de fato quase nunca ele fez. 

O professor Mário Cruz, de nacionalidade portuguesa, ensinava português. Lembro de quando dizia: se você quiser enfatizar a sua resposta dizendo não, para fazê-lo de forma contundente, repita três vezes: Não, não e não!

Lembro-me dele quando me oferecem sorvete, ou outras coisas de que gosto muito. Aproveito para dizer: Sim, sim, e sim!


A disciplina de música, era denominada Canto Orfeônico, e o professor chamava-se Isnard Mariano, mas tinha o apelido de Bolinha. Não sei ao certo se por ser gordinho, ou se porque em suas aulas faziam guerra de bolinhas de papel.

Fico feliz de jamais ter participado disso. Hoje, não me sentiria bem! Além de tudo, o professor Isnard era deficiente visual.

O Costa Cavalcanti, professor de matemática durante o curso ginasial, era irmão do então presidente da Hidroelétrica Itaipu Binacional. Era uma pessoa adorável! De uma boa fé que nunca esqueci. 

Adotava um livro de autoria do professor Ary Quintella, do qual prometia selecionar as questões de todas as provas. Presenciei, durante um dos exames, um aluno afirmar que determinada questão não havia sido tirada do livro texto, conforme prometido.

O professor Costa Cavalcanti, com muita calma, voz mansa, e sempre muito paciente, respondeu com naturalidade: tirei sim do livro, e essa questão encontra-se resolvida, à página tal. Quem estudou saberá fazê-la.

Essa indicação era tudo que o autor da pergunta e outros arredor esperavam, para iniciar suas ações dissimuladas em direção à "fila", usando para tal a consulta ao próprio livro na página que agora bem sabiam.

Outro importante professor de matemática, durante os anos de curso científico, foi o Airton Guedes Alcoforado. Grande professor, e muito exigente em sala, culminando com o que pedia nos exames.

Costumava dar aulas de terno de linho branco, em contraste com a batina tão preta do padre Borges. E se o padre Borges me afastou da medicina, o professor Airton, sem saber, me direcionou para a engenharia.

Há poucos anos, encontrei-o em um evento social. Embora ele não pudesse me reconhecer, fui até ele, me reapresentei, e tive o prazer de conversar um pouco. Por não perder o costume, foi que ao dele me despedir, respondeu-me de um modo que me soou muito familiar e me transportou ao passado.

Eu disse do prazer de tê-lo reencontrado. E a mim, ele respondeu: a recíproca é verdadeira!

Belo reencontro!

Continua no Ato III (3/4).

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