Eduardo Zancolli é um médico e escritor argentino, que durante um Congresso médico ouviu de um jornalista o seguinte conto, de autoria de Michael Ende.
"Um grupo de exploradores e cientistas europeus devia se alojar, para executar um projeto, na selva tropical de um país centro-americano.
Contrataram indígenas para que os guiassem e transportassem não apenas as tendas, mas também os alimentos e os equipamentos de que necessitariam depois que estivessem instalados. Por razões de diferenças de linguagem, só tinham possibilidade de se comunicar, de maneira elementar, com um único deles: o guia.
Já haviam passado vários dias abrindo caminho na selva, em meio a um clima extremamente úmido e quente, sempre atacados por milhares de mosquitos.
Uma manhã, quando ainda amanhecia, deram de cara com os indígenas sentados em círculo no mais absoluto silêncio.
Acharam que se tratava de algum ritual religioso e que de repente, eles se levantariam para retornar a viagem. Mas não foi assim. Tentaram, sem sucesso, falar com o guia; maltrataram, surraram e até mesmo ameaçaram os indígenas com armas, tudo inútil. Essa situação durou três dias.
Durante esse tempo, os estrangeiros fizeram todo tipo de suposições sobre o que poderia estar acontecendo e pensaram tratar-se de uma rebelião; sentaram-se para esperar que o restante da tribo chegasse para roubá-los e matá-los no meio da selva, e tantas outras coisas mais.
Mas, apesar de especulações tão "inteligentes", nada disso aconteceu. Surpreendentemente, ao amanhecer do quarto dia, os indígenas ficaram de pé, prontos, com todo o carregamento, para continuar a viagem, diante do total desconcerto dos europeus.
Depois de estar caminhando novamente há algum tempo, o chefe da expedição foi até o guia.
- Você pode me explicar o que aconteceu?
- Agora, sim - respondeu-lhe. - Havíamos caminhado muito depressa e nossas almas ficaram para trás. Foi necessário sentar e esperar até que elas conseguissem nos alcançar."
Este conto, que nos deve servir de alerta na experiência cotidiana, parece ilustrar a afirmação segundo a qual:
"Se a mente não serve de alimento ao coração
Teremos de esperar muito tempo
Para que a alma volte a nos alcançar."
Um comentário:
Belíssimo!
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