Leonard Mlodinow, baseado na Teoria da Aleatoriedade, escreveu o interessante livro "O Andar do Bêbado".
Ele nos alerta para a influência do acaso nas nossas vidas, ao mostrar que entre as nossas ações e os seus resultados, há um grau muito maior de complexidade do que somos capazes de acreditar.
Isso dificulta a previsão dos resultados, como ficou demonstrado nos erros das pesquisas do primeiro turno.
Em matéria de futurologia, isso significa que podemos ir até o limite da nossa percepção, baseados nos fatores que acessamos consciente e até inconscientemente.
Isso jamais nos assegurará que estejamos certos, pela possibilidade de não estarmos considerando fatores importantes, capazes de influenciar decisivamente o resultado.
Estamos todos sujeitos ao imponderável.
Collor de Mello, ao terminar o seu governo em Alagoas, deixou o estado falido e os alagoanos beirando um ataque de nervos. Exceto os usineiros. Não lhe era então possível sequer sair às ruas!
Em carreata pela beira mar de Maceió, pessoas cantavam uma musiquinha composta para a ocasião:
Vai mas vai de uma vez.
O inferno é pouco
Para o que você fez.
Na sequência, ele foi eleito presidente da República!
Presenciei dezenas de pessoas afirmarem que nele votariam, até mesmo depois de conhecerem o alerta de Associações Psicanalíticas para o fato de que ele tinha o perfil de um Sociopata.
Lula governou oito anos, e o seu índice de aprovação ao final do segundo mandato chegou a 82%, e somente 4% se dizem infelizes com o seu governo.
A contrapartida ao fenômeno Collor seria, do meu ponto de vista, o fenômeno de Lula ser reprovado, com média 8,2! Que escola tão rigorosa é essa? A de um país habituado a grandes presidentes?
Para onde caminhamos? Caminhamos para que isso aconteça?
Leonard Mlodinow não ousaria responder.
A incerteza faz o governo e oposição viverem dias ansiosos e tensos. Está em jogo a política a ser aplicada na exploração do petróleo do pré-sal, e o sonho de, a médio prazo, o país se tornar livre da miséria e até da pobreza.
Está em jogo a continuidade de políticas sociais que beneficiaram direta ou indiretamente todos os que votaram nesse primeiro turno, e não só os 47 milhões que reconheceram. Está em jogo a política desenvolvimentista que fará o país crescer 7% este ano.
Apesar de tudo, há quem se posicione de modo frio e distante, como se para si não fizesse muita diferença quem vier a ser o candidato eleito! Como é possível não fazer diferença, se o Brasil vai ser afetado? Cuidado! "Geralmente quem está muito tranquilo, é porque está mal informado".
Considero que a eleição de Collor foi uma grande injustiça para o brasileiro que nele não votou.
Considero que a não eleição de Dilma, seria uma grande injustiça para Lula, considerando os excelentes governos que ele fez, e nos quais ela teve participação importante.
A não eleição de Dilma, interromperia um período áureo do país, inclusive em relação à sua política externa, para voltar ao velho alinhamento de complexo colonial com os Estados Unidos, e de isolamento dos demais países da própria America Latina.
Sob muitos aspectos, seria o retorno do país às mãos de quem não o soube dirigir, quando lhe foi dada a oportunidade.
Concluindo, diria que deixando de lado a Teoria da Aleatoriedade, sigo tomando emprestado a tranquilidade dos mal informados, com relação ao que revelarão as urnas no próximo dia 31.
Apesar de todo esse frenesi arredor, aposto em uma vitória de Dilma Rousseff, por margem mais folgada do que se poderia no momento admitir, face ao clima reinante.
Basearia o meu otimismo nos seguintes pontos:
O clima momentâneo, já superado, de desânimo dos seus eleitores não decorreu de nenhum fracasso nas urnas no primeiro turno. Ela recebeu 47 milhões de votos! A decepção foi por não ter ganho já no primeiro turno e o que isso iria significar face à previsível odiosa campanha adversária.
Acredita-se que bastaria que as pessoas que ao votar erraram involuntariamente tivessem acertado, e ela teria tido os 3 milhões de votos mais 1, necessários para vencer já no primeiro turno.
A propósito, esse é um aspecto curioso para o qual a colunista Denise Rothenburg do Jornal Diário de Pernambuco alertou hoje na sua coluna "Nas Entrelinhas".
Ela lembra o seguinte: "Em 1998, quando o ex-governador Joaquim Roriz, então do PMDB, foi candidato contra o então governador Cristovam Buarque , à época do PT, houve uma avalanche de críticas às pesquisas que indicaram uma pequena vantagem de Roriz. Por aqueles dias, os analistas disseram que o eleitor de Roriz não soube votar e que, por isso, ele tinha chegado atrás de Cristovam ao segundo turno. Quando as urnas da segunda fase foram abertas, Roriz foi vencedor. Seu eleitor, então, sem ter que votar para deputado distrital, federal e senador, se sentiu mais seguro. Ele saltou de 39% dos votos válidos obtidos no primeiro turno para 51% no segundo. Cristovam que terminou aquele primeiro turno com 42% dos votos válidos, à frente de Joaquim Roriz, chegou a 48%. O número de brancos e nulos naquele segundo turno no DF foi bem menor, o que corroborou a tese dos analistas."
Pois bem, tivemos no primeiro turno em todo o país, 9,6 milhões de votos brancos e nulos. Ambos os partidos reconhecem que parte desse total não foi intencional, e sim porque o eleitor atrapalhou-se na hora de votar.
Admite-se que parte considerável desses votos, que no nordeste são 3 milhões e no norte do país são 1,3 milhões, são de eleitores fiéis ao presidente Lula, e deverão aumentar os votos de Dilma Rousseff. A favor desse raciocínio está o fato de que só em três estados nordestinos haverá segundo turno. E isso tem deixado os Tucanos "alarmados".
Além do mais, históricamente, o candidato Tucano teve no primeiro turno os seus tradicionais 32%. Claro que as tradições podem ser quebradas. Falta entretanto a novidade que iria proporcionar a súbita elevação desse patamar.
Lula em 2002 avançou eleitoralmente depois da aliança com José de Alencar e da carta aberta à população. Além disso era o candidato de oposição ao governo de um presidente tão desgastado, que até hoje não costuma aparecer ao lado do seu candidato, para não lhe tirar votos.
O candidato José Serra vem com as mesmas alianças de sempre, enfrentar a candidata de um governo extremamente bem avaliado. Não é inteligível pres supor que será desta vez que ocorrerá o salto tão desejado por ele e por seus eleitores.
Quanto aos votos de Marina Silva, outra vez, ainda que o PV apóie o Tucano e Marina mantenha-se neutra, na confirmação de que o que une as pessoas não são as idéias e sim os interesses, esse votos se repartirão.
Antes de se repartirem, porém, é preciso admitir o que dizem os analistas, que consideram ser da ordem de 5% os votos de Marina que seguramente irão para Dilma Rousseff.
Nesses 5% estão os votos dos que nela votaram conscientemente, e cuja afinidade política maior é com a candidata Dilma. Ou, se preferirem, cuja afinidade política menor é com José Serra. Isso é significativo, para quem está muito perto de alcançar o percentual de 50%.
E, finalmente, o que dizer da campanha difamatória através da internet? Dos e-mails "safadinhos, covardezinhos", do papel parcial da mídia, dos manifestos de bispos católicos e dos ministros protestantes contra Dilma?
O mesmo que diria em relação ao papel da TFP, da Opus Dei, e outras aguerridas instituições. As correntes que assim procedem estão onde sempre estiveram, fazendo o que sempre fizeram.
Por trás de todos esses esforços desesperados estão, é claro, votos para Serra. Em todas eleições é assim! Serra teve 32 milhões de votos! Eles estão todos ali manifestados! Por sinal exercitando um direito de escolha de um Brasil democrático, pelo qual não lutaram. Pelo contrário.
Além disso, no interior das Igrejas católicas e protestantes ou evangélicas, existem MUITOS eleitores de Dilma Rousseff os quais nesse momento tentam um diálogo com aqueles que foram susceptíveis aos boatos e às maldades disseminadas através de internet. Isso poderá representar o retorno para a candidata Dilma de parte dos votos que no primeiro turno foram dados a Marina Silva.
Há contudo um indicador final que aponta para uma grande vitória de Dilma nesse segundo turno. O recado que veio das urnas, em todo o país, foi de apoio inegável ao governo Lula.
O povo o presenteou com a Câmara e o Senado dos seus sonhos. O PT tem agora uma bancada na Câmara maior do que a do PMDB. São 88 deputados do PT e 79 do PMDB. No Senado haverá, quando Dilma ganhar, 14 Senadores do PT e 20 do PMDB.
O PT foi o partido que mais cresceu em número de representantes na Câmara e no Senado. Isso não está em contradição com a ferrenha campanha que se faz contra o PT por parte da mídia?
Enquanto isso, Senadores inimigos, por fazerem oposição tão odiosa e radical quanto os e-mail que hoje circulam na net, não conseguiram se eleger. Até o Marco Maciel em Pernambuco, que não seria o caso de considerar um desses, não se reelegeu.
Ficaram de fora: Tasso Jereissate, Heráclito Fortes, Arthur Virgílio, Cesar Maia... Inimigos ferrenhos como Jarbas Vasconcellos, ex-governador de pernambuco, que não alcançou nem 15% de votos, contra 82% do seu adversário, Eduardo Campos.
Não acredito que isso tudo que foi expresso da vontade popular no primeiro turno, venha a ser desfeito logo mais, na votação de segundo turno.
Como seria possível depois dessa demonstração de vontade tão inequívoca, esses eleitores desejarem ter esses mesmos políticos nas urnas rejeitados, compondo um ministério de um hipotético governo Serra?
E quanto ao Leonard Mlodinow? O que diria ele sobre as minhas previsões?
Diria assim:
"Tudo acontecerá exatamente como você antecipou. Ou não!"
Diria, porém, Millor Fernandes que: "Pensar é livre pensar. É só pensar!"
Um comentário:
JJJ, ainda acho que os eleitores de Marina e que elegeram candidatos do PT ao Senado e Câmara, farão a diferença quando notarem que a opção correta é Dilma.
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