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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A Enfermaria entre a Vida e a Morte.


Fonte: Reportagem Especial da Revista Época - 14/08/2008 - Eliane Brum e Marcelo Min (Fotos).

Essa longa reportagem, com um rico toque de humanidade, chegou-me por e-mail. você poderá lê-la no site da própria revista, clicando no título acima.
Ela me reportou ao comentário que ouvi durante uma entrevista, concedida pela filha de um médico, já falecido, cujo nome no momento não recordo.

Ela falava sobre o seu pai, quando relembrou um comentário que ele costumava fazer, referindo-se à saúde pública no Brasil.

Ele dizia : “Atender bem, já seria uma revolução.”

Promover essa revolução entretanto é básicamente, uma questão de consciência.

Infelizmente, como dizia uma outra filha de pai ilustre, a filha do arquiteto Lúcio Costa:

“Meu pai era de uma época em que todos tinham a ver com tudo. Hoje ninguém tem a ver com nada.”

Até quando?

domingo, 28 de setembro de 2008

Lula, O Iluminado.

Direi no final, porque postei o artigo a seguir:

Fonte: Revista Isto É de 24 de setembro de 2008.

O mundo discute o petróleo e os modelos energéticos alternativos. O Brasil tem as duas coisas: a perspectiva de se tornar um dos maiores produtores de petróleo do mundo graças às suas reservas de pré-sal e o domínio da produção e a tecnologia para o uso do etanol como combustível. E tem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que compreendeu a importância estratégica desses dois fatores. E que também exerce o papel de mediador da América do Sul perante os países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos, ofuscando o radicalismo de um Hugo Chávez. Esses foram os argumentos que a revista americana Esquire usou para escolher Lula, na sua edição deste mês, como uma das 75 personalidades mais influentes do mundo neste início de século XXI. A revista diz que Lula é o "Bill Clinton da América do Sul". Na sua definição do Esquire, o ex-presidente americano - que também integra a lista das 75 personalidades - é uma mistura de "agente da mudança" e "agitador". Na mesma semana em que apareceu na relação elaborada pela revista Esquire, Lula também foi personagem de um artigo do principal jornal francês, o Le Monde. Na quinta feira 18, o jornal chamou a atenção para o papel de Lula e do Brasil na solução da crise da Bolívia, durante reunião dos países da Unasul em Santiago do Chile. "Luiz Inácio Lula da Silva se comporta como líder regional. Ele tem as ferramentas para fechar um consenso e exercer uma influência mediadora aceitável dentro do subcontinente e no exterior, principalmente nos Estados Unidos", registra o Le Monde. A atuação de Lula como mediador, aliás, tinha sido ressaltada antes por diversos líderes que participaram da cúpula da Unasul no Chile.


Lula de fato vive um momento iluminado. Pesquisas do instituto Datafolha, divulgada no dia 12 de setembro, aponta que ele bateu seu próprio recorde de popularidade: nada menos que 64% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom. É, disparada, a melhor avaliação de um presidente desde a redemocratização do País, em 1985. E Lula surfa nessa popularidade. Nem seus adversários ousam criticá-lo. Em sabatina feita na quinta-feira 18 pelo jornal Folha de São Paulo, o candidato do DEM à prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab, classificou Lula, Fernando Henrique e o governador paulista José Serra como os três principais políticos brasileiros.


"Nada disso está longe de ser gratuito", observa o cientista político José Luciano Dias, da C.A.C. Consultoria, de Brasília. "Lula é um exemplo de como um líder de esquerda pode modernizar o seu discurso e abrir-se para o mundo sem perder a relevância", observa ele. Para Dias, a comparação que a revista Esquire fez entre ele e Clinton não é exagerada. "Clinton reciclou as idéias dos democratas para abarcar as teses liberais sem deixar de lado a necessidade de políticas sociais de inclusão. É o que faz Lula no Brasil: mantém um Banco Central independente, mas ao mesmo tempo acelera a inclusão social" avalia.


Para completar, do ponto de vista político, Lula agrega à sua base nada menos que 13 partidos, o que praticamente asfixia a oposição. "Não apenas por causa de Lula, mas também por conta de algumas cooptações feitas pelo PT, as oposições estão praticamente revogadas", constata o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).


Postei o artigo acima, porque:


Quando viví The Beatles, a chamada "Jovem Guarda", Chico Buarque de Holanda, e "A tropicália" , foi como se tudo aquilo fosse muito natural, e trouxesse consigo a característica da permanência ou da renovação constante, e sempre nos mesmos padrões. Logo eu percebí, o quanto tudo aquilo fora tão precioso quanto único, e irrepetível.


Talvez pudessemos tomar isso como um exemplo musical grosseiro, do que disse o filósofo grego Heráclito: "Não se pode atravessar o mesmo rio duas vezes".


É com essa compreensão que tenho reconhecido a excepcionalidade do momento atual do Brasil.


Muitos dos aspectos que no campo político o compõe, dificilmente se repetirão.


Espero contudo que tenhamos finalmente chegado àquele futuro ao qual sempre se disse que a ele o Brasil pertencia.


Existe um motivo pelo qual postei o artigo acima, publicado na Revista Isto É desta semana.


Ele tem a ver com a capacidade que adquirí, de reconhecer a excepcionalidade dos pequenos aos grandes fatos da vida.


É que poderá ser um caso único, o que as criancinhas desse país amanhã aprenderão. Houve um dia alguém no Brasil, que candidatou-se a presidente da República, várias vezes! Era imigrante de uma das regiões mais pobres do país, e não tinha diploma de curso superior. Cometia erros de português ao falar, e os achincalhes que recebeu enquanto tentava se eleger, não caberiam em poucos dicionários. Foi alvo impiedoso do preconceito de cidadãos comuns, e incomuns. Passando por barreiras de gradações intermediárias, em outro extremo, ele teve a oposição ferrenha da poderosa estrutura da mídia. Por trás dela a sempre poderosíssima elite econômica.


Certa vez, o então Presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Sr Mário Amato, anunciou: "Se ele ganhar, no dia seguinte milhares de empresários, deixarão o país." Amiúde se ouvia dizer que se eleito, ele "iria comer pelas mãos dos outros". Montaram-se contra ele ardís mentirosos e criminosos, em véspera de eleições com o objetivo de desacreditá-lo públicamente, e com isso influenciar a votação. Também apostava-se que se eleito, não conseguiria governar, por falta de apoio no Congresso. Arriscava-se também a dizer que se eleito, não chegaria ao final do mandato. Uma atriz de grande projeção nacional, externou "Tenho mêdo que o Lula seja eleito". Por último, quando elegeu-se presidente ao disputar pela quarta vez, ouví de alguém o comentário sobre o quanto haveria de se divertir, com os "absurdos, as gafes, e o despautério, que seria ter um presidente como esse".

Certo dia porém, no início do seu segundo mandato, eu estava em uma construção em andamento, e ao meu redor havia muitos trabalhadores da obra, a maioria pedreiros. Era sol a pino, e já se aproximava do meio dia, quando em meio a todo aquele suor e cansaço, passou por alí, manobrando em direção ao aeroporto, um avião comercial desses qualquer! Um dos trabalhadores olhou para cima, e disse para todo mundo ouvir: "Lá vai Lula".

Eu não sei se você já esteve nessa minha posição de observador! Ainda que não, será fácil você nela imaginar-se. Talvez você ainda não saiba onde eu quero chegar. Saberá num instante. Mas antes imagine-se no meu lugar, todos aquele trabalhadores arredor. Ouça o barulho daquele avião, e se possível o reflexo do sol que irradiando dele chega lhe ofuscar a vista, no sol de meio dia de um verão nordestino. Agora, você vê aquele trabalhador com o suor escorrendo pelo corpo, colocar de lado a sua pá, olhar para cima, e dizer a todos os pulmões:

- Lá vai Fernando Henrique!

O que você imagina que seus ouvidos ouviriam de todos os demais?

Pois bem, o que nunca pude esquecer, foi que após ouvirem "lá vai Lula" ficaram todos calados.

Há momentos, como esse, em que o "no comments" vale por mil pesquisas de opinião.

Seis anos se passaram, desde o início do seu governo.


Penso ainda no quadro humorístico que havia na TV, por sinal bastante criativo, no qual um General que entrara em coma durante a ditadura militar, "acorda" durante o regime democrático. As surpreendentes mudanças ocorridas no país enquanto ele esteve inconsciente, terminavam não só por levar todos ao riso, como a uma reflexão sobre os caminhos da vida.


Numa versão atualizada desse quadro, seria cabível a substituição do general por um civil, quem sabe um eleitor de inabalável convicção eleitoral anti-metalúrgica, que após 6 anos retorna de seu coma:


- O quê? Reservas superiores a US$ 200 bilhões? PIB crescendo a taxa de 6%? Taxa de desemprego de apenas 8,1%? Crescimento da atividade industrial de 9,1%? Entrada de capital de US$ 18,7 bilhões? Reservas monumentais de petróleo? Lula é o Presidente? Aquele?!!! Indice recorde de aprovação? Bateu o recorde dele mesmo? 64%? Conseguiu o apoio de 13 partidos? Oposição fragilizada? Sem bandeiras?

E antes de voltar ao coma:

"U.S.A. a beira da recessão?"

Certamente que assim como o cometa Halley, nada disso verei outra vez.

sábado, 20 de setembro de 2008

Sobre Política, Políticos e Eleições - 03/03


O rato roeu o queijo do rei ...

Ainda sobre o mesmo tema, diz o filósofo Rubens Alves:


A democracia eu sempre a amei. Mas, de repente, relendo uma fábula antiga, tive iluminação zen: meu saber afetivo transformou-se em saber filosófico: sei agora as razões porque amo a democracia. E acho importante que você, leitor, saiba o que fiquei sabendo para que, a despeito de tudo, você continue a amar a democracia. Assim, passo a contar-lhe a mesma estória que eu contava à minha neta no momento quando a iluminação aconteceu.

* * * * * * * * * * *

Havia, outrora, num país distante, um rei que amava os queijos acima de quaisquer outros prazeres. O seu amor pelos queijos era tão grande que ele mandou vir, de todas as partes do mundo, os mais renomados especialistas em queijos, aos quais foram oferecidos recursos não só para continuar a fabricação dos queijos já conhecidos, como também para se dedicar à pesquisa de novos queijos, para assim alargar as fronteiras da ciência, da técnica e da gula.Ficaram famosos os queijos fabricados com leite de baleia e leite de unicórnio, estes últimos procuradíssimos pelas suas virtudes afrodisíacas. O palácio do rei era um enorme depósito de queijos de todas as qualidades, encontrando-se nele os queijos camembert, cheddar, edam, emmenthal, gorgonzola, gouda, limburger, parmesão, pecorino, provolone, sapsago, trapista, prato, minas, mozarela, ricota, entre outros.

O país tornou-se famoso e enriqueceu-se com a exportação de queijos. O seu cheiro atravessava os mares. Universidades foram criadas com objetivo de desenvolver a ciência dos queijos. Houve mesmo uma escola teológica que concluiu que o santo sacramento da eucaristia não foi primeiro celebrado com pão e vinho, mas com queijo e vinho, donde se originou o costume que perdura até hoje nas celebrações profanas.

Aconteceu, entretanto, que além do rei e do povo havia outros seres no reino que também gostavam de queijo: os ratos. Atraídos pelo cheiro que saía do palácio, mudaram-se para lá aos milhares e passaram, imediatamente, a banquetear-se com os queijos reais.

Os ratos comiam e se multiplicavam. Tomaram todos os lugares: armários, gavetas, canastras, camas, sofás, cozinha, cofres e até mesmo a barba do rei. O rei passou a ser morada de ratos.

Mas o pior de tudo era que os ratos, premidos por imperativos digestivos, tinham de expelir por uma extremidade o que haviam engolido pela outra, e à medida que andavam, espalhavam pelo palácio um rastro de minúsculos cocozinho, durinhos e malcheirosos.

Furioso, o rei chamou os seus ministros e perguntou-lhes:
- Que fazer para nos livrarmos dos ratos?
Eles responderam:
- É fácil, Majestade. Basta trazer os gatos.


O rei ficou felicíssimo com a idéia tão brilhante e mandou trazer uma centena de gatos, que encheram o palácio. À semelhança dos ratos, os gatos comiam tudo o que viam e, compelidos pelas mesmas exigências fisiológicas que moviam os roedores, cobriram os brilhantes pisos do palácio com seus cocôs fedorentos.

Furibundo, o rei chamou os seus ministros e perguntou-lhes:
- Que fazer para nos livrarmos dos gatos?
E eles responderam:
- É fácil, Majestade. Basta trazer os cachorros.
Vieram cachorros de todos os tipos, grandes e pequenos, curtos e compridos, lisos e pintados.

Os gatos, ao verem os cachorros, fugiram espavoridos. Foram-se os gatos. Ficaram os cachorros, que encheram o palácio. E a mesma estória se repetiu. Ao final, havia cocôs de cachorro por todos os lugares do palácio.

Apoplético, o rei chamou os seus ministros e perguntou-lhes:
- Que fazer para nos livrarmos dos cachorros?
E eles rresponderam:
- É fácil, Majestade. Basta trazer os leões.


Vieram os leões com suas jubas e urros. Os cachorros, ao verem os leões, fugiram em desabalada carreira. Foram-se os cachorros. Ficaram os leões. Mas os leões não só comiam cem vezes mais, como defecavam cem vezes mais que os minúsculos camundongos. O tesouro real entrou em crise. Baixaram as reservas de ouro. O dinheiro não chegava para pagar a carne que os leões comiam. E para pagar os catadores de cocôs que ameaçaram entrar em greve.


Desespeerado, o rei chamou os seus ministros e perguntou-lhes:
- Que fazer para nos livrarmos dos leões?
E eles responderam:
- É fácil, Majestade. Basta trazer os elefantes. Enormes, eles comiam montanhas e defecavam montanhas. O palácio transformou-se num enorme monte de bosta de elefante. E a fedentina encheu o reino e atravessou os mares.
Em depressão profunda, o rei chamou os seus ministros e perguntou-lhes com voz sumida:
- Que fazer para nos livrarmos dos elefantes?
Os ministros lembraram-se então, que os elefantes, que nada temem, estremecem de medo ao verem um rato. E responderam em coro:
- É fácil, Majestade. Basta trazer os ratos!


E assim foi feito. Voltaram os ratos. Foram-se os elefantes. O rei e todos os que moravam no palácio passaram sorridentemente a conviver com os ratos e os seus cocôs.

* * * * * * * * * *


E conclue o autor:

O dia chegará, quando minha neta tará crescido. Não mais lhe contarei estórias. Ela aprenderá sobre política. Quererá visitar o Congresso Nacional, símbolo da democracia. Notará, espantada, que os prédios estão cheios de cocôs de ratos. Me dirá, espantada:

- Vovô, deve haver muitos ratos por aqui!
Eu responderei:
- Sim, muitos ratos.
E ela me perguntará:
- Mas porque não trazem os gatos para acabar com os ratos?

Então lhe contarei de novo esta estória e lhe direi:
- Aprenda a grande lição da democracia:

é preferível cocô de rato à bosta de elefante.

Sobre Política, Políticos e Eleições - 02/03


O pastor, as ovelhas, os lobos e os tigres.
(Uma parábola de autoria de Rubens Alves.)
* * *
“Era uma vez um pastor que gostava muito das suas ovelhas. Gostava delas porque eram mansas e indefesas: não tinham garras, não tinham presas, não tinham chifres. Eram incapazes de atacar e incapazes de se defender. Mansamente elas se deixavam tosquiar. O pastor gostava tanto delas que prometeu defendê-las sempre de qualquer perigo. Como prova do seu amor, tornou-se vegetariano. Jamais mataria uma ovelha para comer. Como resultado de sua dieta de frutas e vegetais, o pastor era muito magro. Havia nas matas vizinhas lobos que também gostavam das ovelhas. Gostavam delas porque eram mansas e indefesas: não tinham garras, não tinham presas, não tinham chifres. Eram incapazes de atacar e incapazes de se defender. Mansamente se deixavam devorar. É: o gostar, freqüentemente, produz resultados diferentes. O gostar do pastor produzia cobertores de lã. O gostar dos lobos produzia churrascos. O pastor estava sempre atento para protejer suas ovelhas contra os ataques dos lobos. Levava um longo cajado nas mãos para golpear os lobos atrevidos que chegavam perto e um arco e flexas para ferir os prudentes que ficavam longe. Viviam assim o pastor, ovelhas e lobos, num delicado equilíbrio. A notícia das ovelhas chegou aos ouvidos de uns cães famintos e de umas hienas magras que moravam nas cercanias. Resolveram mudar-se para a floresta dos lobos para melhorar de vida. Parentes que eram, falavam a mesma língua e logo se entenderam. Organizaram-se, então, de forma racional, a fim de terem churrascos mais freqüentes. O cajado e as flexas do pastor se mostraram impotentes diante das novas táticas. Enquanto ele espantava os lobos que se aproximavam pelo sul, os cães e as hienas matavam as ovelhas que pastavam ao norte. O pastor concluiu que providências urgentes tinham de ser tomadas para a segurança das ovelhas. Pensou: “os lobos, os cães e as hienas atacam porque as ovelhas são indefesas. Se elas tiverem meios de se defender, eles não se atreverão. Preciso armar minhas ovelhas.” Mandou então fazer dentaduras com dentes afiados, chifres pontudos e garras de ferro, com que dotou suas mansas ovelhas. Os lobos e seus aliados, vendo as ovelhas assim armadas, riram-se da ingenuidade do pastor. O fato é que as ovelhas ficaram ainda mais indefesas do que eram, pois não sabiam usar as armas com que o pastor as dotara. Os churrascos ficaram ainda mais freqüentes. Com isso, lobos, hienas e cães engordaram. O pastor teve então uma outra idéia: “Vou contrataar guardas de segurança profissionais para proteger minhas ovelhas.” Os guardas teriam de ser mais fortes do que cães, hienas e lobos. “Tigres”, pensou o passtor. Mas logo teve medo. “Tigres são carnívoros. É possível que gostem de carne de ovelha.” Só se houvesse tigres vegetarianos. Soube então que um criador de tigres, com uso de técnicas psicológicas pavlovianas, havia conseguido transformar tigres carnívoros em tigres vegeterianos. Seus hábitos alimentares eram iguais aos das ovelhas. Nesse caso, não ofereciam perigo. O pastor então contratou os tigres vegetarianos como guardas das suas ovelhas. Os tigres, obedientes, começaram a guardar as ovelhas e diáriamente recebiam, como pagamento, uma farta ração de abóboras, nabos e cenouras. Os lobos, as hienas e os cães, vendo os tigres, ficaram com medo. Como medida de segurança passaram a caçar as ovelhas durante a noite. Os tigres, patrulhando a floresta, vez por outra encontravam os restos dos churrascos com que os lobos, hienas e cães haviam se banqueteado. Sentiram, pela primeira vez, o cheiro delicioso de carne de ovelha. Lambendo os restos, sentiram, pela primeira vez, o gosto bom do seu sangue. E perceberam que a carne de ovelha era muito mais gostosa que sua ração de abóboras, nabos e cenouras. Pensaram então: “Melhor que sermos empregados do pastor seria sermos aliados dos lobos, das hienas e dos cães.” E foi o que aconteceu. Tigres, lobos, hienas e cães tornaram-se sócios. Os lobos, as hienas e os cães tornaram-se atrevidos. Não atacavam mais durante a noite. Atacavam em pleno dia. Ouvindo os balidos das ovelhas, o pastor gritava pelos tigres. Mas eles não se mexiam. Faziam de conta que nada estava acontecendo. Mal sabia ele que os tigres, durante as noites, comiam churrasco com os lobos, com as hienas e com os cães. O pastor resolveu pôr ordem na casa. Chamou os tigres. Repreendeu-os. Ameaçou cortar sua ração, ameaçou despedi-los. Foi então, em meio ao sermão do pastor, que os tigres começaram a se perguntar uns aos outros: “Qual será o gosto da carne de um pastor?” E responderam: “É preciso experimentar!” Dada a resposta, o mais forte deles abriu uma boca enorme e emitiu um rugido horrendo, mostrando os dentes afiados. O pastor, olhando para a boca do tigre, viu então o que nunca imaginara ver: chumaços de lã entre os dentes do tigre. Num relance ele percebeu o destino que o aguardava: ser churrasco de tigre. E seu pensamento pensou depressa. O pastor já notara que os lobos, as hienas os cães e os tigres estavam gordos e felizes. Ele vegeteriano, defensor das ovelhas, estava cada vez mais magro. E assim, numa fração de segundo, ele compreendeu a realidade da vida. E, antes que o tigre o devorasse, ele propôs: “Façamos uma aliança ...” E desde esse dia, a fazenda, que se chamava Ovelha Feliz, passou a se chamar Ovelha Saborosa. O pastor, os tigres, os lobos, as hienas e os cães viveram felizes pelo resto dos seus dias, cada vez mais gordos, as bocas sempre lambuzadas com gordura de ovelha.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Sobre Política, Políticos e Eleições - 01/03

Ao aproximarem-se as eleições municipais desse ano, é inevitável uma reflexão não só sobre o momento atual de campanhas eleitorais, como sobre os políticos e a política de uma maneira geral.

Achei que um bom modo de fazê-lo seria recorrendo a alguns excelentes artigos que sobre os temas escreveu, o grande intelectual mineiro, Rubens Alves.


Rubens Alves é Pedagogo, poeta, filósofo, cronista do cotidiano, contador de estórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros para crianças e psicanalista.


Para ele,
"A política, dentre todas as vocações, é a mais
nobre". A política, dentre todas as profissões, é a
mais vil."


Diz ele em um artigo intitulado; "Sou obrigado a votar ..." :


"Era uma manhã luminosa e fresca. Pais, mães, crianças, namorados, velhos ... todos tiveram a mesma idéia: o parque. E o parque se encheu de alegria. Era uma felicidade geral ...


Mas de repente, uma coisa estranha aconteceu, parecia pesadelo, um cenário montado por Kafka. O parque se encheu de figuras bizarras, vindas não se sabe de onde; usavam máscaras, na maioria sorridentes, falavam todos ao mesmo tempo, gritavam, acusavam-se, ofendiam-se, montavam cenas de teatro, tentavam atrair um público, diziam todos a mesma coisa, haviam decorado o mesmo script, certamente eram artistas de algum teatro.


Alguns, dentre aqueles que haviam ido ao parque, vendo frustradas as suas esperanças de tranqüilidade, procuravam silêncio dentro de grutas. Inutilmente. Havia televisões e alto-falantes em todos os lugares. Não se conformando, foram se queixar aos guardas. Argumentaram que espetáculo bizarro, grotesco e barulhento como aquele não podia ser permitido. Os guardas não fizeram nada. Disseram que os artistas tinham permissão das autoridades.


Desesperados, resolveram voltar às suas casas, Mas os portões haviam sido fechados. E neles estava um aviso: "Os portões só serão abertos, depois que todos aplaudirem e pagarem o espetáculo. Os que se recusarem a aplaudir e a pagar serão severamente punidos."


E continua o autor:


Não é necessário explicar. É uma parábola da nossa situação política. Esforço-me para pensar com clareza. Freqüentemente consigo. Mas diante do espetáculo pré - eleitoral minha razão entra em colapso. Fogem-me as idéias coerentes. Invoco, em meu socorro, aqueles que pensaram racionalmente sobre a política: Platão, Aristóteles, santo Agostinho, Maquiavel, Tocqueville. Suas idéias são maravilhosas. Mas não me ajudam. O que acontece no Brasil está muito além da imaginação.


Nossa política não pode ser entendida com a cabeça de filósofo. Só pode ser entendida com a cabeça de bufão. George Orwell chegou a conclusão semelhante. Por isso, deixando de lado o discurso filosófico, adotou o estilo do humor. Escreveu o seu livro Animal Farm (em português apareceu como a revolução dos bichos). Todo o mundo deveria lê-lo para rir e para ficar mais sábio. A sabedoria só pode ser aprendida e dita com o riso. É a estória de uma fazenda em que a bicharada resolveu fazer uma revolução democrática contra o fazendeiro. Nada mais racional. Mas quem leu o livro se lembra do final: o cavalo, que fazia trabalho pesado, termina seus dias numa fábrica de mortadela, enquanto os gordos porcos, liderança política, assumem democráticamente o poder em alianças secretas com o fazendeiro deposto.


Minha vontade era sair do parque. Mas o portão estava fechado. Fui obrigado a participar da farsa. O que me deixou furioso: o ato de participação implicava em que desse o meu aval ao jogo. Mas eu sabia que os dados estavam viciados.


Relutantemente decidi-me, então, a entrar no jogo. Abandonei os filósofos. Vestí uma fantasia de bufão. Aconselhado por Ulisses, o herói grego, entupi os meus ouvidos com cera. Não queria escutar nada do que se falava. Na política não se pode acreditar no que se fala. Além disso, tomei a decisão de tornar-me analfabeto. Queria poupar-me do sofrimento de entender o que se escrevia. Esta era uma ocasião em que as palavras nada significavam.


A política não é o jogo da verdade. Na política o que importa não é ser. Política não se faz com a verdade. Política se faz com imagens. Gastou-se uma fortuna para corrigir o sorriso do Carter, quando este se candidatou à presidência dos States. Para a cabeça do eleitor um detalhe de um sorriso pesa mais que uma ideologia. Collor foi eleito porque, aos olhos do eleitorado, ele era mais bonito que Lula. A maioria dos pais queria ter filhos parecidos com o Collor e não com o Lula. O povo, essa unidade amorfa sobre a qual se assenta a democracia, não é racional.


Dentre todos os candidatos, um deles chamou a minha atenção pelo seu profundo conhecimento intuitivo da psicologia do eleitorado. Não colocou, nos outdoors que o anunciam, nem promessas nem fotografias coloridas. Colocou apenas, ao lado do seu número e do apelido diminutivo por que é conhecido, uma bola de futebol. Quadriculada em preto e branco. Ele sabe que a psicologia do eleitorado é a psicologia da torcida. A psicologia da torcida ignora idéias e ética. Por amor ao nosso time todos os crimes são permitidos e perdoados. "Vote em mim! Será um gol para o nosso time!"

- É isso que o outdoor do referido candidato está dizendo.

Será reeleito pela torcida.


Surdo a tudo o que dizem os candidatos, limito-me a observar as imagens. Aquele é o bufão-mor, ator consumado. Sabe representar todos os papéis. Na igreja católica faz sinal-da-cruz, em igreja evangélica levanta a mão e fecha os olhos, em candomblé, imagino, aceitaria ser cavalo de orixá. Sua ousadia não tem limites. Tocador de piano em horas vagas, em gestão anterior arranjou para que, num concerto para seis pianos e orquestra, ele fosse um dos seis pianistas ao lado de cinco consagrados pianistas brasileiros.


Um outro gostava de posar de pregador evangélico, com a Bíblia na mão. Candidato com a Bíblia na mão está dizendo: "tenho ligação direta com Deus." Exorcizo. Quem acredita ter ligação direta com Deus não precisa ter ligação com os homens. Se sei o que Deus deseja, por que perder meu tempo com aquilo que os homens desejam? Todo político que cita Deus é um ditador em potencial.


Um outro conquistou fama mundial extraordinária. Um jornal inglês, o Times, se não me engano, produziu um livro com as biografias das personalidades que moldaram o século XX: Einstein, Freud, Hitler, Fleming, Albert Schweitzer, Churchill, Kennedy - ao lado de muitos outros, em ordem alfabética. O livro foi trazido para o português. Aí algo inexplicável e extraordinário aconteceu. O nome do referido político apareceu milagrosamente no lugar daquele que lá se encontrava na edição inglesa, ocupando mais espaço que a biografia de Kennedy. Que santo terá operado tal milagre?


Os outros sobre os quais não tenho nenhum portento circence a relatar não me provocam entusiasmo. Fico indiferente. Não acredito. Votarei num deles, como autômato.


Imagine se você quer construir uma casa. Procura três firmas de arquitetura. Você diz o que você deseja e quais são os seus recursos. Elas preparam projetos. O Primeiro é lindo: você se entusiasma. Mas é caro demais. Faltam-lhe os recursos. A segunda empresa começa por lhe dizer quanto vai custar a obra. Você se alegra porque o projeto está dentro do seu orçamento. Mas, quando você vê o projeto, o seu entusiasmo se vai. É um horror. O terceiro não é grandioso como o primeiro, mas você gosta dele. E para ele você tem os recursos. Esse é o projeto que você escolhe.


Democracia deve ser assim. Os partidos são os construtores. Cada um deve apresentar um projeto da casa-país que se propõe a construir. A democracia começa quando o eleitor escolhe o projeto menos ruim. Acontece que eu não tenho idéia alguma do projeto inteiro. Algum político terá? O que prometem são maçanetas, janelas, fechaduras, telhados, pias, privadas. Nada me dizem da casa inteira nem de onde vão tirar os recursos para a construção. Todos prometem as mesmas coisas: segurança, estradas, indústrias, empregos, educação, saúde ... Mas ... qual é o projeto?


Não quero votar. Não quero dar o meu aval ao processo. Mas sou obrigado a votar. Será um voto triste, sem entusiasmo e sem esperanças de ver construída a casa-país com que sonho.


E então? Nada a ver ou tudo a ver?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ora Veja!

Vez ou outra remédios são recolhidos das prateleiras, quando declarados nocivos por orgãos reguladores. O mesmo não é tão simples de fazer, quando em lugar de um remédio, o produto é uma revista, apenas para citar um dos exemplos de mídia.

Assim como não tomo remédios condenados, não leio a revista Veja desde 1989.

Na ocasião ela iniciou uma campanha para colocar a sociedade contra as empresas estatais, a fim de favorecer os interêsses privativistas de então. Quem conhecia a realidade das empresas alvo e principalmente os que nelas trabalhavam, sentiram uma grande indignação.

A liberdade de imprensa assegura o direito aos donos da mídia, de defenderem livremente, as suas opiniões. Mas a ninguém é permitido falsear a verdade, caluniar pessoas, nem tentar distorcer fatos históricos.

Recentemente algo de grande relevância aconteceu, desses mais difíceis de se ver, do que pernas de cobra ou orelha de freira! A justiça condenou em última instância, um jornalista da Veja, chamado Diogo Mainard, a três meses de cadeia (sujeito a pagamento de fiança) e ao pagamento de multa de R$ 200 000,00 a quem ele caluniou públicamente - o também jornalista, Paulo Henrique Amorim.

A brandura da pena traz consigo o consolo de haver o réu perdido a generosa condição da qual ainda usufruía de ser primário. Pelo que se depreende que, se repetir a dose "vai mesmo para a cadeia".

O mais recente repúdio a esse tipo de jornalismo, foi publicado recentemente no Blog do Azenha ( www.viomundo.com.br ), o qual você poderá ler a seguir:

VIÚVA DE PAULO FREIRE ESCREVE CARTA DE REPÚDIO À REVISTA VEJA
Atualizado em 12 de setembro de 2008 às 10:46 Publicado em 12 de setembro de 2008 às 10:38, por CONCEIÇÃO LEMES.

Na edição de 20 de agosto a revista Veja publicou a reportagem O que estão ensinando a ele? De autoria de Monica Weinberg e Camila Pereira, ela foi baseada em pesquisa sobre qualidade do ensino no Brasil. Lá pelas tantas há o seguinte trecho:

"Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado".

Curiosamente, entre os especialistas consultados está o filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp. Ele é o autor de um artigo publicado na Folha, em 1990, cujo título é Ceausescu no Ibirapuera. Sem citar o Paulo Freire, ele fala do Paulo Freire. É uma tática de agredir sem assumir. Na época Paulo, era secretário de Educação da prefeita Luiza Erundina.

Diante disso a viúva de Paulo Freire, Nita, escreveu a seguinte carta de repúdio:

"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.

Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.

A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.

Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do “filósofo” e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.

Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.

Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu “Norte” e “Bíblia”, esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.

Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!

São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire".
Você gostará de visitar o Blog WordPress.com (Para Visitá-lo clicar no título "Ora Veja!"), e assistir ao vídeo sob o título: "Paulo Freire e a Direita". Embora eu não goste de assistir ninguém espinafrando ninguém, vale a pena ouvir o comentário indignado e pouco contido do filósofo Paulista Paulo Ghiraldelli Jr. Trata-se de vê-lo pelo conteúdo. É sobre uma outra matéria dessa mesma revista, também sobre a educação, de autoria de Gustavo Loschpe.
Encontre o vídeo clicando na palavra "more".

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

"Lugarzinho Longe de Tudo ..."

Mapa do Livro "Os Feitosas e os Inhamuns" de Billy Jaynes Chandler.

Recebí por e-mail o texto abaixo transcrito. Desconheço a sua origem e portanto a sua veracidade. Mas que tal conhecê-lo?

Um país que não prestigia seus talentos
não vai chegar a lugar algum, não terá futuro.



Pois veja só mais essa e saiba que não é só no futebol que exportamos talentos:
A Coca-Cola levou 25 anos em intrincadas pesquisas secretas para desenvolver a Coca Zero, hoje um tremendo prodígio em vendas. O maior sucesso da empresa em 40 anos!
Mas e o que o sucesso de uma das maiores multinacionais do mundo tem a ver com o pobre Brasil desperdiçar talentos?
Voce sabia? o pesquisador master do projeto Coca Zero, o cérebro por trás do sucesso, um cara super valorizado e comemorado pelos súditos de Mister Bush é um tal de doctor Silva. Só pode ser brasileiro com esse nome né? e se eu lhe disser que o primeiro nome dele é Raimundo? e nordestino, bichim!
Pois é, o cara atende por doctor Raimundo Alves da Silva, nascido no sertão seco e sofrido do Ceará! Vale a pena conhecer sua incrível história que aqui resumo, com alguns floreios, confesso, de uma entrevista dele numa revista americana:
A cidade natal de nosso doutor Raimundo é uma tal de Arneiroz (Arnei o que? quem ouviu falar?). Ela fica no alto sertão cearense, conhecido lá como região dos Inhamuns, 400 km ao sudoeste da capital Fortaleza. Lugarzinho longe de tudo, um poeiral danado e de muita miséria. Quando ele nasceu, há 45 anos, Arneiroz tinha só 6 anos que havia se emancipado do município de Tauá (importantíssimo saber, um pouco de cultura pros brô!). Não tinha quase nada em Arneiroz da civilização tecnológica. Coca-Cola só tinha em Tauá!
A família Silva morava na zona rural, em um sítiozinho distante da cidade (ou era vila?), de colégio, posto de saúde e tudo o mais. Na casinha da família não havia nem luz, água encanada, piso, nem fogão!
O pai de nosso gênio de cabeça chata se mandou de lá fugindo da seca para São Paulo (sempre Sampa, meu!). Somente depois de algum tempo e de arranjar emprego numa obra (depois, melhor de vida foi porteiro) e conseguir um barraco, trouxe a mulher (com o maior barrigão, claro) e mais cinco filhos. O da barriga morreu no caminho e o Raimundim, seu nome familiar, era o mais novo, o caçula. Portanto o nosso herói aqui foi um pau de arara!
Quando chegou em Sampa, com seis anos, ele já era meio assim auto-didata. Praticamente se alfabetizara sozinho, já que pouco conseguia ir à escola no sertão, porque ficava muito longe de casa e o 'fusca' da família, um jumento, morrera de fome e sede na seca. A mãe era analfabeta e o pai quase, mas mesmo assim, naquele tempo, cuidava só da roça, da sobrevivência, não tinha tempo para ensinar os moleques barrigudinhos (de verme).
'Raimundim', 'caba da peste', teve que trabalhar e estudar ao mesmo tempo desde criança... um sacrifício danado!
Ele, na entrevista, cita agradecido ao pai, pobre mas trabalhador e dedicado à família e que em São Paulo fez muitos sacrifícios para que nosso dedicado Raimundim estudasse e se formasse (como ele diz: 'e virasse gente'). Esforçado, persistente, 'inteligente da gota', dedicado ao extremo e outros adjetivos mais, ele conseguiu passar no vestibular para a Química da USP e a partir daí decolou!
Após graduar-se, conquistou uma bolsa de uma ONG para pós-graduação em Campinas, depois outra para mestrado, seguida de doutorado no famoso Massachusetts Institute of Technology, nos States.
Aí os gringos conheceram o 'danadim'! Viram logo que ele era uma mina. Claro que não deixaram mais o doctor Silva voltar para a terra dos impostos altos com baixa qualidade de serviços públicos, ensino de m., saúde de b., políticos f.d.p. corruptos. Foi contratado pela Coca em Atlanta e lá fez uma ascendente e brilhante carreira. É hoje um nome tremendamente respeitado e valorizado no meio acadêmico, tecnológico e científico dos Estados Unidos. É o cara!
É uma história bonita, de sucesso e digna de exemplo a desse cearense danado da molesta!.
Quando beber uma Coca Zero, lembre-se que seu alquimista inventor foi um brasileiro, nascido bem pobre, fugido da seca, que venceu por esforço próprio.


Essa história é de fato curiosa, embora em nosso país aos poucos vá deixando se ser surpreendente, porque não é mais tão inusitada. A propósito há quem identifique entre as pessoas do povo, uma melhoria da sua auto-estima, ao acompanharem casos de sucesso pessoal como esse, ainda que conseguido às duras penas e, em certos casos após repetidas tentativas. :-)

O que primeiro me ocorreu comentar ao ler o texto acima transcrito, deixando de lado o jeito preconceituoso da sua escrita, foi sobre o natural desconhecimento que o seu autor revela, sobre Arneiroz. É interessante o quanto o desconhecido para uns, pode ser tão conhecido para outros, e até literalmente familiar!

“...uma tal de Arneiroz (Arnei o que? quem ouviu falar?)”

Ora! Admitindo o bom uso da tecnologia da informação, nos dias atuais só não conhece Arneiroz, quem não quizer!
Afinal, quem entre nós já ouviu falar em Qingping, jinhua e Tianchi?
Eu já, e você também depois de ler o que vou contar sobre elas.

São três povoados do sudoeste da China, localizados nas montanhas, onde cerca de 20 000 pessoas ficaram isoladas após o terremoto ocorrido em maio deste ano, causando gande preocupação às autoridades chinesas.

E quanto a Qunu? Quantos entre nós já ouviram falar de Qunu?
Nelson Madela, sim.
Qunu é uma pequena vila rural na Africa do Sul, na província de cabo oriental, onde ele nasceu e possui uma casa para usar sempre que visita a vila.

Você já ouviu falar dos municípios de Cerquilho, Cesário Lange ou Porangaba? São três dos nove municípios do interior paulista da micro região de Tatuí. Um desses nove municípios por sinal, chama-se Tatuí. Essa micro região, pertence a mesoregião de Itapetinguga. São localidades de excelente desenvolvimento social, com índices de desenvolvimento humano (IDH) acima de 0,77. Informacões sobre sua história, geografia, economia, coordenadas geográficas e até o nome do prefeito, estão disponíveis no Wikipedia, para que ninguém fique espantado por nunca ter ouvido falar desses lugares. Foi após uma breve consulta através do Google, que fiquei sabendo.

O ponto principal de tudo isso é que nenhum lugar deveria ser menosprezado apenas por ignorarmos a sua existência. os lugares são importantes não apenas pelo seu grau de desenvolvimento econômico, mas também porque são habitados.

E já que o assunto é Arneiroz, as informacões disponíveis no Wikipedia, dão conta do seguinte:

Toponímia:
Arneiroz significa terreno estéril ou arenoso. O termo – que dá nome ao povoado, à vila e ao município – é proveniente da denominação de uma antiga freguesia de Portugal.

História:
Consta como sendo um dos mais antigos redutos dos Altos Sertões Provinciais. Suas tradições
indígenas, guerras de extermínio, batalhas emancipacionistas e constantes lutas pessoais em busca dos meios da própria de sobrevivência dos seus moradores atestam o quanto de esforços têm sido empreendidos ao longo de sua caminhada histórica. Inicialmente e ainda no limiar do Século XVIII, lançam-se as suas primeiras raízes sociais, tendo como ponto de partida o realdeamento dos agressivos Índios Jucás (1727). Dessa concentração íncola decorrem escaramuças várias, envolvendo famílias em locais diversificados, dentre estas os respeitáveis clãs do tronco Feitosa e Leal.

Pois é, gente! Feitosa é a família da qual se originaram os Jucás.

Não os índios! E sim nós outros, que levamos esse sobrenome.

Por isso nem precisei lançar mão da tecnologia, para saber sobre Arneiroz.

Através de um meu primo e amigo, residente em Cuiabá em Mato Grosso, Pedro Rocha Jucá, autor do livro "Os Jucás dos Inhamuns”, eu já sabia de tudo isso, inclusive o por quê de algo que ouvia de meu pai, quando ele dizia: "Jucás e Feitosas são todos uma mesma família". Isso porém já é uma outra história.

Mas, e o que comentar sobre o "Raimundim"?

Quanto a existência real do Dr Raimundo, espero que ele de fato exista, que a sua história seja autêntica e, que tenha acontecido do jeito que acima foi contada, para a ela ser conferido o seu devido valor.

Para mim não é surpreendente que pessoas especiais tenham nascido em lugares “desconhecidos”.
Primeiro, elas teriam que nascer em algum lugar! Depois, seria inusitado e até mesmo assustador que aquelas almas fadadas ao sucesso, viessem a escolher “Sampa”, Atlanta, Paris ou outra grande metrópole qualquer.

Freud nasceu mesmo em Freiberg. Mandela em Qunu. Lenin em Simbirsk – atual Ulbanovsk e, o nosso atual presidente da república em Caetés, município de Garanhuns, interior do estado de Pernambuco.

Em todo caso, antes de acreditar piamente em qualquer informação que nos chega através da net, convém averiguar. Não estou duvidando que “Raimundim” seja mesmo Arneirosence.

É que certa vez fiquei sabendo com espanto, que a famosa linha de perfumes franceses conhecida por Madame Rochas, havia sido criação de um cearense chamado Mauricio Rocha, cuja história de sucesso europeu culminou com a criação dessa marca famosa.

Caso você consulte o Wikipedia porém, encontrará que a marca vem de Marcel Rochas, renomado estilista francês, nascido em Paris no ano de 1909 e que faleceu em 1955. Quatro anos após o seu falecimento, em 1959, sob a direcão da sua mulher Hèléne Rochas, surgia a linha de perfumes Madame Rochas. Faz todo o sentido!

As informações que circularam porém davam conta, que M. Rochas era de Maurício Rocha, cearence, só não sei se também de Arneiroz! :-)

Não vai aqui contudo nenhuma crítica a divulgação de fatos, que ainda que não verossímeis, não trazem prejuízo a ninguém. Eles contudo deveriam servir de alerta a que em se tratando de questões relevantes, é preciso antes não somente conhecer a fonte, mas sobretudo saber se ela é MESMO confiável.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Menos Que Dois Trens se Chocando ? (Clique Aqui Para Mais ...)

O maior laboratório de física do mundo está em Genebra, no Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN). É lá que está previsto para amanhã, dia 10 de setembro de 2008, o início da maior experiência física das últimas décadas.


Dois átomos irão se chocar em alta velocidade, e o estudo das suas consequências deverá permitir uma melhor compreensão de como a vida foi criada.


O projeto, concebido faz 30 anos, resultou em sua fase inicial, na construção de um túnel gigantesco que custou cerca de 8 bilhões de dólares, onde o acelerador de partículas foi instalado. O túnel está situado entre Genebra e Cessy (na França) e o custo geral do projeto é de 6,4 bilhões de euros.


Às vésperas do experimento, esperado ansiosamente há 19 anos, e sem que nada de novo ao projeto houvesse sido acrescentado, dois físicos chamados Walter Wagner e Luis Sancho, abriram um processo em corte do Havaí, contra a realização da experiência.


Eles alegam que a experiência envolve o risco de produzir buracos negros que terminariam por engolir o laboratório, e o resto da terra. Sem dúvida um excelente argumento, porque de interêsse geral. Se levado a sério, poderia paralizar campanhas eleitorais importantes, e adiar consultas a dentistas.


Ainda que sem ter informações aprofundadas sobre a questão, isso primeiro me reporta à época em que navegadores enfrentaram o medo de terríveis dragões marinhos e, naturalmente o pavor de alcançarem o ponto longíncuo onde o abismo os engoliria. Afinal, a terra para eles era plana.


Em todo caso, a física quântica é de natureza aleatória e os seus fenômenos probabilísticos. Os opositores da experiência alegam: "Há uma probabilidade minúscula, do grande colisor de Hádrons criar dragões que nos possam devorar".


Tentando encontrar um motivo que embasasse a preocupação dos autores do processo, lembrei-me de uma entrevista à Der Spiegel, de um destacado físico quântico Inglês. Na ocasião ele disse ao seu entrevistador: "Se enquanto conversamos, um dinossauro puser a cabeça naquela janela, isso não me surpreenderia. O fato desse animal ter vivido há milhões de anos, não encontra impedimento nas leis da física quântica, para que ele possa a qualquer momento, reaparecer, entre nós".


Prosseguindo o cientista tranquilizou a todos explicando que embora possível de acontecer, a probabilidade é mínima, para que esperemos por isso!


Sabe-se que Walter e Luis, embora não sejam físicos praticantes, tiveram a sua opinião considerada por importantes físicos praticantes, daí porque pode haver no que disseram, algo de plausível, ou não tão fantasioso quanto a primeira vista possa parecer.


Outra vez pensando probabilísticamente, seriam as chances catastróficas de probabilidade tão pequenas que inútil será contar com isso? Ou seria a probabilidade de algo dar errado rigorosamente zero? Para você isso faz diferênça?


Resta então a você decidir, se autorizaria ou não a experiência.


Um pouco mais e saberemos quem tinha a razão. Ou como diria Caetano Veloso: "Ou Não."

domingo, 7 de setembro de 2008

Na Reta Final.

Acompanhar de perto o desenrolar da campanha presidencial americana, ainda que somente durante um mês, ouvir o que dizem os candidatos e perceber de perto o desenrolar das suas estratégias, termina por acrescentar novas impressões àquelas formadas à distância.
Se a alguém fosse pago um único dollar por cada vez que na tv fosse pronunciado o nome de Barack Obama, eis que nos dias que lá passei, certamente eu teria visto surgir um novo milionário.
Bem abaixo do desejável por quem tenha pretensões de ganhar dinheiro, ficariam os que auferissem lucros, na proporção das vezes em que igual menção fosse feita ao Mc Cain.

Entre radialistas republicanos, que ainda hoje continuam a defender a política de Bush com relação ao Iraque, que são contrários a uma possível anistia para os imigranates ilegais e que querem a exploração de petróleo em plataformas marítimas em reservas defendidas pelos ambientalistas, o comum é choromingar.


Defendem o políticamente indefensável, até se virem meio que enroscados nos próprios argumentos. Acusam a mídia de estar “in love” com Barack Obama, e nisso tem toda razão.
Apontam por exemplo, o destaque dado a visita de Obama ao Oriente Médio e à Europa como extraordinário, quando comparado ao que teve McCain quando lá também esteve um pouco antes.

A estratégia de marketing do McCain, resolveu admitir a realidade, e chegou a mostrar Obama falando na alemanha para uma multidão entusiasmada, admitindo-o uma celebridade internacional. Por outro lado, ainda assim, questiona se ele estaria preparado para liderar o país. Foi nesse contexto que Mc Cain o comparou a Britney Spears e a Paris Hilton, dando margem a expeculações maldosas quanto a se comparações desse tipo não poderiam ser atribuidas aos efeitos da idade do candidato republicano.


As referências a idade por um lado e, à falta de experiência por outro, me levaram as lembranças ainda recentes de campanhas eleitorais locais. Refiro-me as recifences e pernambucanas, para nem precisar ir um pouco mais longe!

Candidato a governador e depois a senador já depois dos 80 anos de idade, o político Miguel Arraes de Alencar, costumava lembrar em público os conselhos da própria mãe, ainda viva e beirando saudávelmente os cem anos. O McCain faz coisa parecida! Afinal a mãe dele semanas atrás, foi multada por excesso de velocidade, aos 96 anos!


Quanto ao atual prefeito do Recife João Paulo Lima e Silva, quando candidato, foi decretado incapaz de governar, sob o argumento de que nunca havia governado antes. Apesar de tudo foi eleito e na eleição seguinte reeleito, tendo obtido reconhecimento mesmo entre os adversários políticos e eleitores de seu opositor, como autor de uma gestão indiscutívelmente acima da média. A sua Dilma Russef chama-se João da Costa, e poderá vencer as eleições já no primeiro turno.


Voltando porém ao ponto, você poderá estar se perguntando: Quem vai ganhar as eleições presidenciais americanas?


De acordo com as pesquisas ainda recentes, havia quase que um empate técnico, sendo muito pequena a vantagem para Obama. Depois veio a convenção democrata, e a vantagem de Obama ampliou para 6 pontos percentuais. A cada dia novos fatos vem influenciar o resultado, para um lado ou para o outro. Os resultados da convenção republicana ainda são esperados, e ao que tudo indica, qualquer prognóstico sobre a influência que terá nas pesquisas, tem boas chances de acertar!


No fundo, o americano deseja algo diferenciado e acredita que Obama atende a esse anseio, na medida em que por paradoxal que pareça, ele é capaz de em muitos aspectos tranquilizar os preocupados republicanos. Por exemplo, na escolha do seu candidato a vice presidente.
Já o McCain, embora não seja um mau candidato, afinal ele é um dos piores republicanos, não empolga talvez sequer a própria famíla o que é bastante compreensível.


Não deixa de ser assustador apesar de tudo, saber que há eleitores que afirmam ter muito medo que Obama ganhe as eleições, e que jamais votariam em um negro. Mais do que ganhar as eleicões, o que já foi previsto pelo escritor Moneiro Lobato há mais de 50 anos, não seria um exagero achar que Barack Obama precisará cuidar-se para se manter vivo e governante, o que infelizmente não foi igualmente previsto.

sábado, 6 de setembro de 2008

O Celular e as Nossas Células Cerebrais.

A foto acima sugere que o cérebro de quem faz uso constante de celulares, poderá terminar “estrelado” como um ovo de galinha.

A informação é de interêsse geral, em uma época na qual diz-se que celular é como celulite: todo mundo tem!


O tumor resultante, na melhor das hipóteses poderá até ser benigno. Porém você acha que isso é tranquilizador? Os cientistas que pesquisam o efeito das emissões eletro-magnéticas nos seres humanos, andam assustados até quando descobrem que o vizinho conectou o seu Lap Top a uma rede wireless. Fosse o meu vizinho um deles, e a essa altura já estaria se mudando.


O asssunto foi abordado na interessante revista americana “Mother Jones”, neste mês de agosto. As pesquisas sobre o efeito causado em seres humanos pelo campo eletromagnético irradiado de raios X, microondas, linhas de transmissão em alta tensão e aparelhos celulares, tem deixado os cientistas MUITO precavidos do ponto de vista pessoal. Um desses cientistas, o Dr Arthur Firstenberg passou a pedir polidamente aos usuários de celulares, para não usá-los em sua presença.


Não se surpreenda se ao atender uma ligação em público, você for interrompido – polidamente – por alguém, que poderá ser o próprio Dr Firstenberg ou um dos seus colaboradores. O que você faria? Ou como você se sentiria? Algumas pessoas sentiram-se ofendidas, e ele já chegou a ser alvo de processos por assédio.


O Dr Firstenberg acha que as pessoas ficam aborrecidas, porque nada entendem de radiação de microondas.


Um proeminente neurocirurgião australiano, concluiu que os efeitos que se farão sentir logo mais na população mundial, decorrentes do uso inadequado de celulares, serão piores do que os provocados pelo cigarro. Em outras palavras, melhor seria fumar o celular, do que usá-los para se comunicar.


As pesquisas continuam e, o Dr Joachim Schutz, chefe do Departamento de bioestatistica da Sociedade Dinamarquesa do Cancer, comenta sobre as dificuldades inerentes a análise dos resultados, com vistas a obtenção de conhecimentos aprofundados. Enquanto isso, é razoável que todos devam se precaver.


Para evitar a Aid’s, o recomendável é abster-se de fazer sexo, ou então usar a camisinha. Quanto a proteção dos seus neurônios, o correspondente seria:NÃO USAR O CELULAR, ou que tal fazê-lo mantendo-o afastado do corpo? Isso é possível através do uso de viva voz, ou fones de ouvido.


O mesmo Dr Schutz termina por dizer que “se você me perguntar outra vez sobre o assunto daqui a um ano, eu posso ter mudado de opinião”. Ele quis com isso dizer que a opinião científica internacional ainda poderá sofrer modificações, e se deslocar em direção a um consenso, à luz de resultados mais conclusivos.


Nesse caso, quando o meu vizinho resolvesse mudar-se de volta, poderia encontrar a sua casa já ocupada por um colega de laboratório. :-)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Hilton Head Island.

Não parece com um tênis? Talvez um tênis da Nike?

Hilton Head Island é uma cidade americana do estado da Carolina do Sul. Dos 50 estados americanos, a Carolina do Sul, situado a sudoeste, é o de menor área territorial. Hilton Head Island de acordo com o censo do ano de 2006, tem uma populaçao de 33 838 habitantes, e a sua área é de 143 800 Km², sendo que 108 800 Km² de terra e, 34 900 Km² de água.

Comparando com a nossa belíssima Ilha de Itamaracá, cujo nome vem do Tupi, significando “Pedra que canta”ou “Pedra sonante”, Hilton Head é um pouco maior que o dobro. Também a sua população é duas vezes maior que a de Itamaracá. E as comparações devem parar por aí. Afinal, toda a comparação é odiosa. Cada ilha é uma ilha, e ponto final.

Hilton Head passou por grandes transformações ao longo dos ultimos 30 anos, para tornar-se um dos lugares mais aprazíveis para umas férias ou naturalmente que para morar. Os investimentos alí realizados foram aplicados em projetos com a preocupação de preservar a beleza natural do lugar, que hoje consiste de um resort, e local para moradia de uma comunidade de aposentados.

A propósito, achei-os muito felizes, acostumados à natureza, demonstrando todos uma grande inclinação à resignação. Continuar trabalhando só teria sentido para eles, na atual etapa da vida, se fosse para juntar dinheiro para aposentarem-se em Hilton Head. Alguns deles porém, confesso que achei um pouco gordos.

A ilha na qual localiza-se a cidade, oferece uma enorme quantidade de atrativos, a comecar pela praia de águas surpreendentemente mornas. Sua beleza assemelha-se com a da nossa praia da Boa Viagem em Recife, sendo que em lugar dos arranha céus do outro lado da avenida, estão prédios respeitosamente baixos, como em certos trechos do litoral da Paraíba na vizinha cidade de João Pessoa, capital daquele estado.

Em Hilton Head Island, a avenida principal mais próxima da praia, não pode ser dela avistada. Além disso existe um enorme trecho litorâneo, preservado tal qual ele era por ocasião da chegada alí dos primeiros europeus, há 500 anos. Infelizmente que em nosso belo litoral, só as águas do mar quando muito afastadas da praia ainda nos remetem a tais semelhanças. Da nossa mata Atlântica só restou “um tiquinho”.

Por toda a parte por onde andei, ví exemplos de como é possível conciliar o desenvolvimento econômico do lugar, com os interêses que geralmente chocam-se com eles, porque associados a imposição de limites a esse mesmo desenvolvimento.Imensos campos de golfe e de tênis, dúzias deles, além de áreas de preservação ecológica, convivem com áreas exploradas comercialmente. Nelas, além dos núcleos para compras, os chamados Malls, existem cinemas, teatros e museus, coexistindo com baías onde em ancoradouros como o de Sea Pines, alugam-se jet skys, pode-se embarcar para acompanhar a pesca de tubarões, apreciar de perto os golfinhos, ou ainda aventurar-se na prática do do kite-surf.

O calendário de eventos ao longo de todo o ano, principalmente durante os meses de verão, é intenso e variado.

Apesar de estar localizada há aproximadamente 500 milhas de Atlanta, o acesso mantem-se convidativo, face ao percurso integralmente feito em auto-estradas, permitindo uma viagem em seguranca e conforto. A distância entre Atlanta e Hilton Head, é igual a distância entre o Recife e a cidade do Crato onde nascí, bem ao sul do estado do Ceará. Fosse por aqui o acesso semelhante, e eu provávelmente teria uma casa por lá. Em Hilton Head Island, não! No Crato.

Quanto a Hilton Head Island parece outro mundo, porque na realidade, o é!

Até lembrei daquela história do casal de velhinhos que assim que morreu, foi deparar-se com São Pedro, que gentilmente os encaminhou para um belo “bangalô” às margens de um tão verde quanto vasto campo de golfe, e de onde podia-se avistar uma bela vista do mar. Saboreando os primeiros momentos daquela visão paradisíaca, e embalado pela brisa daquela Hilton Head celestial, o velhinho voltou-se para a velhinha sua mulher, e não se conteve:

- Estás vendo? Não fosse por você haver insistido tanto em nos tornarmos adeptos do naturalismo, e já estaríamos aqui a mais tempo!

O Sexto Sentido.

Uma Volta ao Mundo, Dançando!