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domingo, 28 de setembro de 2008

Lula, O Iluminado.

Direi no final, porque postei o artigo a seguir:

Fonte: Revista Isto É de 24 de setembro de 2008.

O mundo discute o petróleo e os modelos energéticos alternativos. O Brasil tem as duas coisas: a perspectiva de se tornar um dos maiores produtores de petróleo do mundo graças às suas reservas de pré-sal e o domínio da produção e a tecnologia para o uso do etanol como combustível. E tem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que compreendeu a importância estratégica desses dois fatores. E que também exerce o papel de mediador da América do Sul perante os países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos, ofuscando o radicalismo de um Hugo Chávez. Esses foram os argumentos que a revista americana Esquire usou para escolher Lula, na sua edição deste mês, como uma das 75 personalidades mais influentes do mundo neste início de século XXI. A revista diz que Lula é o "Bill Clinton da América do Sul". Na sua definição do Esquire, o ex-presidente americano - que também integra a lista das 75 personalidades - é uma mistura de "agente da mudança" e "agitador". Na mesma semana em que apareceu na relação elaborada pela revista Esquire, Lula também foi personagem de um artigo do principal jornal francês, o Le Monde. Na quinta feira 18, o jornal chamou a atenção para o papel de Lula e do Brasil na solução da crise da Bolívia, durante reunião dos países da Unasul em Santiago do Chile. "Luiz Inácio Lula da Silva se comporta como líder regional. Ele tem as ferramentas para fechar um consenso e exercer uma influência mediadora aceitável dentro do subcontinente e no exterior, principalmente nos Estados Unidos", registra o Le Monde. A atuação de Lula como mediador, aliás, tinha sido ressaltada antes por diversos líderes que participaram da cúpula da Unasul no Chile.


Lula de fato vive um momento iluminado. Pesquisas do instituto Datafolha, divulgada no dia 12 de setembro, aponta que ele bateu seu próprio recorde de popularidade: nada menos que 64% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom. É, disparada, a melhor avaliação de um presidente desde a redemocratização do País, em 1985. E Lula surfa nessa popularidade. Nem seus adversários ousam criticá-lo. Em sabatina feita na quinta-feira 18 pelo jornal Folha de São Paulo, o candidato do DEM à prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab, classificou Lula, Fernando Henrique e o governador paulista José Serra como os três principais políticos brasileiros.


"Nada disso está longe de ser gratuito", observa o cientista político José Luciano Dias, da C.A.C. Consultoria, de Brasília. "Lula é um exemplo de como um líder de esquerda pode modernizar o seu discurso e abrir-se para o mundo sem perder a relevância", observa ele. Para Dias, a comparação que a revista Esquire fez entre ele e Clinton não é exagerada. "Clinton reciclou as idéias dos democratas para abarcar as teses liberais sem deixar de lado a necessidade de políticas sociais de inclusão. É o que faz Lula no Brasil: mantém um Banco Central independente, mas ao mesmo tempo acelera a inclusão social" avalia.


Para completar, do ponto de vista político, Lula agrega à sua base nada menos que 13 partidos, o que praticamente asfixia a oposição. "Não apenas por causa de Lula, mas também por conta de algumas cooptações feitas pelo PT, as oposições estão praticamente revogadas", constata o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).


Postei o artigo acima, porque:


Quando viví The Beatles, a chamada "Jovem Guarda", Chico Buarque de Holanda, e "A tropicália" , foi como se tudo aquilo fosse muito natural, e trouxesse consigo a característica da permanência ou da renovação constante, e sempre nos mesmos padrões. Logo eu percebí, o quanto tudo aquilo fora tão precioso quanto único, e irrepetível.


Talvez pudessemos tomar isso como um exemplo musical grosseiro, do que disse o filósofo grego Heráclito: "Não se pode atravessar o mesmo rio duas vezes".


É com essa compreensão que tenho reconhecido a excepcionalidade do momento atual do Brasil.


Muitos dos aspectos que no campo político o compõe, dificilmente se repetirão.


Espero contudo que tenhamos finalmente chegado àquele futuro ao qual sempre se disse que a ele o Brasil pertencia.


Existe um motivo pelo qual postei o artigo acima, publicado na Revista Isto É desta semana.


Ele tem a ver com a capacidade que adquirí, de reconhecer a excepcionalidade dos pequenos aos grandes fatos da vida.


É que poderá ser um caso único, o que as criancinhas desse país amanhã aprenderão. Houve um dia alguém no Brasil, que candidatou-se a presidente da República, várias vezes! Era imigrante de uma das regiões mais pobres do país, e não tinha diploma de curso superior. Cometia erros de português ao falar, e os achincalhes que recebeu enquanto tentava se eleger, não caberiam em poucos dicionários. Foi alvo impiedoso do preconceito de cidadãos comuns, e incomuns. Passando por barreiras de gradações intermediárias, em outro extremo, ele teve a oposição ferrenha da poderosa estrutura da mídia. Por trás dela a sempre poderosíssima elite econômica.


Certa vez, o então Presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Sr Mário Amato, anunciou: "Se ele ganhar, no dia seguinte milhares de empresários, deixarão o país." Amiúde se ouvia dizer que se eleito, ele "iria comer pelas mãos dos outros". Montaram-se contra ele ardís mentirosos e criminosos, em véspera de eleições com o objetivo de desacreditá-lo públicamente, e com isso influenciar a votação. Também apostava-se que se eleito, não conseguiria governar, por falta de apoio no Congresso. Arriscava-se também a dizer que se eleito, não chegaria ao final do mandato. Uma atriz de grande projeção nacional, externou "Tenho mêdo que o Lula seja eleito". Por último, quando elegeu-se presidente ao disputar pela quarta vez, ouví de alguém o comentário sobre o quanto haveria de se divertir, com os "absurdos, as gafes, e o despautério, que seria ter um presidente como esse".

Certo dia porém, no início do seu segundo mandato, eu estava em uma construção em andamento, e ao meu redor havia muitos trabalhadores da obra, a maioria pedreiros. Era sol a pino, e já se aproximava do meio dia, quando em meio a todo aquele suor e cansaço, passou por alí, manobrando em direção ao aeroporto, um avião comercial desses qualquer! Um dos trabalhadores olhou para cima, e disse para todo mundo ouvir: "Lá vai Lula".

Eu não sei se você já esteve nessa minha posição de observador! Ainda que não, será fácil você nela imaginar-se. Talvez você ainda não saiba onde eu quero chegar. Saberá num instante. Mas antes imagine-se no meu lugar, todos aquele trabalhadores arredor. Ouça o barulho daquele avião, e se possível o reflexo do sol que irradiando dele chega lhe ofuscar a vista, no sol de meio dia de um verão nordestino. Agora, você vê aquele trabalhador com o suor escorrendo pelo corpo, colocar de lado a sua pá, olhar para cima, e dizer a todos os pulmões:

- Lá vai Fernando Henrique!

O que você imagina que seus ouvidos ouviriam de todos os demais?

Pois bem, o que nunca pude esquecer, foi que após ouvirem "lá vai Lula" ficaram todos calados.

Há momentos, como esse, em que o "no comments" vale por mil pesquisas de opinião.

Seis anos se passaram, desde o início do seu governo.


Penso ainda no quadro humorístico que havia na TV, por sinal bastante criativo, no qual um General que entrara em coma durante a ditadura militar, "acorda" durante o regime democrático. As surpreendentes mudanças ocorridas no país enquanto ele esteve inconsciente, terminavam não só por levar todos ao riso, como a uma reflexão sobre os caminhos da vida.


Numa versão atualizada desse quadro, seria cabível a substituição do general por um civil, quem sabe um eleitor de inabalável convicção eleitoral anti-metalúrgica, que após 6 anos retorna de seu coma:


- O quê? Reservas superiores a US$ 200 bilhões? PIB crescendo a taxa de 6%? Taxa de desemprego de apenas 8,1%? Crescimento da atividade industrial de 9,1%? Entrada de capital de US$ 18,7 bilhões? Reservas monumentais de petróleo? Lula é o Presidente? Aquele?!!! Indice recorde de aprovação? Bateu o recorde dele mesmo? 64%? Conseguiu o apoio de 13 partidos? Oposição fragilizada? Sem bandeiras?

E antes de voltar ao coma:

"U.S.A. a beira da recessão?"

Certamente que assim como o cometa Halley, nada disso verei outra vez.

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