Ontem chegou-me essa foto aérea, da cidade onde eu nascí. Nela é possível identificar por trás da Igreja Sé, à direita da casa pintada de branco, o telhado da casa onde eu vim a esse mundo. A segunda casa à sua direita, fica na esquina de uma rua muito estreita, ainda hoje conhecida por "O Beco do Padre Lauro". Vejo que alí ainda está o imenso pé de sapotí, do qual me lembro quando era criança! Como é antigo esse pé de sapotí! Não? :-)))
A existência dessa foto, que depois me foi enviada, surgiu em meio a uma conversa, na qual vieram meio que misturados, a foto e uma notícia de morte. Morrera no Rio de Janeiro, no dia 17 deste mês de junho, Violeta Alencar. Ela nasceu em Araripe, bem ao sul do Ceará, mas cresceu até os 14 anos no Crato. Por isso, depois de uma celebração religiosa nessa Igreja que é a matriz da cidade, suas cinzas que foram trazidas do Rio de Janeiro, foram espalhadas sobre o jazigo da sua mãe, no cemitério local.
A existência dessa foto, que depois me foi enviada, surgiu em meio a uma conversa, na qual vieram meio que misturados, a foto e uma notícia de morte. Morrera no Rio de Janeiro, no dia 17 deste mês de junho, Violeta Alencar. Ela nasceu em Araripe, bem ao sul do Ceará, mas cresceu até os 14 anos no Crato. Por isso, depois de uma celebração religiosa nessa Igreja que é a matriz da cidade, suas cinzas que foram trazidas do Rio de Janeiro, foram espalhadas sobre o jazigo da sua mãe, no cemitério local.
O nome de Violeta Arraes, está entre os de um seleto grupo de pessoas nascidas, criadas ou que apenas tiveram alí os seus ascendentes, e que por razões diversas, principalmente ligadas à política, habituei-me a ouvir desde criança e, portanto criar em relação a eles uma certa familiaridade. Por exemplo, Bárbara de Alencar, José Martiniano de Alencar, Tristão Gonçalves, José de Alencar (o escritor e romancista, autor de "O Guarani", e de "Iracema"), e Miguel Arraes de Alencar entre outros.
Bárbara de Alencar, embora tenha nascido em Exu, também conhecida por ser a terra de Luiz Gonzaga, viveu na vizinha Crato, onde casou. Foi uma grande liderança na Revolução Pernambucana de 1817 (Sobre a qual relata o Livro "A Noiva da Revolução" de Paulo Santos de Oliveira) e também da Confederação do Equador. Ela foi avó de José de Alencar (nascido em Mecejana-Ceará), cujo pai José Martiniano de Alencar, nasceu em Icó, cidade do estado do Ceará. E sobre Tristão Gonçalves? Foi tio de José de Alencar, nascido na cidade cearense de Mecejana, irmão de José Martiniano e portanto filho de Bárbara de Alencar, o qual também participou da Revolução Pernambucana, e da Confederação do Equador. Foi brutalmente assassinado em combate no interior do ceará, em 1825, aos 36 anos.
Quantas vidas, não é? Quantas histórias! Nomes muito apropriadamente ditos "notáveis". A Violeta Arraes depois que partiu do Crato, por longo tempo, teve a sua vida entre Paris e o sertão do Carirí. Possui uma história de vida admirável, que lhe valeu ser chamada de "A Rosa de Paris", pela sua atuação solidária e de ajuda inestimável, aos exilados pela ditadura militar - ela própria tendo sido uma exilada. Vem de uma família de longevos. A sua mãe, Dona Benigna, mãe também do ex- Governador de Pernambuco Miguel Arraes e Bisavó do atual Eduardo Campos, teve uma longa vida. Miguel Arraes, quando algum adversário fazia alusão a sua idade avançada para pleitear cargo público, retrucava de modo equivalente a alegar: "mamãe não pensa assim". Começamos a nos desabituar que pessoas partam tão cedo. Talvez contribua para isso, notícias como aquela da semana passada, segundo à qual, a mãe do candidato à presidência dos Estados Unidos John McCain (71), de 98 anos, fora multada por excesso de velocidade. Por tudo isso é que lamento a morte para mim prematura, da Violeta Arraes. O que são apenas 82 anos, quando o grande arquiteto Oscar Niemayer continua trabalhando aos 102 anos? Concluindo, quem se der ao trabalho de consultar em um sistema de buscas sobre ela, haverá de entender a tristeza dos que a tendo conhecido pessoalmente, conviveram com ela. Escolhí o artigo no Blog de Luiz Nassif, escrito por Jorge Furtado, para transcrever a seguir. Jorge Furtado é o testemunho de uma das centenas de pessoas que a conheceram de perto, e que concordam que ela realmente deixou um exemplo de sabedoria e fraternidade.
Violeta Arraes.
Uma vez fiquei preso no Rio por falta de vôo e não tinha onde dormir. O Guel estava fora e me ofereceu o apartamento para passar a noite, ele não estava lá (mas a tia dele sim). Ficar hospedado na casa de um amigo sem o amigo é estranho. Ficar hospedado na casa de um amigo sem o amigo mas com a tia do amigo é mais estranho ainda. Talvez no hotel do aeroporto... Lotado. E foi assim, em minha ignorância e juventude, que conheci Violeta Arraes, a tia do Guel.
A inteligência e a simpatia de Violeta eram tão evidentes que despertavam imediatamente a vontade de ser da sua turma, sair para jantar e jogar conversa fora até de manhã. Só depois fiquei sabendo de sua vida incrível, dividida entre Paris e o sertão brasileiro. Militante política, socióloga, escritora, companheira de trabalho de Dom Hélder Câmara e de Paulo Freire, secretária de cultura, embaixadora dos exilados brasileiros na França, reitora do Universidade do Cariri, Violeta tem um currículo grande demais para ser resumido aqui.
Ficamos conversando até bem tarde, aquela conversa espichada que vai pulando de assunto, volta para trás e vai para frente, driblando o sono. Nos encontramos mais algumas vezes, era sempre um prazer ouvi-la, uma inteligência feliz e generosa, movida por uma energia adolescente.
Maria Violeta Arraes de Alencar Gervaiseau morreu ontem aos 82 anos. Deixa saudade, uma obra de grande valor e um exemplo de sabedoria e fraternidade. O que mais se pode esperar da vida?
A inteligência e a simpatia de Violeta eram tão evidentes que despertavam imediatamente a vontade de ser da sua turma, sair para jantar e jogar conversa fora até de manhã. Só depois fiquei sabendo de sua vida incrível, dividida entre Paris e o sertão brasileiro. Militante política, socióloga, escritora, companheira de trabalho de Dom Hélder Câmara e de Paulo Freire, secretária de cultura, embaixadora dos exilados brasileiros na França, reitora do Universidade do Cariri, Violeta tem um currículo grande demais para ser resumido aqui.
Ficamos conversando até bem tarde, aquela conversa espichada que vai pulando de assunto, volta para trás e vai para frente, driblando o sono. Nos encontramos mais algumas vezes, era sempre um prazer ouvi-la, uma inteligência feliz e generosa, movida por uma energia adolescente.
Maria Violeta Arraes de Alencar Gervaiseau morreu ontem aos 82 anos. Deixa saudade, uma obra de grande valor e um exemplo de sabedoria e fraternidade. O que mais se pode esperar da vida?
Fonte: Blog do Luíz Nassif (http://www.projetobr.com.br/web/blog?entryId=7850).
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