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quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

A Transposição do Rio São Francisco Explicada para Uma Criança - 2/2

Com um atraso de mais de cem anos, o governo atual, primeiro andou dizendo que essa terra onde estão os pobrezinhos que sofrem os "problemas da seca", precisava de uma solução. Disse, também, que esse problema já deveria ter sido resolvido. Disse que CHEGA! Tanto tempo, entra ano e sai ano, entra governo e sai governo, e "nunca ninguém fez nada". Diz então esse governo: "Qual o principal problema? Falta de dinheiro? Dinheiro o governo tem. O que precisa é vontade de fazer. Pois bem, vontade esse governo tem. Vamos fazer. Vamos de uma vez por todas resolver esse problema". Vai ser preciso muito cimento, muito ferro, muito tijolo, muita gente trabalhando, muito dinheiro para gastar. Depois de governar durante um mandato, que durou 4 anos, o governo se reelegeu para outro mandato. Assim é que no início desse segundo mandato, a construção da Transposição, começou a ser feita, prevista para terminar antes do final desse segundo mandato. Em que ponto estamos? No ponto em que estamos, é assim: de um lado, muitas pessoas estão felizes, principalmente porque a idéia já saiu do papel e já começaram a fazer! A rigor seriam mais 2 anos e meio até terminar. Mas de um outro lado, muitas pessoas estão muito infelizes, tristes e também zangadas, porque elas são contra a chamada transposição, ou mesmo integração. São contra o que o governo já começou a fazer. Antes que você pergunte, preciso logo ir dizendo que quase todos os "contra a transposição" não são contra os pobrezinhos. Pelo contrário, eles querem muito que os problemas deles sejam todos resolvidos. - Como eles podem ser a favor dos pobrezinhos, se querem desmanchar o que governo está fazendo? - Eles querem desmanchar o que o que está sendo feito, porque dizem não concordar com o jeito como o governo está fazendo, e que existe uma solução melhor e mais barata. Já que o carnaval está se aproximando, imagine só o tamanho da discussão! As pessoas que vão sair no mesmo bloco, não chegam a um acordo, na escolha da fantasia. uns querem sair de pierrot e outros de colombina. Se pelo menos a discordância fosse na escolha do pano, detalhe do modelo, mas o desacordo é geral. E o carnaval, chegando! (final do mandato) Você porém percebe uma coisa? Todos querem brincar o carnaval! - Pois bem, e o que dizem os que são a favor e os que são contra a transposição? Contra: O projeto do governo foi feito para beneficiar a quem tem dinheiro, pois são eles que vão ter acesso a terra e a água para funcionar suas fábricas e ganhar ainda mais dinheiro com os produtos agrícolas que vão produzir para vender. Em grande parte, exportar. A favor: A Transposição vai levar o desenvolvimento para onde hoje é só pobreza, e disso vão se beneficiar 12 milhões de pessoas. Um terço da população da região dos pobrezinhos. Quanto ao acesso à terra, os que defendem a Transposição dizem que o governo mandou reservar, para distribuir com os pobrezinhos, 2,5 km de cada lado dos 740 km de canais que vão ser construídos. Nenhum rico vai poder comprar essa terra, reservada para "a maior reforma agrária com água", que já se terá feito no Brasil. Contra: Antes de qualquer solução dessa natureza, o que é preciso é cuidar dos estragos que foram feitos no rio. Tirar a sujeira de dentro, replantar as matas das margens que lhe arrancaram, a areia que tornou o rio mais raso, fazer o saneamento das 536 cidades que jogam porcarias no rio. A favor: Isso tudo pode ser feito ao mesmo tempo. E até já começou a ser feito. Dizem mais que só foi possível começar a fazer a recuperação porque o dinheiro para isso veio junto da realização do projeto da Transposição. Contra: A solução da Transposição vai tirar água do rio, e isso vai fazer falta. Diminuirá a capacidade de geração das usinas da Chesf, companhia de energia elétrica que explora o potencial elétrico do Rio São Franciso. A favor: A quantidade de água que vai ser retirada é um tiquinho de nada, e o rio não vai nem sentir. Um dedal de água da que ele derrama no mar. A diminuição da capacidade de geração é desprezível face aos benefícios que vai trazer em troca. Além disso, o governo determinou uma subsidiária da própria Chesf para gerir a distribuição da água e assegurar a compatibilidade da utilização da água com as necessidades das usinas geradoras. Contra: Projetos semelhantes de transposição já foram feitos ao redor do mundo e não deram certo. Foram um desastre. A favor: Projetos semelhantes de transposição já foram feitos ao redor do mundo e deram certo. Foram um sucesso. Há exemplo de projeto de transposição feito no próprio Brasil, e que resolveu o problema de abastecimento de água de São Paulo! Os projetos que não deram certo, não têm as mesmas características do que está sendo feito, que por sinal dizem os que lhe são favoráveis, é muito do bom! Em geral os projetos de transposição retiram sempre mais do que 10% da água despejada pelo rio no mar, enquanto o que está sendo executado na bacia do Rio São Francisco retira apenas 1,4 %. Contra: O governo foi autoritário em tocar o projeto sem uma ampla discussão com a sociedade representada pelas suas associações de classe. Não levou em consideração a opinião de especialistas locais, profundos conhecedores da questão. "Jogou na lata do lixo, os estudos técnicos, científicos, acumulados ao longo de dezenas de anos." Na realidade o governo "empurrou de goela a baixo" o projeto que foi feito por seus próprios técnicos, e não abriu a discussão em relação à existência de outras alternativas, que viessem a atender realmente à maioria da população. A favor: Autoritária, e sem participação nenhuma da sociedade, foi a decisão que levou a transposição do rio Piracicaba, na década de 60. Ela foi decidida dentro de um gabinete em Brasília. A atual foi divulgada, debatida amplamente até mesmo nos estados não afetados diretamente, foram feitas 40 assembléias públicas e na fase posterior mais 60. O Vice-presidente da república percorreu vários estados, até mesmo Minas Gerais, reunindo representantes da sociedade em torno da questão. Contra: A Transposição é desnecessária e cara. Será um desastre no futuro, porque não resolverá o problema de quem precisa, e terá um custo operacional muito elevado, que será repassado para os estados da região. Será preciso gerar muita energia para elevar a água do ponto onde será coletada do rio para os lugares mais altos. Há uma solução melhor, e mais barata, que parte do princípio de que já que não há falta de água, o que precisa é distribuí-la adequadamente, o que a Transposição não vai fazer. A favor: A Transposição é a melhor solução, foi estudada por técnicos altamente capacitados, não precisa nem corrigir nada. Trata-se do projeto de transposição mais seguro já feito no mundo. Se não consegue resolver por sí só o problema como um todo, mas é um grande passo para projetos complementares, já que a questão dessa região foi trazida para o foco, e tenderá daqui para frente a receber maior atenção. Contra: O direito constitucional de tribos indígenas que serão afetadas foi desrespeitado, haverá impacto ambiental, isto é, vai alterar o modo original como estavam dispostas as terras, e muitos que alí moram terão que deixá-las. A favor: Os afetados serão todos indenizados na forma da lei, o impacto ambiental foi objeto de estudos pelo Ibama e os resultados amplamente divulgados. Todo o desenvolvimento da obra estará sob o acompanhamento e controle de orgãos competentes representantes da sociedade. Contra: A transposição vai permitir o cultivo pelas multinacionais de frutos que os nordestinos não vão nem ver, e outros produtos agrícolas que vão ser mandados "para alimentar os porcos da europa". Os moradores do lugar mais uma vez vão ser logrados, porque não serão atendidos na solução dos seus problemas. A favor: Os adultos dizem "Não se pode criminalizar o setor produtivo", para uma criança eu diria: papai do céu não acha errado haver fábricas, porque elas são responsáveis pelo desenvolvimento econômico. Isto é, vai ter emprego, as pessoas trabalharão nelas e ganharão salários, terão direito a assistência médica, um dia poderão se aposentar, os filhos terão escolas melhores, e todos vão poder comprar o que mais precisam, a isso se tem chamado desenvolvimento (econômico).
É mesmo a partir do conhecimento da briga de pensamentos, que alguém pode se informar sobre a questão, até terminar ficando mais amigo de um ou de outro jeito de pensar, ou construir o seu próprio modo de enxergar toda a questão. Cuidado porém que as vezes você pode encontrar quem "diz as palavras, mas não diz os pensamentos". Entretanto, em época de acesso a abundância de informações, só vai pela cabeça dos outros, quem quiser!

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