No restaurante por peso, dirigí-me ao caixa. À minha frente apenas uma senhora. Ela demorava a pagar, porque antes, ocupava-se de falar para a moça que a atendia, algumas coisas pertinentes ao momento eleitoral.
- Você não viu a manchete do jornal de hoje? Escândalo dos grandes, minha filha! Eu é que não vou votar numa mulher dessas...
E bradava em tom bem característico de parte da nossa direita tradicional. Aquele tipo de direita que terminou classificada de "raivosa", e a qual Chico Buarque certa vez, muito bem observou serem "raivosos até na alegria".
Ao preencher um cheque para pagamento, e não contendo as emoções, a senhora registrou sem querer seu descontrole, quando por engano, assinou DILMA. :-)))
Enquanto aborrecida rasgava o cheque preenchido indevidamente, ainda ouviu a caixa que a atendia dizer com tranqüilidade:
- Pois eu vou votar nela!
Em tom irônico a senhora irada, ainda bradou:
- Depois de tudo isso?
A caixa parecia não estar para muita conversa, e foi natural, calma e lacônica:
- Sim.
Senti uma vontade danada de dizer alguma coisa, e eu disse.
Meu comentário para as duas, foi assim:
- Que interessante! Estamos aqui três eleitores, e vejo que dois votarão na Dilma e, deduzo que um no Serra (eleitores de Marina não tem o perfil daquela senhora). É a mesma proporção que a de âmbito nacional! Afinal, segundo as pesquisas, Dilma Roussef poderá se eleger com o dobro dos votos de Serra.
A tal senhora, como se diz no popular, "picou a mula", indo purgar o seu dia aziago em outro lugar.
Enquanto a caixa me atendia, acrescentou o seguinte comentário:
- Ora! Se vou mudar meu voto, por causa do que dizem toda véspera de eleições! Tem sido sempre assim, e nem dá mais para acreditar...
Se admitirmos que vivemos em um microcosmo e que de certo modo ele pode nos fornecer indicações do que está acontecendo no macro, estaria certa a minha percepção de que mais uma vez, os esforços "midiáticos", desta vez a favor de José Serra, serão em vão.
A mídia que foi tão efetiva para eleger Collor em 1989, perdeu a sua eficácia, ao repetir tantas vezes a mesma estratégia, que já não convence uma população que me parece mais perspicaz.
Desta vez, mesmo que a mídia repita tudo o que um dia já fez contra Lula, incluindo a edição do debate final de modo a favorecer o seu candidato, aproveitar o sequestro de algum grande empresário em cujos sequestradores vistam camisas do PT, e acusações pessoais diversas sem as devidas comprovações, ainda assim, tudo indica que nem sequer conseguirão levar a decisão para o segundo turno.
Em todo caso, penso que é chegada a hora de uma discussão democrática, a respeito do papel que tem desempenhado esse tipo de mídia.
Podem os meios de comunicação que funcionam por concessão federal, e que deveriam prestar um serviço ao público, virar uma extensão de determinado partido político?
Disse Lula com muita propriedade em um discurso no comício de ontem, em Campinas, dirigindo-se aos jornalistas:
"A atuação da mídia é desonesta e golpista. Como foi em 54, como foi em 64, como foi em 89 e como vem sendo a cada eleição desde que a esquerda se viabilizou eleitoralmente. Sua falsa postura democrática vai por água abaixo quando vê seus interesses de classe ameaçados. A imprensa brasileira não faz jornalismo político. Ele atende aos interesses de seus donos. Que não se iludam de estarem fazendo jornalismo, porque o que fazem é contribuir com os interesses dos donos dos jornais e revistas para os quais trabalham".
Lula falou e disse. Mas na minha opinião, durante o seu governo, evitou de enfrentar esse grave problema.
A mídia de 54 é a mídia de 64, que é a mídia de 89, e que é a mídia de 2010. Será a mesma mídia em 2014, 2018 e 2020?
Enquanto isso, viva a Internet!
Comentários adicionais sobre essa questão, poderão ser lidos no blog "O Tijolaço" de Brizola Neto ( http://www.tijolaco.com/26740 ).
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