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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Eduardo Galeano encanta plateia na inauguração da 5.ª Fliporto.




Artigo de Ubiratan Brasil do estado de São Paulo, sobre a participação de Eduardo Galeano na abertura da V Fliporto.


Eduardo Galeano encanta plateia na inauguração da 5.ª Fliporto.

No encontro pernambucano, escritor uruguaio destacou seu novo livro, Espelhos
Ubiratan Brasil
As palavras do escritor uruguaio Eduardo Galeano surpreendem. Afinal, ele pode tanto usá-las para transmitir a mais pura poesia ("O travesseiro é como uma máquina capaz de ler sonhos") como para causar polêmicas ("O presidente venezuelano Hugo Chávez é bombardeado por suas virtudes"). Seu discurso enlevou uma plateia embevecida na noite de quinta-feira, quando ele fez a palestra inicial da 5ª edição da Fliporto, a Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas, belíssima praia de Pernambuco.



Na primeira parte da conversa, predominou a poesia - foi quando Galeano, que fala em português quase sem nenhum sotaque, leu trechos aleatórios de seu mais recente livro Espelhos (L&PM, tradução de Eric Nepomuceno, 376 páginas, R$ 42), em que analisa a história da humanidade do ponto de vista dos desvalidos, dos esquecidos da história oficial. "Para mim, o universo só pode ser visto a partir do buraco da fechadura", explicou.

Foram palavras de protesto, em que pregou contra o racismo ("Somos todos africanos emigrados"), o Muro de Berlim ("Por que há muros tão muros?"), o risco de vida ("A necessidade de segurança é a ditadura que hoje reina no mundo"), os conflitos bélicos ("Guerras têm cheiro de podridão, que é pegajosa pois entra em todos os nossos poros e não desaparece jamais").

Com isso, conquistou uma plateia de mais de cem pessoas reunidas no Centro de Convenções, confirmando que, aos 69 anos, Galeano mantém-se como uma das mais destacadas figuras da cultura latino-americana, construindo uma obra ortodoxa, que combina ficção, jornalismo, análise política e história.

Embora autor de mais de 30 livros, tem As Veias Abertas da América Latina (1971) seu clássico absoluto, que o tornou figura conhecida mundialmente por reescrever a história do continente latino e expor cinco séculos de exploração econômica e miséria social.

O livro, aliás, tornou-se um fardo em sua carreira. "Sei que é uma obra que ajudou a mudar a consciência de muita gente, mas fiquei prisioneiro desse livro, que se tornou maior que mim mesmo."

Nesse momento, Galeano já falava durante a segunda parte de sua apresentação, a dedicada ao debate com o público. Embora reclamasse de cansaço por conta da longa viagem, o escritor consumiu vários minutos para elogiar as intenções do Movimento dos Sem Terra. "O trabalho é pouco valorizado no mundo atual, por isso que entendo a luta do MST, movimento que deveria receber medalhas e não condenações", afirmou.

O assunto enveredou para a política e Galeano revelou sua ojeriza pela palavra "líder", pois implica um comandante e vários comandados. "É um termo que deveria ser excluído do dicionário. A única exceção em seu uso é quando se refere a Hugo Chávez."

Para Galeano, o presidente venezuelano é um político generoso, pois defende os recursos naturais de seu país (leia-se petróleo), quando normalmente o oposto é que acontece. Curiosamente, Chávez entregou um exemplar de As Veias Abertas... ao presidente americano Barack Obama, em abril, em Trinidad e Tobago, durante uma reunião de cúpula. "Ele foi generoso ao fazer isso", comentou o uruguaio, encerrando o debate e botando um ponto final em suas sempre deslumbrantes palavras.


O repórter viajou a convite da organização da Fliporto

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