Apenas mais um Blog.

domingo, 21 de junho de 2009

Política Internacional.

21/06/2009

"Obama com certeza é europeu", diz historiador (entrevista com Garton Ash, parte 1)

Fonte:Der Spiegel
Em entrevista a Der Spiegel, o historiador de Oxford Timothy Garton Ash discute o fim dos social-democratas da Europa, as ameças à União Europeia representadas pelos nacionalistas populistas, a mudança iminente de governo no Reino Unido e a súbita inclinação dos EUA para a esquerda. A seguir, a primeira parte da conversa:

Spiegel: Professor Garton Ash, em meio à pior crise econômica desde a Grande Depressão, os eleitores rejeitaram os social-democratas e os socialistas nas eleições europeias. Isso não é paradoxal?
Timothy Garton Ash: Acho que há uma explicação para isso. Primeiro, parece que os eleitores sentem que os conservadores e os liberais são mais competentes no que diz respeito à política econômica. Segundo, estamos testemunhando um retorno ao nacionalismo como uma reação à grande crise. E quando isso acontece, os eleitores tendem a ir mais para a direita do que para a esquerda, em alguns casos bem para a direita.

Spiegel: Era de se imaginar que os esquerdistas, que criticam o capitalismo, seriam beneficiados com uma crise no capitalismo.
Garton Ash: Na essência, existem dois partidos social-democratas na Alemanha, assim como no Reino Unido - com algumas diferenças mínimas.
Os Conservadores de David Cameron estão usando a abordagem de Tony Blair (ex-primeiro-ministro), exceto no que diz respeito à política europeia. E não há uma diferença decisiva entre os democratas cristãos e os social-democratas na Alemanha, pelo menos não nos parâmetros do século passado.

Spiegel: Em outras palavras, faltam diferenças ideológicas, e somos todos social-democratas?
Garton Ash: Acho que sim. A questão não é o capitalismo como tal, mas sim que tipo de capitalismo funciona melhor em nosso país. E há também a questão da competência. Nossos governos estão se comportando cada vez mais como administradores. Depois de dez anos, os eleitores ficam insatisfeitos com a atual administração, e então surge uma nova.

Spiegel: A esquerda perdeu sua identidade por causa de políticos como Tony Blair e (o ex-chanceler alemão) Gerhard Schröder, que acreditavam no mercado livre e abandonaram os velhos princípios social-democratas. Não é esse o motivo da derrota deles por toda a Europa?
Garton Ash: Acho que não. Em cada caso, o eleitor está votando numa versão da democracia social- liberal europeia. Pode ser que um partido que defina a si mesmo como conservador seja capaz de proporcionar a melhor democracia social.

Spiegel: Pelo menos 15% do novo parlamento europeu será formado por extremistas de direita, partidos de protesto e partidos-piada. O que isso significa para o futuro da Europa?
Garton Ash: Se eu me lembro bem, Bertold Brecht disse: "O útero que gerou este fruto ainda está fértil". Estamos nos iludindo se acreditarmos que a tentação da xenofobia e do populismo nacional não existe mais, e não devemos nos surpreender ao ver essas forças revigoradas no curso de uma grande crise econômica. Precisamos fazer com que a economia social de mercado recupere a credibilidade como a principal solução para a classe média.

Spiegel: Como?
Garton Ash: Há dois principais desafios de política interna para a Uniao Europeia. Primeiro: gerar trabalho significativo para a maioria da sociedade. E segundo: a integração dos concidadãos de origem não europeia. Essas duas coisas são lados da mesma moeda. Afinal, o que dizem os populistas e xenófobos desde Latvia a Portugal, da Finlândia à Grécia? Eles estão dizendo: estamos indo mal, e a culpa é dos outros. Ambas as partes dessa sentença precisam ser abordadas politicamente.


Há acontecimentos semelhantes em todo lugar. Até agora, os conservadores da Inglaterra sempre conseguiram neutralizar a extrema-direita, assim como o CDU/CSU fez na Alemanha. Dessa vez, não só o PNB conquistou duas cadeiras, mas o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), antieuropeu, ganhou até mais votos do que o Partido Trabalhista. Isso sim é preocupante.

Spiegel: O sucesso dos extremistas de direita e a derrota da esquerda também indica um declínio da solidariedade entre os eleitores?
Garton Ash: A solidariedade é com certeza um valor europeu, mas nossa disposição de mostrar solidariedade também tem limites estreitos, especialmente em relação aos pobres, e mais ainda quando eles não são de origem europeia. Isso em parte se deve ao fato de termos desenvolvido Estados de bem-estar social difíceis de sustentar, especialmente num mundo competitivo. A integração dos imigrantes nos Estados Unidos é mais fácil, porque não há um Estado de bem-estar social lá.

Spiegel: Enquanto a Europa se inclina para a direita, os Estados Unidos, sob o governo de Obama, está descobrindo a economia social de mercado - e se inclinando para a esquerda.
Garton Ash: Logo eles serão mais europeus do que nós.

Spiegel: Como o senhor explica isso?
Garton Ash: Há seis anos, o manifesto de Jürgen Habermas e Jacques Derrida sobre a crise do Iraque comparava a Europa, com seus valores socialmente progressistas, aos Estados Unidos. Nesse sentido, no que diz respeito ao seu sistema de valores, Obama com certeza é europeu.
Isso acontece porque a classe média dos Estados Unidos experimentou em primeira mão a brutalidade e a injustiça da economia de mercado livre anglo-saxã sem nenhum controle - como no sistema de saúde, por exemplo.

Tradução: Eloise De Vylder


Muito interessante a parte inicial dessa entrevista! Não?
O que diria um bom especialista, em relação as tendências esperadas para o Brasil?
Penso que até mesmo um engenheiro :-)) , pode observar que há aspectos que foram objeto dos comentários do Dr Ash, que não se coadunam com a situação política do nosso país.
Primeiro que no Brasil os eleitores sentem que se a preferência for pelo nacionalismo, não é para "à direita", que devem se deslocar. Basta observar o ataque da oposição à Petrobrás, diante das perspectivas criadas para a empresa, com a exploração do pré-sal. Aprendí de dentro de uma grande empresa estatal, que os esforços pela sua privatização começam, pelas tentativas de sua desmoralização perante a sociedade.
Já em relação à política econômica, os conservadores e liberais perderam durante os longos anos que passaram no poder, de validarem esse conceito europeu, de deterem maior competência nas questões econômicas. Muito que pelo contrário!
Junte-se a tudo isso as peculiaridades da crise econômica no Brasil, que agora já arrefece, parecendo confirmar a sua pré anunciada feição de "marolinha".
Para onde apontam os indicadores?
Apontam para que Lula tem grandes chances de fazer o sucessor.
Será menos uma vitória da esquerda, pelas feições que tomou o seu governo, do que uma derrota da oposição mais grotesca que já ví.

Nenhum comentário:

O Sexto Sentido.

Uma Volta ao Mundo, Dançando!