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sábado, 28 de novembro de 2009

O Andar do Bêbado.




O Andar do Bêbado, de autoria de Leonard Mlodinow, é um livro que começa com a menção ao seu pai, um alemão judeu que durante a segunda guerra mundial, esteve prisioneiro no campo de concentração de Buchenwald. Naquela ocasião, quase morto pela fome, ele roubou um pão da cozinha. O cozinheiro deu pela falta, e chamou a Gestapo. Os suspeitos foram alinhados, e ouviram do cozinheiro que seriam fuzilados uma a um, até que alguém confessasse o furto. O pai de Leonard Mlodinow contou ao filho, que não por heroísmo mas porque sabia que iria morrer de qualquer jeito, confessou tê-lo feito. Para sua surpresa, foi-lhe dado então, o cobiçado cargo de auxiliar de cozinha. O fato serviu como uma ilustração inicial, de que entre as nossas ações e os seus resultados, há um grau muito maior de complexidade, do que somos capazes de acreditar. Isso dificulta a previsão dos resultados, muito mais do que podemos imaginar.


Além disso, o pai de Leonard alerta para que embora o filho não estivesse lá, se o desfecho tivesse sido outro, ele não teria nascido. O próprio Leonard, seguindo nessa linha de pensamento é levado a concluir, que devia a sua vida a Hitler. Afinal, os alemães mataram a primeira mulher do seu pai, e os seus dois filhos. Foi por isso que ele, após o seu passado trágicamente zerado, emigrou para New York, onde casou com uma alemã também refugiada, e daí nasceram Leonard e seus dois irmãos.


O livro é sobre a teoria da aleatoriedade, e como o aleatório afeta nossas vidas. Ele alerta para o quanto é rara a nossa capacidade de tomar decisões e fazer avaliações sábias diante da incerteza. Em outras palavras, a nossa intuição sobre a aleatoriedade costuma falhar mais do que a gente imagina. Achei confortante lembrar que seja assim, nos momentos em que intuímos algo indesejável.



O autor, que é Doutor em Física pela Universidade de Berkeley na Califórnia,  escreveu também "Uma janela para o tempo" em co-autoria com Stephen Hawking, o qual sobre "O Andar do Bêbado", afirmou: "Um guia maravilhoso e acessível sobre como o aleatório afeta nossas vidas."


Depois de lê-lo, jamais diria que você também vai gostar! :-)))


Obs: Clique no título acima, para saber um pouco mais sobre o livro.

A Mão de Quem?



Tudo é tão relativo! 


Quem já não ouviu dizer, que "Deus mora nos detalhes?". 


Também é possível por outra ótica afirmar que: "O Diabo mora nos detalhes". 


A França irá disputar a próxima Copa do Mundo de Futebol, graças a uma jogada irregular, da qual resultou o seu gol salvador no empate de 1 x 1 contra a Irlanda. A Irlanda jogava melhor, e fazia por onde merecer a classificação.


A mão de Thierry Henry, foi considerada por alguns jornais europeus, como "a mão de Deus". Não seria para os Irlandeses "A mão do Diabo"?


Clicando no título acima ("A Mão de Quem?") você poderá ler um interessante comentário do historiador Jacques Le Goff, no Le Monde, que no fundo é sobre a necessidade de "restabelecimento dos valores na relação entre o esporte e a sociedade". 

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Brasil Decola.




Esta semana a Revista The Economist mais uma vez publicou uma reportagem sobre o crescimento da economia brasileira. 

Segundo a Revista, China pode estar contribuindo para que a economia mundial supere a recessão, mas o Brasil também está fazendo sua parte. O Brasil não evitou a recessão, mas foi entre os últimos e o primeiro a sair. A economia voltou a crescer a uma taxa de 5% e essa taxa crescerá nos próximos anos, quando os novos campos petrolíferos de águas profundas entrem em funcionamento.
Junto com o petróleo a revista destaca, também, a riqueza do Brasil na produção de alimentos e minerais. 
Depois de 2014 as previsões mostram a possibilidade da economia brasileira se tornar a quinta maior economia do mundo, superando a Grã-Bretanha e França. 
Em 14 páginas esta é a segunda reportagem da Revista sobre as potencialidades da economia brasileira. 

Destaca a "B" dos Bric´s (Brasil, Rusia, India e China) ressaltando seus pontos fortes em contraste com os outros BRIC´s. 

Ao contrário da China, é uma democracia. Ao contrário da Índia, ela não tem os insurgentes, não houve conflitos étnicos e religiosos, nem os vizinhos hostis. Ao contrário da Rússia, que exporta mais petróleo e armas, trata de investidores estrangeiros "com respeito". "Sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva o governo tomou medidas para reduzir as desigualdades marcantes que há muito tempo tinham desfigurado o País. 

O mundo tem muito mais que aprender com Brasil do que com a China, destaca a Revista.

"Em suma, o Brasil de repente, parece ter feito uma entrada no palco do mundo. Sua chegada foi simbolicamente marcada, no mês passado, pela eleição para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016 a serem realizados no Rio de Janeiro, dois anos antes, o Brasil sediará a Copa do Mundo de futebol". 
Como não poderia deixar de ser a Revista ressalta também alguns pontos fracos do Governo Lula, a educação e segurança e principalmente o baixo investimento do setor privado e público, que ainda é insuficiente para a economia decolar realmente. 

Fonte: Blog de Gonzales Enríquez

Motivações.



O presidente do STF, Gilmar Mendes, durante seu voto, pela extradição do ex-ativista italiano Cesare Battisti.

STF atirou no que viu e também no que não viu


Do Juiz de Direito Gerivaldo Neiva, da Bahia, sobre o julgamento do italiano Cesare Battisti no Supremo Tribunal Federal:

Diz o ditado popular que um ato pode ter consequência diversa daquela pretendida pelo executor, ou seja, uma pessoa pode atirar no que viu e terminar atingindo o que não viu. Em outras palavras, a pretensão era uma e o resultado foi outro.

No caso do julgamento do italiano Cesare Battisti, no entanto, os ministros do STF que votaram pela extradição quiseram este resultado, mas também quiseram, propositadamente, muito mais do que isto. Ora, depreende-se do teor dos votos que para alguns ministros o que estava em jogo não era a legalidade do ato do Ministro de Estado na concessão do asilo político a Battisti ou a interpretação da Constituição, mas a luta armada como forma de resistência e como luta revolucionária.

Voltando à história do “atirou no que viu e matou o que não viu”, penso que os ministros do STF que votaram pela extradição quiseram, em última análise, mandar um recado à sociedade brasileira e usaram o Battisti como exemplo, ou seja, deixaram de lado princípios do Direito Penal, Processual e Constitucional para dizer ao povo brasileiro que não concordam com mudanças, que abominam esta história de transformação social e, sobretudo, que não concordam com ações armadas revolucionárias.

Assim agindo, os ministros estão também querendo dizer que entre nós está tudo também resolvido; que não tem nada ser revisto ou reinterpretado com relação à “nossa” (lá deles!) ditadura; que os militares foram vítimas de ações armadas de grupos revolucionários e que não se deve abrir velhas feridas.

Para tanto, precisaram condenar Cesare Battisti à extradição e prisão perpétua na Itália para, ao mesmo tempo, absolver os torturadores brasileiros. Em caso contrário, caso evitassem a extradição de Battisti, os ministros do STF estariam, ao mesmo tempo, revelando a legitimidade de sua luta e condenando, antecipadamente, os torturadores brasileiros que continuam impunes. Para a maioria dos ministros do STF, portanto, o julgamento da ADPF 153, que pretende uma nova interpretação da Lei de Anistia, tornou-se absolutamente desnecessário. Será a crônica de um julgamento anunciado!

Por fim, a maioria do STF quedou-se à pressão do “mundo civilizado ocidental” e violou seu precedente de jurisprudência ao extraditar Battisti. De outro lado, revelou a clara tendência de construir um novo e covarde precedente: manter sangrando feridas que nunca se fecharam e corpos insepultos.

Fonte: blog de Frederico Vasconcelos.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Racionamento X Apagão - E Mal Caratice.




Hilariante foi acompanhar o papel de parte considerável da mídia, na cobertura do denominado "Apagão" de ante-ontem a noite, no Brasil.


O ímpeto dos jornalístas em especular sobre as prováveis causas, e sobretudo a forma agressiva e ao mesmo  tempo despreparada de fazer perguntas às autoridades, foi a mesma de quase sempre.


Desta vez porém, como engenheiro eletricista que já atuou nessa área, me foi possível com ainda maior clareza, enxergar a pobreza profissional dos que em lugar de aproximar a versão dos fatos, buscam por todos os meios, fazer exatamente o contrário.


Naturalmente que tais jornalistas e repórteres, cumprem as determinações dos donos das TV's, Rádios e Jornais para os quais trabalham, o que os torna ainda mais desprezíveis. Além do mais, será que alguém ainda não percebeu? Estamos em plena campanha eleitoral de 2010. 


A mídia, é uma extensão da oposição. A mídia é oposição.


Em entrevista coletiva da qual participaram o Ministro das Minas e Energia, e os Presidentes do ONS e da ANEL, havia um verdadeiro frenesí por parte dos jornalistas alí presentes.


O despreparo para sequer entender as respostas dadas as próprias perguntas, os levavam a repetí-las ou reinterá-las de modo a revelar uma ignorância sem par.



Durante a coletiva desta tarde, a pergunta sobre quem iria pagar o prejuízo dos que tiveram equipamentos elétricos queimados, foi respondida pelo presidente da ANEL. Ele esclareceu que com base no que era considerado admissível ter-se de frequência e duração de interrupções de energia, havia uma regulamentação na qual deveriam se fundamentar os prejudicados, os quais deveriam buscar o ressarcimento dos seus danos, junto às suas concessionárias. Os seus ressarcimentos seriam feitos na própria conta de luz.


Apesar da clareza da resposta, a pergunta foi repetida em tons cada vez mais impaciente e agressivo, por duas vezes! O ministro precisou perguntar:
- Depois de respondida três vezes a sua pergunta, o presidente da ANEL precisará ainda lhe responder mais uma vez?



Foi a repetição do show deprimente que já nos acostumamos a assistir, em cuja base está o interêsse político de encontrar uma falha inadmissível, que possa ser utilizada políticamente contra as autoridades responsáveis, e em última instância, contra o governo.


Passados os primeiros momentos, os jornais nacionais da Globo, através da "voz dos donos", passaram então, a apostar na incapacidade de discernimento dos seus ouvintes. Tentaram confundir as pessoas menos esclarecidas, misturando o "Apagão" adjetivo usado para caracterizar o racionamento de 1999 decorrente da falta de investimentos no sistema elétrico durante os governos de FHC, com o "Apagão" ocorrido ontem, em pleno Governo atual. 


Uma mídia assim, chega mesmo a dar náuseas, naqueles que independente da sua visão política, prezam ser tratados com decência, e não como se fossem inbecís.


O ponto de descaso ao qual foi levado o setor elétrico durante a década de 90, e que culminou com o racionamento que afetou dramáticamente o país em 1999, foi na época politicamente explorado pela oposição de então, pelo PT, que passou a chamá-lo de "Apagão". Palavra mais forte para os seus propósitos de desgastar os seus adversários políticos de então, do que a mais adequada que seria "Racionamento". 


Do mesmo modo que referir-se a pagamentos regulares em troca de favores, é menos efetivo do que criar para tal uma nova palavra: Mensalão.


Apagão, é a tradução para o português da palavra inglesa "Blackout", usada para designar os grandes desligamentos que ocorrem em um sistema elétrico de potência, deixando sem energia parcelas consideráveis da população.


Quem não já ouviu falar no "Blackout" de Nova York, no Blackout do Japão, e tantos outros em grandes cidades, com tempos de re-estabelecimentos de até 24 h! No nosso "Blackout"de ontem, o tempo de restabelecimento foi de apenas 4 horas! Ele não decorreu de falha humana, e sim das intempéries.


O que é mais difícil que tenhamos ouvido falar, foi em "Racionamento" de Nova York, "Racionamento" do Japão, porque isso foi mesmo uma peculiaridade do governo de Fernando Henrique Cardoso, em decorrência da política neo-liberal das privatizações do setor elétrico. 


Tomou-se como política vingente, que o estado não investiria no sistema elétrico, que após privatizado receberia investimentos das empresas extrangeiras novas donas do setor. A precariedade do sistema chegou a tal ponto, que foi necessário em carácter emergencial, a compra de unidades térmicas para instalação em diversos pontos do sistema, as quais, operavam queimando óleo a um prêço elevadíssimo.


Tivesse o mesmo ocorrido no governo atual, ou em qualquer outro governo, governo de Serra, de Ciro, de Marina ou de Dilma, e o presidente também estaria frito. Teríamos à vista a alternância de poder.


As tentativas de fritarem o presidente Lula, começaram no primeiro dia do seu governo, e é natural que continuem até o final. Isso faz parte do jogo político, ainda mais que Lula tem contra sí, embora em parcelas cada vez menores, aqueles que o descriminam por conta da sua origem, da falta de um diploma universitário, por puro preconceito, e em alguns casos por conta de interêsses pessoais contrariados.


Admirável, é que enquanto alguns presidentes foram fritados  pela opinião pública e pelos eleitores, apesar do apoio ostensivo da mídia (FHC, Collor de Mello, etc ), o atual, o para alguns "malfadado presidente Lula", ainda que sem o apoio dessa mesma mídia, não conseguem fritá-lo.


Durante os governos FHC, ocorreram dois apagões, e um racionamento.


Apagões são inevitáveis, até porque, a construção e operação de um sistema livre de falhas, elevaria o prêço das tarifas a valores acima do que nós consumidores poderíamos pagar.


Racionamento? Esses sim podem ser evitados, com uma gestão competente. Faltou isso ao governo FHC. Temos isso sim na gestão atual. Não tem mais jeito da atual oposição, até aqui tão mal sucedida no seu papel, de escaparem dessa pecha. Podem até estribuchar, e tentar dizer que não foram os únicos mau gestores.


Não conseguirão porém, apontar o governo atual, como igualmente negligente, para igualarem-se em um hipotético placard. O governo atual, recuperou o setor elétrico, refez o seu planejamento, e afastou para bem longe, os riscos de racionamento (e das privatizações). Paciência! Esse jogo acabou. O placard é definitivo. 


Concluindo, eu diria fazendo um paralelo:


Uma criança não recebe durante anos, por parte dos seus descuidados pais, a atenção preventiva que lhe preservaria a saúde. Um dia ela vem a adoecer, até mesmo por falta das vacinas. Isso equivale a "racionamento" - Isso nos reporta aos governos FHC.



Outra criança é cuidada como fazem os pais responsáveis e amorosos. Ainda assim, pode o acaso um dia, resultar em um acidente que venha a atingir essa criança. Ela poderá até se recuperar. Em 24 h, ou quem sabe em até mesmo apenas 4 horas. Isso é um "Apagão" - acontece em todos os governos, faz parte do aleatório ao qual estão submetidas as nossas vidas.


Obs: Clique no título acima, e reveja: "Outros Apagões pelo Mundo".

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Petrobras passa Coca-Cola e Wal Mart em valor de mercado (Not too Bad !)




O valor de mercado da Petrobras, que estava em US$ 95,8 bilhões no final do ano passado, mais do que dobrou desde então e atingiu, ontem, US$ 207,9 bilhões, segundo dados levantados pela consultoria Economatica.
Com isso, a empresa ficou à frente de muitos gigantes dos Estados Unidos, como Coca-Cola, Wal Mart, Google, General Electric (GE), Apple e outros.
Atualmente, apenas duas empresas dos Estados Unidos têm valor de mercado maior do que a Petrobras: a Exxon Mobil, também do setor de petróleo, e a Microsoft.
O valor de mercado de uma empresa corresponde à soma do preço de todas as suas ações.
Veja abaixo ranking que reúne as maiores empresas do Brasil e dos EUA em valor de mercado.

AS MAIORES EMPRESAS DO BRASIL E DOS ESTADOS UNIDOS

EMPRESA
(posição em 2008)
VALOR
(US$ bi)
EMPRESA
(posição em 2009)
VALOR
(US$ BI)
1) Exxon Mobil406,11) Exxon Mobil345,8
2) Wal Mart Sotores219,92) Microsoft257,4
3) Procter & Gamble181,23) Petrobras207,9
4) Microsoft172,94) Wal Mart Stores200,6
5) AT168,05) Apple181,5
6) Johnson & Johnson166,06) Procter & Gamble180,7
7) General Electric161,37) Google178,5
8) Chevron Texaco150,38) JP Morgan Chase174,4
9) Berkshire Hathaway149,79) General Electric168,8
10) Pfizer119,410) Johnson & Johnson167,6
11) JP Morgan Chase116,311) Intl Bus Machines165,5
12) Intl Bus Machines113,112) Berkshire Hathaway159,2
13) Coca-Cola104,713) Chevron Texaco155,8
14) Verizon Comm100,614) AT&T155,4
15) Wells Fargo98,015) Vale141,9
16) Google96,816) Pfizer140,7
17) Petrobras95,817) Cisco Systems138,9
18) Cisco Systems95,418) Bankamerica136,4
19)Oracle89,519) Wells Fargo133,1
20) Philip Morris88.020) Coca-Cola128,6
 Fonte: UOL Economia Notícias.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Eduardo Galeano encanta plateia na inauguração da 5.ª Fliporto.




Artigo de Ubiratan Brasil do estado de São Paulo, sobre a participação de Eduardo Galeano na abertura da V Fliporto.


Eduardo Galeano encanta plateia na inauguração da 5.ª Fliporto.

No encontro pernambucano, escritor uruguaio destacou seu novo livro, Espelhos
Ubiratan Brasil
As palavras do escritor uruguaio Eduardo Galeano surpreendem. Afinal, ele pode tanto usá-las para transmitir a mais pura poesia ("O travesseiro é como uma máquina capaz de ler sonhos") como para causar polêmicas ("O presidente venezuelano Hugo Chávez é bombardeado por suas virtudes"). Seu discurso enlevou uma plateia embevecida na noite de quinta-feira, quando ele fez a palestra inicial da 5ª edição da Fliporto, a Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas, belíssima praia de Pernambuco.



Na primeira parte da conversa, predominou a poesia - foi quando Galeano, que fala em português quase sem nenhum sotaque, leu trechos aleatórios de seu mais recente livro Espelhos (L&PM, tradução de Eric Nepomuceno, 376 páginas, R$ 42), em que analisa a história da humanidade do ponto de vista dos desvalidos, dos esquecidos da história oficial. "Para mim, o universo só pode ser visto a partir do buraco da fechadura", explicou.

Foram palavras de protesto, em que pregou contra o racismo ("Somos todos africanos emigrados"), o Muro de Berlim ("Por que há muros tão muros?"), o risco de vida ("A necessidade de segurança é a ditadura que hoje reina no mundo"), os conflitos bélicos ("Guerras têm cheiro de podridão, que é pegajosa pois entra em todos os nossos poros e não desaparece jamais").

Com isso, conquistou uma plateia de mais de cem pessoas reunidas no Centro de Convenções, confirmando que, aos 69 anos, Galeano mantém-se como uma das mais destacadas figuras da cultura latino-americana, construindo uma obra ortodoxa, que combina ficção, jornalismo, análise política e história.

Embora autor de mais de 30 livros, tem As Veias Abertas da América Latina (1971) seu clássico absoluto, que o tornou figura conhecida mundialmente por reescrever a história do continente latino e expor cinco séculos de exploração econômica e miséria social.

O livro, aliás, tornou-se um fardo em sua carreira. "Sei que é uma obra que ajudou a mudar a consciência de muita gente, mas fiquei prisioneiro desse livro, que se tornou maior que mim mesmo."

Nesse momento, Galeano já falava durante a segunda parte de sua apresentação, a dedicada ao debate com o público. Embora reclamasse de cansaço por conta da longa viagem, o escritor consumiu vários minutos para elogiar as intenções do Movimento dos Sem Terra. "O trabalho é pouco valorizado no mundo atual, por isso que entendo a luta do MST, movimento que deveria receber medalhas e não condenações", afirmou.

O assunto enveredou para a política e Galeano revelou sua ojeriza pela palavra "líder", pois implica um comandante e vários comandados. "É um termo que deveria ser excluído do dicionário. A única exceção em seu uso é quando se refere a Hugo Chávez."

Para Galeano, o presidente venezuelano é um político generoso, pois defende os recursos naturais de seu país (leia-se petróleo), quando normalmente o oposto é que acontece. Curiosamente, Chávez entregou um exemplar de As Veias Abertas... ao presidente americano Barack Obama, em abril, em Trinidad e Tobago, durante uma reunião de cúpula. "Ele foi generoso ao fazer isso", comentou o uruguaio, encerrando o debate e botando um ponto final em suas sempre deslumbrantes palavras.


O repórter viajou a convite da organização da Fliporto

Espelhos.







Um dos pontos altos da V Fliporto, aconteceu logo na abertura, quando o escritor uruguaio Eduardo Galeano, apresentou seu mais recente livro: Espelhos.


Mundialmente conhecido por haver escrito "As veias abertas da America Latina", livro que no Brasil já alcançou a sua quinquagésima quarta edição, Galeano depois deste é autor de outros trinta.


Sobre o mais recente, você poderá inteirar-se a seguir, nas palavras do próprio escritor.


O texto foi postado no blog do jornalista Tom Wolff:






ESPELHOS - Eduardo Galeano

"Artigo de Eduardo Galeano, onde o grande escritor uruguaio dá uma pequena mostra do seu novo livro Espejos - a ser publicado em breve."







O paradoxo andante 





Cada dia, ao ler os diários, assisto a uma aula de história. Os diários ensinam-me pelo que dizem e pelo que calam. A história é um paradoxo andante. A contradição move-lhe as pernas. Talvez por isso os seus silêncios dizem mais que suas palavras e muitas vezes as suas palavras revelam, mentindo, a verdade.

Dentro em breve será publicado um livro meu chamado Espejos. É algo assim como um história universal, e desculpem o atrevimento.

"Posso resistir a tudo, menos à tentação", dizia Oscar Wilde, e confesso que sucumbi à tentação de contar alguns episódios da aventura humana no mundo do ponto de vista dos que não saíram na foto. Pode-se dizer que não se trata de fatos muito conhecidos. Aqui resumo alguns, apenas uns poucos.

Quando foram desalojados do Paraíso, Adão e Eva mudaram-se para a África, não para Paris.

Algum tempo depois, quando seus filhos já se haviam lançado pelos caminhos do mundo, foi inventada a escrita. No Iraque, não no Texas.

Também a álgebra foi inventada no Iraque. Foi fundada por Mohamed al Jwarizmi, há mil e duzentos anos, e as palavras algoritmo e algarismo derivam do seu nome.

Os nomes costumam não coincidir com o que nomeiam. No British Museum, por exemplo, as esculturas do Partenon chamam-se "mármores de Elgin", mas são mármores de Fídias. Elgin era o nome do inglês que as vendeu ao museu.

As três novidades que tornaram possível o Renascimento europeu, a bússola, a pólvora e a imprensa, haviam sido inventadas pelos chineses, que também inventaram quase tudo o que a Europa reinventou.

Os hindus souberam antes de todos que a Terra era redonda e os maias haviam criado o calendário mais exato de todos os tempos.

Em 1493, o Vaticano presenteou a América à Espanha e obsequiou a África negra a Portugal, "para que as nações bárbaras sejam reduzidas à fé católica". Naquele tempo a América tinha quinze vezes mais habitantes que a Espanha e a África negra cem vezes mais que Portugal. Tal como havia mandado o Papa, as nações bárbaras foram reduzidas. E muito.

Tenochtitlán, o centro do império azteca, era de água. Hernán Cortés demoliu a cidade pedra por pedra e, com os escombros, tapou os canais por onde navegavam duzentas mil canoas. Esta foi a primeira guerra da água na América. Agora Tenochtitlán chama-se México DF. Por onde corria a água, agora correm os automóveis.

O monumento mais alto da Argentina foi erguido em homenagem ao general Roca, que no século XIX exterminou os índios da Patagônia. A avenida mais longa do Uruguai tem o nome do general Rivera, que no século XIX exterminou os últimos índios charruas.

John Locke, o filósofo da liberdade, era acionista da Royal Africa Company, que comprava e vendia escravos.

No momento em que nascia o século XVIII, o primeiro dos Bourbons, Felipe V, estreou o seu trono assinando um contrato com o seu primo, o rei da França, para que a Compagnie de Guinée vendesse negros na América. Cada monarca ficava com 25 por cento dos lucros. Nomes de alguns navios negreiros: Voltaire, Rousseau, Jesus, Esperança, Igualdade, Amizade.

Dois do Pais Fundadores dos Estados Unidos desvaneceram-se na névoa da história oficial. Ninguém se recorda de Robert Carter nem de Gouverner Morris. A amnésia recompensou os seus atos. Carter foi a única personalidade eminente da independência que libertou seus escravos. Morris, redator da Constituição, opôs-se à cláusula estabelecendo que um escravo equivalia às três quintas partes de uma pessoa.

"O nascimento de uma nação", a primeira super-produção de Hollywood, foi estreado em 1915, na Casa Branca. O presidente, Woodrow Wilson, aplaudiu-a de pé. Ele era o autor dos textos do filme, um hino racista de louvação à Klu Klux Klan.

Algumas datas: Desde o ano 1234, e durante os sete séculos seguintes, a Igreja Católica proibiu que as mulheres cantassem nos templos. As suas vozes eram impuras, devido àquele caso da Eva e do pecado original.

No ano de 1783, o rei da Espanha decretou que não eram desonrosos os trabalhos manuais, os chamados "ofícios vis", que até então implicavam a perda da fidalguia. Até o ano de 1986 foi legal o castigo das crianças, nas escolas da Inglaterra, com correias, varas e porretes.

Em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade, em 1793 a Revolução Francesa proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. A militante revolucionária Olympia de Gouges propôe então a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. A guilhotina cortou-lhe a cabeça. Meio século depois, outros governo revolucionário, durante a Primeira Comuna de Paris, proclamou o sufrágio universal. Ao mesmo tempo, negou o direito de voto às mulheres, por unanimidade menos um: 899 votos contra, um, a favor.

A imperatriz cristã Teodora nunca disse ser uma revolucionária, nem nada que se parecesse. Mas há mil e quinhentos anos o império bizantino foi, graças a ela, o primeiro lugar do mundo onde o aborto e o divórcio foram direitos das mulheres.

O general Ulisses Grant , vencedor da guerra do Norte industrial contra o Sul escravocrata, foi a seguir presidente dos Estados Unidos. Em 1875, respondendo às pressões britânicas, respondeu:
– Dentro de duzentos anos, quando tivermos obtido do protecionismo tudo o que ele nos pode proporcionar, também nós adotaremos a liberdade de comércio.
Assim, pois, nos idos de 2075, o país mais protecionista do mundo adotará a liberdade de comércio.

"Botinzito" foi o primeiro cão pequinês que chegou à Europa. Viajou para Londres em 1860. Os ingleses batizaram-no assim porque era parte do botim extorquido à China no fim das longas guerras do ópio.

Vitória, a rainha narcotraficante, havia imposto o ópio a tiros de canhão. A China foi convertida num país de drogados, em nome da liberdade, a liberdade de comércio.

Em nome da liberdade, a liberdade de comércio, o Paraguai foi aniquilado em 1870. Ao cabo de uma guerra de cinco anos, este país, o único das Américas que não devia um centavo a ninguém, inaugurou a sua dívida externa. Às suas ruínas fumegantes chegou, vindo de Londres, o primeiro empréstimo. Foi destinado a pagar uma enorme indenização ao Brasil, Argentina e Uruguai. O país assassinado pagou aos países assassinos, pelo trabalho que haviam tido ao assassiná-lo.

O Haiti também pagou uma enorme indenização. Desde que, em 1804, conquistou a sua independência, a nova nação arrasada teve que pagar à França uma fortuna, durante um século e meio, para expiar o pecado da sua liberdade.

As grandes empresas têm direitos humanos nos Estados Unidos. Em 1886, a Suprema Corte de Justiça estendeu o direitos humanos às corporações privadas, e assim continua a ser. Poucos anos depois, em defesa dos direitos humanos das suas empresas, os Estados Unidos invadiram dez países, em diversos mares do mundo.

Mark Twain, dirigente da Liga Anti-imperialista, propôs então uma nova bandeira, com caveirinhas em lugar de estrelas. E outro escritor, Ambroce Bierce, confirmou:

– A guerra é o caminho escolhido por Deus para nos ensinar geografia.

Os campos de concentração nasceram na África. Os ingleses iniciaram o experimento, e os alemães desenvolveram-no. Depois disso Hermann Göring aplicou na Alemanha o modelo que o seu pai havia ensaiado, em 1904, na Namíbia. Os professores de Joseph Mengele haviam estudado, no campo de concentração da Namíbia, a anatomia das raças inferiores. As cobaias eram todas negras.

Em 1936, o Comitê Olímpico Internacional não tolerava insolências. Nas Olimpíadas de 1936, organizadas por Hitler, a seleção de futebol do Peru derrotou por 4 a 2 a seleção da Áustria, o país natal do Führer. O Comitê Olímpico anulou a partida.

A Hitler não lhe faltaram amigos. A Rockefeller Foundation financiou pesquisas raciais e racistas da medicina nazi. A Coca-Cola inventou a Fanta, em plena guerra, para o mercado alemão. A IBM tornou possível a identificação e classificação dos judeus, e essa foi a primeira façanha em grande escala do sistema de cartões perfurados.

[...]

Artigo pescado do Diário Gauche - blog de Critóvão Feil

O Sexto Sentido.

Uma Volta ao Mundo, Dançando!