- A que horas você janta?
Perguntou o médico.
- Às 19 h.
- A partir de agora, passe a fazer sua última refeição no mais tardar, às 17 h.
Retorne para me dizer se assim conseguirá dormir normalmente.
Passados alguns dias, o paciente retornou ao médico, com a mesma queixa.
- Doutor, continuo sem conseguir "pegar no sono".
- Façamos então o seguinte: última refeição, às 21 h. Não antes disso!
- Mas Doutor! Se o problema não resolveu jantando mais cedo, como vai resolver
se eu jantar mais tarde?
- Não discuta comigo. Faça o que estou lhe dizendo. A Medicina está sempre em constante evolução!
Eis então a grande novidade da manhã de hoje:
Droga para colesterol não previne morte.
Estudo questiona a prática comum de prescrever esse tipo de remédio para pessoas sem doenças cardíacas
Medicamento não pode ser a primeira tentativa para baixar os níveis de gordura no sangue, dizem especialistas
FERNANDA BASSETTE
DE SÃO PAULO
Pesquisadores britânicos colocaram em xeque o uso indiscriminado de estatinas (remédios para diminuir os níveis de colesterol) por pessoas com colesterol elevado, mas sem doença cardíaca.
Revisão de 11 estudos constatou que o uso de estatinas como prevenção primária, nessas pessoas saudáveis, não reduz a mortalidade. Os resultados foram publicados na revista "Archives of Internal Medicine".
Para chegar a essa conclusão, foram analisados dados de 65.229 pessoas: 32.623 tomaram estatinas e 32.606 receberam placebo.
Depois de quase quatro anos, 2.793 participantes do estudo haviam morrido (1.447 dos que tomaram placebo e 1.346 do grupo que recebeu o remédio).
Segundo os pesquisadores, a diferença no número de mortes não tem relevância estatística e, por isso, comprovaria que as estatinas não têm efeito preventivo.
Os voluntários que tomaram placebo tinham níveis de LDL (colesterol ruim) maiores do que os que tomaram estatinas e, mesmo assim, os índices de mortalidade foram semelhantes, conforme o estudo.
USO MASSIFICADO
É controversa a prescrição de estatinas para quem tem colesterol elevado, mas não tem doença cardíaca.
O assunto ganhou destaque em 2008, quando outro estudo sobre o tema demonstrou que essas drogas poderiam prevenir doença cardíaca em pessoas com colesterol baixo, mas com níveis altos de PCR (uma proteína que indica inflamação no corpo).
"As estatinas viraram a "pedra filosofal" do cardiologista. Há uma tendência de massificar a indicação. Os médicos prescrevem muito essas drogas, até fora das indicações clássicas", diz Marcelo Ferraz Sampaio, médico do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
Para José Rocha Faria Neto, diretor-científico da Sociedade Paranaense de Cardiologia, a primeira providência para prevenir riscos cardíacos deveria ser uma mudança no estilo de vida, com dieta e prática de exercícios físicos.
"Estatinas não são para qualquer pessoa. Pacientes de baixo risco devem tentar reduzir o colesterol por pelo menos seis meses antes de tomar a medicação. Depois de iniciado o tratamento com remédio, é para a vida toda."
OUTRAS CAUSAS
Apesar de o estudo ter demonstrado que as estatinas não previnem a mortalidade geral, os cardiologistas dizem que a pesquisa não avaliou, por exemplo, se as estatinas foram eficientes na prevenção de infarto, derrame e cirurgias cardíacas.
"Ainda existem muitas controvérsias sobre indicar ou não estatinas. Mas, como houve poucas mortes e não foi avaliado se houve menos desfechos cardiovasculares, fica difícil medir o impacto do tratamento", pondera o cardiologista Raul Dias dos Santos, diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e diretor da unidade de lípides do InCor.
Sampaio concorda e diz que as estatinas são eficientes, quando indicadas corretamente. Para ele, os resultados demonstram que não se deve universalizar a indicação da droga.
"Temos que analisar com muito critério quais pacientes vão realmente se beneficiar com as estatinas, porque elas produzem efeitos colaterais, como dores musculares e até problemas renais."
De acordo com Santos, as estatinas podem fazer a diferença, desde que o paciente tenha outros fatores de risco agregados. "Temos que individualizar o tratamento", afirma o cardiologista.
Fonte: Folha de São Paulo Saúde de 16 de julho de 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário