Esse livro resultou de um trabalho de muitos anos de pequisas em consultório e, principalmente nas viagens por ela realizadas a vários países, entre eles o Brasil.
Seu objetivo foi buscar entre as mais diversas culturas, as suas concepções relativas à existência pós - morte.
O livro baseia-se em entrevistas com quase duzentos representantes de mais de trinta grupos étnicos, culturais, religiosos e em opiniões e sentimentos de pacientes em consultório. No Brasil ela encontrou apoio do psicólogo Edmundo Barbosa, Diretor do Revida, Centro de apoio do paciente de câncer e do Instituto iniciativa Gaia, movimento pela expansão da consciência e do conhecimento humano.
A autora, buscou a partir das suas experiências, relatar o que há de comum entre os diversos sistemas de pensamento multiculturais.
Da leitura do livro, eu ressaltaria algumas conclusões pessoais.
Primeiro, fica claro para a autora, que são raras as culturas humanas que consideram a morte como o fim.
Na maioria delas, não só a vida prossegue depois da morte, como está presente a idéia da "Transmigração da Alma".
Nesse ponto há uma fartura de idéias para escolha. Alguém poderia "voltar" como um macaquinho, uma patativa, ou mesmo um jacaré. Em se tratando de "Transmigração da Alma", há crenças até para algumas possibilidades no reino vegetal. Que tal nascer como uma beterraba, ou mesmo um coqueiro, na praia de Porto de Galinhas?
(Desculpe! Eu sei que o assunto é sério! Não pense mal ou me considere irreverente. É que para alguns o assunto pode parecer pesado, e sinto uma certa vontade de suavizá-lo na medida do possível.)
A expressão "Transmigração da Alma" abrange é claro, a idéia de que as pessoas possam voltar, para mais uma vida, mesmo sendo como um ser humano. Um repeteco.
Não necessáriamente uma só vez, mas tantas quantas ainda não foi possível calcular.
Uma monumental excessão à idéia da "Transmigração da Alma", e consequentemente da "Reencarnação" - expressão normalmente usada para o caso de uma nova vida como ser humano, vem das religiões de origem semita.
Ainda assim, nelas aflora um pouco dessa teimosia em retornar ao corpo, agora de modo coletivo. Reencarnação sim, mas em grupo. Os mortos retomariam seus corpos para que pudessem participar do julgamento final. Naturalmente que como réus. Até mesmo os desembargadores! :-)))
A propósito, um aspecto largamente presente em várias religiões e culturas, é a expectativa de que haverá um julgamento. Não espere porém nenhuma concordância em relação aos detalhes. No geral porém, ninguém espera que em caso de condenação, seja concedido algum Habeas Corpus.
Quanto a isso, as maiores divergências são sobre quando ocorre o julgamento, como e por quem!
Sutis, são os que pensam que uma possibilidade será esperar por um auto-julgamento. Essa talvez seja uma idéia recente, sob a influência atual dos self services e das máquinas de auto - atendimento em geral. Não são poucas as religiões e as culturas que pensam que tudo será muito "clean", rápido, organizado e sem maiores delongas.
Entretanto, a tendência de alguém que tenha vivido em nosso país, poderá ser a de achar que esse julgamento será marcado para um instante lá pra frente da eternidade, e que a sua sentença demorará uma barbaridade até ser publicado no diário oficial. Pelo menos não há o risco de morrer antes de conhecer a sentença. Todos a esperam já mortos, tendo-lhes sobrado a alma, que na maioria das concepções é eterna.
Outro ponto de opiniões aparentemente predominantes, tem a ver com a existência de um lugar inicial de espera. Trata-se do local onde a alma é inicialmente recebida, acomodada, ambientada e tratada. Por exemplo, fica claro que em casos de fumantes, não é da percepção comum esperar que haja fumódromos. Não há condescendência com qualquer espécie de vício, e a idéia de um lugar onde ficar inicialmente inclui, para as (almas) que precisarem, um longo período de desintoxicação e tratamento.
Uma outra concepção que parece bastante generalizada, é a aceitação de que estaremos após a nossa morte, fora do tempo e do espaço. Será esquisito eu sei! Principalmente para os que vivem dizendo "já vou, senão termino chegando atrasado".
O tempo linear tal como nesse mundo conhecemos, na explicação de Einstein, é apenas para que as coisas não aconteçam todas de uma vez.
Para os que imaginam um tempo de permanência no lugar de espera, é só depois dessa estadia, que viria finalmente o julgamento e a conseqüênte destinação final.
É curioso que os homens - bomba de movimentos radicais islâmicos, crêem já sair daqui julgados e aprovados. Vão direto em busca do prêmio. Nada de sala de espera, nem período para desintoxicações. Para eles está reservado por Alá, um lugar onde correm rios de leite e de mel (!). Além disso, e creio que essa possa ser a principal motivação, lá os esperam mil mulheres virgens para cada um. Um arraso!
Em caso de mulheres bombas, claro que por elas esperariam mil jovens donzelos!
Quanto algumas idéias sobre a destinação pós - julgamento, no momento em que escrevo, permaneço com a dúvida. Não sei se mantidos estão o céu, o inferno e o prugatório. Leitores do site do Vaticano dão conta, que já sob o papado atual, o purgatório andou ameaçado de revogação. Quanto ao "Landlord" do inferno, lembro de algumas dúvidas de fiéis que andaram se atormentando quanto a sua existência real.
- O diabo realmente existe? Ou é apenas no sentido figurativo, como alguns papéis das bolsas de valores?
O papa anterior ao atual porém, bateu o martelo, e avisou: O diabo existe!
Deve ter sentido vontade de acrescentar: "... e é bom ficarem lembrados!"
Você lembra diso?
Refiro-me a se você lembra de que o Papa realmente confirmou a existência do capeta!
Fácil portanto é observar, que mesmo os adeptos de uma mesma crença, as vezes concordam no atacado, discordando no varejo.
A busca da humanidade pelo conhecimento sobre a vida após a morte, decorre da necessidade de dar um sentido a própria vida. Sob a influência milenar de sabedorias orientais a começar pela literatura védica, e até os dias atuais, acho edificante acompanhar as aventuras pessoais dos que buscam essa compreensão, através dos mais variados caminhos.
Há três exemplos que guardo, os vejo associados a busca de Deus, os quais considero comoventes:
O primeiro vem de uma entrevista do grande brasileiro que foi, Darcy Ribeiro. Ex-reitor da Universidade de Brasília, antropólogo, político, um grande entusiasta da vida. Entrevistado pelo Frei Leonardo Boff, assistí admirado a um grande exemplo de coerência, honestidade, coragem e sinceridade. Abatido pelo câncer e pelas repetidas seções de quimioterapia, ele ao comparecer ao senado federal dias antes, nem reconhecido fora, pelos seus colegas e amigos. Debilitado, aguardava para muito em breve, o dia da sua partida.
E aí, veio aquela pergunta inevitável:
- Você acredita em Deus?
Eu nem precisaria ter guardado em vídeo aquela entrevista, para reter na minha memória os mínimos detalhes de uma expressão desejosa de responder algo diferente! Estava lá estampado no seu rosto, que fizera um esforço enorme ao longo da sua vida, para alcançar Deus. Comentou sobre a admiração que tinha da mãe enferma, que tinha uma fé inabalável em Deus, a qual a acompanhou por toda a vida! E ele .... Bom! Disse o Darcy abatido: "fosse possível chegar a Deus através da razão, e eu teria chegado! Sentí tanta vontade! Mas isso não aconteceu!"
Outro exemplo me vem do famoso filósofo alemão, Arthur Schopenhauer. Disse Schopenhauer, após a leitura dos textos Vedas dos Upanixades: "Trata-se da leitura mais gratificante e mais elevada que pode existir neste mundo. Ela foi o consolo de minha vida e o será de meu morrer".
E finalmente, qual o terceiro exemplo que guardo dessas fascinantes aventuras, por esses caminhos que nos parecem vedados conhecer? Ela me vem do homem comum, bom e simples, que ainda que sem a segurança filosófica ou a fé religiosa para assegurar o seu destino, é um buscador incansável. Será ele ao final como o Darcy Ribeiro? Como Schopenhauer? Não! Ao final será como ele mesmo. Ele suscita o alerta de quem um dia afirmou: