Na Região nordeste do Brasil, existe um rio muito importante cujo nome indígena era Opará, cujo significado é "rio-mar". O navegador Genovês Americo Vespúcio o descobriu em 04 de outubro de 1501 e a ele foi dado o nome do santo do dia. Assim ele passou a se chamar Rio São Francisco. A sua nascente fica no estado de Minas Gerais, e a foz entre os estados de Sergipe e Alagoas. Da nascente à foz ele tem a extensão de 2 830 km, o que o torna um dos rios de maior extensão totalmente em solo brasileiro. Há uma curiosidade em relação a ele, no tocante a que pela localização da sua nascente, na serra da Canastra, seria esperado que ele fluisse para o sul. É assim que acontece com os demais rios cujas nascentes estão naquela região. Afinal o solo ao norte está a uma altitude maior que o solo ao sul. O Rio São Francisco no entanto flui do sul para o norte! Isso ocorre por causa de uma falha geológica a qual criou uma fenda por onde o rio depois de fazer uma volta, segue por ela em direção ao nordeste. A sua declividade média é de apenas 8,8 cm/km. A Companhia Hidroelétrica do São Francisco - CHESF, fez o aproveitamento do seu potencial hidrélétrico que atualmente é responsável pelo suprimento de 95% da energia elétrica consumida pelos estados da região nordeste. Por muitos anos, a população ribeirinha beneficiou-se da água do rio para a sua subexistência. A importância do Rio São Francisco para a região é vital. Quem não a conhece, até que poderia apenas por esses comentários erroneamente deduzir que trata-se de uma região muito bem desenvolvida do ponto de vista social e economico, principalmente se souber da capacidade de geração das usinas hidreléticas do complexo de usinas instaladas no rio, a qual é superior aos 10 milhões de KW, e que aqui são cultivados produtos agrícolas para exportação e até são produzidos vinhos de boa qualidade. Além disso ainda pode-se dizer dessa região, que nela há água em abundância, tanto no seu sub-solo como em reservatórios de água espalhados pela região, mas que nunca até aqui foram executadas as obras estruturais que permitissem interligar através de adutoras os reservatórios, e transportá-la para locais distantes para atendimento da totalidade da população. Por esse motivo, em ocasiões de chuvas escassas, a seca terminava por matar as pessoas e os animais de fome e de sede, e por décadas provocou a migração dos seus habitantes para regiões mais desenvolvidas do país, em especial para São Paulo. Projetos existiram muitos, e obras que foram iniciadas e ficaram inacabadas, também. Em época de seca políticos inescrupulosos fornecem água para os seus eleitores em troca de votos, perpetuando-se assim em cargos públicos às custas da miséria alheia, a qual não é do seu interesse solucionar. A isso se chama de "A Indústria da Seca". Indiscutívelmente, a falta de educação do nosso povo aliada a má qualidade de uma quantidade maior do que a tolerável de políticos, é a principal responsável pela falta até aqui de soluções para os problemas crítidos dessa região chamada de semi- árido. A propósito, quando em viagem ao Rio de Janeiro ví pela primeira vez a favela da Rocinha, aquilo causou-me um grande espanto. Eu não fazia idéia de que ela fosse tão grande! Depois eu soube que um jornalista americano que foi levado até lá por um amigo brasileiro para conhecê-la, e diante do impacto que nele a favela causou, fez a mesma pergunta que a mim havia ocorrido quando me deparei com o gigantismo daquele desmando:
- Como foi que o governo deixou que chegasse a ficar desse tamanho?
Não sei qual foi a resposta, mas o importante é que eu, você, qualquer um com experiência mediana de como tem sido as coisas no nosso país, sabe muito bem como foi que as nossas autoridades deixaram que isso acontecesse. Eles estavam naturalmente cuidando de outras prioridades, já que o social certamente não se constituia em uma prioridade para eles. Estavam permitindo a especulação imobiliária, caçando comunistas, privatizando empresas lucrativas como a Vale do Rio Doce a prêços aviltados, e naturalmente fazendo outras coisas ainda menos republicanas. Dito nesse contexto eu só queria era ressaltar que a falta de solução para o chamado "problema do semi-árido" decorre dos mesmos motivos que resultaram hoje na existência de tantas favelas, narcotráfico, violência urbana e muitas outras mazelas. O motivo também está na incompetência, falta de seriedade e na desonestidade de gerações de políticos desde épocas bem anteriores a atual. O Rio São Francisco hoje, após décadas de descaso, teve as suas matas ciliares devastadas, em consequência sofreu assoreamento, perdeu navegabilidade, centenas de cidades todas sem saneamento despejaram seus esgotos dentro dele, indústrias que se estabeleceram nas suas proximidades poluíram e ainda poluem o rio lançando alí produtos tóxicos, os peixes morrem, e as pessoas que um dia se beneficiaram da água já não podem usá-la, porque estão poluídas. Nesse contexto o atual governo federal que começou em 01 de janeiro de 2002, diferenciando-se dos anteriores que nunca tiveram vontade política para enfrentar o problema, resolveu executar um projeto de transposição do Rio São Francisco, cujo custo é estimado em R$ 4,5 Bilhões (Há quem fale R$ 6,0 Bilhões), e que na opinião do Governo, beneficiará uma terça parte da população. Não será A resposta ao problema como um todo, mas a partir de 2010 quando concluida, trará desenvolvimento econômico para a região, que será finalmente colocada sob um foco debaixo do qual nunca esteve, possibilitando assim condições melhores para a execução de projetos complementares que virão contribuir para o real desenvolvimento da região. Quanto a questão da recuperação do Rio, com o replantio das matas ciliares, sua despoluição e outras obras necessárias inclusive na sua foz, a proposta do governo é a de que seja feita simultâneamente. Chama-se a esse conjunto de providências de "Revitalização do Rio". Tanto a Transposição do Rio como a sua "Revitalização" já foram iniciados. Por outro lado, o que poderia parecer algo formidávelmente bom e merecedor de aplausos, encontra fortes argumentos contrários. A princípio esses argumentos contrários poderiam parecer políticos, e provenientes de estados que não seriam diretamente beneficiados. Entretanto, não é bem assim. Tanto o Governo Federal quanto os que são contrários a transposição, possuem argumentos muito fortes, os quais precisam ser conhecidos e avaliados, por quem queira formar uma opinião consciente sobre o assunto. Embora ser contra a transposição possa parecer ser contra uma solução para os problemas da região, a princípio não é bem assim. Já ocorreram debates entre representantes do Governo Federal e das Associações Civis que são contrárias à transposição, e ambas as partes revelaram ter muitos pontos de concordância em relações a questão. Ser contra a transposição é defender que em lugar dessa solução seja adotada uma outra, defendida por técnicos profundamente conhecedores da região, e que defendem que a transposição do Rio é desnecessária. Eles tem uma solução alternativa mais barata, a qual defendem ser melhor para a região, porque atenderia melhor a população como um todo. Acusam o governo de desconsiderar os resultados de estudos científicos feitos ao longo de décadas, por técnicos de orgãos públicos ligados a região, que nem sequer foram ouvidos. Atribuem ao governo uma atitude autoritária que impôs o projeto inteiramente realizado por seus próprios técnicos, sem abrir a discussão de uma solução alternativa. Afirmam que o projeto do Governo foi feito para beneficiar as Empreiteiras e que não resolverá o problema dos que necessitam de água. O antagonismo entre Governo e Associações de Classe chegou a tal ponto, que por duas vezes um Bispo católico da cidade de Barra no estado da Bahia, contrário a transposição, fez greve de fome. Momentaneamente, se por um lado esse episódio chamou a atenção da opinião pública para a "queda de braço" que há muito vinha ocorrendo, por outro lado desviou temporáriamente a atenção da discussão sobre as razões do antagonismo, para um questionamento sobre a atitude do Bispo, que foi desde a consideração de aspectos teológicos até os psicanalíticos, tendo assim o próprio Freud ainda que de modo póstumo participado dessa discussão. Tenho procurado conhecer mais e mais sobre o assunto, tanto pela ótica do Governo como pela dos que são contrários à transposição. Penso que para formar uma opinião sobre qualquer questão, e principalmente sobre uma questão polêmica e ao mesmo tempo importante como esta, é preciso trazê-la para o plano racional, avaliando todos os argumentos, refletindo sobre eles, e com equilibrio deixá-los amadurecer para finalmente formar uma opinião. Pensei em trazer para cá, alguns elementos que nessa minha busca eu considerei importante, para ajudar a quem por isso se interessar, a entender a polêmica que tem havido sobre a questão, e quem sabe, isso possa vir a ser considerado para a formação da opinião de alguém, para a confirmação da posição de quem já a tem ou até mesmo para uma eventual mudança. O vídeo acima, da chamada "A Frente Cearense para uma Cultura da Água e Contra a Transposição do Rio São Francisco", é o primeiro de cinco que começarei a postar. Caso alguém queira logo vê-los de uma só vez, eles estão no Youtube. Vocês poderão acessá-los em : http://br.youtube.com/results?search_query=Transposi%C3%A7%C3%A3o+do+Rio+S%C3%3o+Francisco&search=Pesquisar. Concluindo existe algo que devemos sempre ter em conta, a partir do fundo de verdade que há no que disse certa vez um jornalista chamado Carlos Lacerda: "Os técnicos são fundamentais para o desenvolvimento do país, mas são muito perigosos quando fazem parte do governo, porque deixam de pensar nas soluções para aplaudir posições."
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segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Transposição: Sim ou Não?
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Um comentário:
Na minha opinião, houve precipitação do Governo Federal em iniciar está obra sem suficiênte debate público. A maioria das pessoas, quando informadas ainda não tem informações suficientes sobre a necessidade ou não dessa obra tão vultuosa,com gastos aburdos aos cofres públicos.Além do tamanho impacto ambiental que causará.
Para mim deveria ter havido informação mais consistente e plebicito com a opinião da população brasileira.
A mídia foi superficial em relação a atitude do padre e não houve uma discussão séria sobre a questão.
Ninguém procurou saber sobre o que aconteceu no Ceará, quando o Senhor Ciro Gomes fez a transposição das águas do açude de Oroz para Fortaleza, causando sofrimento a população ribierinha. Nem da enorme evaporação de água que se dava pelo caminho.
Temo pelo futuro do Rio São Francisco.
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