O Ministro da Justiça Tarso Genro já disse, que torturadores não poderiam ser beneficiados pela anistia, e deveriam responder na Justiça pelos seus crimes.
Enquanto prosseguiam as discussões, encontrei lendo o livro "O Mundo é Bárbaro e o que nós temos a ver com isso" do genial escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo, o seu artigo intitulado "O touro".
Uma análise leve, bem humorada e pertinente a questão em discussão.
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O Touro
Autor: Luis Fernando Veríssimo.
Já se disse que a alma ibérica se divide em duas, uma mais caliente e outra menos, e que Portugal é uma Espanha ponderada. A divisão estaria evidente na tourada, essa metáfora para todas as dicotomias humanas. Na Espanha matam o touro, em Portugal apenas o chateiam. Ainda não se chegou a um acordo sobre o que, exatamente, toureiro e touro simbolizam. A metáfora não é clara. Razão X Instinto? Cultura X natureza? Ou - como li em algum lugar - tudo não passa de um ritual de sedução, com o homem subjugando a Mulher, a Besta Primeva e todos os seus terrores, numa espécie de tango sangrento em que não falta uma penetração no fim? Ou o toureiro gracioso é a mulher estilizada e o touro resfolgante uma paródia de homem? Enfim, seja o que for que se decide numa arena de touros, os espanhóis terminam o ritual, os portugueses deixam pra lá.
Pensei nisso lendo sobre o livro que saiu na argentina, no qual pela primeira vez líderes militares da época, inclusive o presidente Videla, reconhecem em entrevistas as atrocidades cometidas durante a última ditadura deles. No Chile, o processo contra Pinochet revelou os crimes da repressão e permitiu que, aos poucos, a história ainda não contada dos anos terríveis se incorpore à história do país - para ser reconhecida e expiada, para que a reconciliação não signifique absolvição, para que nunca mais se repita. No Brasil a repressão foi menos assassina do que na Argentina e no Chile - se é que se pode falar em graduações de barbaridade - e ninguém teve que dar muitas explicações. No caso, a simpática irresolução portuguesa desserve a história. Pois se o touro continua vivo, o que há para expiar? Aqui venceu o deixa-pra-lá-ismo.
Já que temos de ser ibéricos, é melhor ser português. Vive-se mais longe do coração selvagem da vida, com menos drama e menos sangue. E, vez que outra, também é uma boa desculpa.
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