Diz-se que a filosofia começou, quando algum pensador entendeu que a verdade estava para além das aparências.
Conta-se que certo dia, um grande e sábio maestro, precisou selecionar um violinista para tocar na sua orquestra. Já ouvira vários interessados na vaga, e nenhum satisfizera o seu apurado grau de exigência. Restavam apenas dois candidatos para examinar, os quais aguardavam a sua vez.
O primeiro, impecávelmente vestido, era como se fosse apresentar-se em um concerto de gala. Tinha a barba bem feita, cabelos bem cortados e penteados e esmerara-se nos mínimos detalhes da sua aparência.
O segundo, vestido displicentemente, trajava calça e camisa rotas, tinha a barba por fazer, e os cabelos compridos estavam sujos e despenteados. Nele percebia-se um completo desleixo.
Diante do que pode observar, o maestro sentiu o ímpeto de ouvir apenas o primeiro. Porém, como falei, ele ela um grande e sábio maestro. Resolveu desconsiderar a sua vontade inicial, e decidiu que ouviria o outro também. Deixaria contudo para fazê-lo por último.
O primeiro violinista foi convidado a apresentar-se. Aproximou-se andando com elegância, retirou da caixa o seu instrumento em perfeito estado de conservação, e exibiu-se tocando bem. Mais do que isso! Tocando muito bem!
Na realidade, o resultado foi mais do que satisfatório, pois agradou sim, aquele maestro perfeccionista, que pareceu ter finalmente encontrado o músico que ele precisava. De todos que até aqui ouvira, encontrara finalmente aquele que viera a preencher os seus requisitos.
Sentiu-se como era natural, outra vez tentado a sequer ouvir o segundo candidato. Afinal, estava seguro principalmente agora, que seria uma perda de tempo. Tratava-se contudo de um maestro que parecia saber que "A verdade está além das aparências".
Chamou o segundo candidato, que veio trôpego, desajeitado e abrindo a caixa do instrumento, tirou de lá um violino todo arranhado. Recebeu o sinal para que começasse a tocar.
Vieram os primeiros acordes.
O velho maestro levantou o rosto e olhou para ele, sem disfarçar seu espanto.
Aquele violinista, era mesmo um horror!
E assim veio a se confirmar, o que dizia o Barão de Itararé:
"De onde menos se espera, é que não vem nada mesmo!"
Já o presidente americano Abraham Lincoln, parecia acreditar piamente, no que revelavam as aparências. Conta-se que um seu amigo fez-lhe a indicação de alguém para ocupar um cargo, no primeiro escalão do seu governo.
Lincoln pediu para conhecê-lo, e qual não foi a surprêsa do amigo, ao saber que a sua indicação não fora aceita.
Ele perguntou então ao Presidente:
- Por quê não?!
Ao que Lincoln respondeu:
- Porque não fui com a cara dele.
Ainda sem aceitar a negativa, ele prosseguiu:
- Mas que culpa pode ter alguém da cara que tem?
E o Presidente respondeu:
- Todo mundo acima dos quarenta anos, é responsável pela cara que tem.
Lembrei dessas estórias, hoje que estamos às vésperas de uma nova eleição. Eu diria que na política e entre os políticos, há uma verdade que se esconde mais além, e por debaixo. Ela fica de fato muito além das aparências. Mas existe outra, que está na cara de todos nós mortais.
Ainda assim, assistí ontem o debate entre os candidatos a prefeito da minha cidade. Alguns candidatos, foi para mim tão difícil ouvir, quanto para aquele velho maestro. Me dispus porém a fazê-lo. Esperei paciente e sonolento, que chegasse cada momento. A impressão que eu criara deles, era tão ruim! Eu precisava porém ouví-los.
Finalmente eles foram cada um por sua vez dizendo as suas falas, eu me espantando, me espantando, e o que eu de muito antes eu já "sabia", em um instante se confirmou.
Conclusão: Tem uma parte da verdade que está além das aparências, e outra não!
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