Apenas mais um Blog.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sobre a Morte (02/03)

Drª Sukie Miller é uma psicóloga americana, psicoterapeuta de pessoas em fase terminal e autora do livro: "Depois da Vida - Desvendando a Jornada Pós - Morte."


Esse livro resultou de um trabalho de muitos anos de pequisas em consultório e, principalmente nas viagens por ela realizadas a vários países, entre eles o Brasil.


Seu objetivo foi buscar entre as mais diversas culturas, as suas concepções relativas à existência pós - morte.


O livro baseia-se em entrevistas com quase duzentos representantes de mais de trinta grupos étnicos, culturais, religiosos e em opiniões e sentimentos de pacientes em consultório. No Brasil ela encontrou apoio do psicólogo Edmundo Barbosa, Diretor do Revida, Centro de apoio do paciente de câncer e do Instituto iniciativa Gaia, movimento pela expansão da consciência e do conhecimento humano.


A autora, buscou a partir das suas experiências, relatar o que há de comum entre os diversos sistemas de pensamento multiculturais.


Da leitura do livro, eu ressaltaria algumas conclusões pessoais.
Primeiro, fica claro para a autora, que são raras as culturas humanas que consideram a morte como o fim.
Na maioria delas, não só a vida prossegue depois da morte, como está presente a idéia da "Transmigração da Alma".


Nesse ponto há uma fartura de idéias para escolha. Alguém poderia "voltar" como um macaquinho, uma patativa, ou mesmo um jacaré. Em se tratando de "Transmigração da Alma", há crenças até para algumas possibilidades no reino vegetal. Que tal nascer como uma beterraba, ou mesmo um coqueiro, na praia de Porto de Galinhas?


(Desculpe! Eu sei que o assunto é sério! Não pense mal ou me considere irreverente. É que para alguns o assunto pode parecer pesado, e sinto uma certa vontade de suavizá-lo na medida do possível.)


A expressão "Transmigração da Alma" abrange é claro, a idéia de que as pessoas possam voltar, para mais uma vida, mesmo sendo como um ser humano. Um repeteco.
Não necessáriamente uma só vez, mas tantas quantas ainda não foi possível calcular.


Uma monumental excessão à idéia da "Transmigração da Alma", e consequentemente da "Reencarnação" - expressão normalmente usada para o caso de uma nova vida como ser humano, vem das religiões de origem semita.


Ainda assim, nelas aflora um pouco dessa teimosia em retornar ao corpo, agora de modo coletivo. Reencarnação sim, mas em grupo. Os mortos retomariam seus corpos para que pudessem participar do julgamento final. Naturalmente que como réus. Até mesmo os desembargadores! :-)))


A propósito, um aspecto largamente presente em várias religiões e culturas, é a expectativa de que haverá um julgamento. Não espere porém nenhuma concordância em relação aos detalhes. No geral porém, ninguém espera que em caso de condenação, seja concedido algum Habeas Corpus.


Quanto a isso, as maiores divergências são sobre quando ocorre o julgamento, como e por quem!


Sutis, são os que pensam que uma possibilidade será esperar por um auto-julgamento. Essa talvez seja uma idéia recente, sob a influência atual dos self services e das máquinas de auto - atendimento em geral. Não são poucas as religiões e as culturas que pensam que tudo será muito "clean", rápido, organizado e sem maiores delongas.


Entretanto, a tendência de alguém que tenha vivido em nosso país, poderá ser a de achar que esse julgamento será marcado para um instante lá pra frente da eternidade, e que a sua sentença demorará uma barbaridade até ser publicado no diário oficial. Pelo menos não há o risco de morrer antes de conhecer a sentença. Todos a esperam já mortos, tendo-lhes sobrado a alma, que na maioria das concepções é eterna.


Outro ponto de opiniões aparentemente predominantes, tem a ver com a existência de um lugar inicial de espera. Trata-se do local onde a alma é inicialmente recebida, acomodada, ambientada e tratada. Por exemplo, fica claro que em casos de fumantes, não é da percepção comum esperar que haja fumódromos. Não há condescendência com qualquer espécie de vício, e a idéia de um lugar onde ficar inicialmente inclui, para as (almas) que precisarem, um longo período de desintoxicação e tratamento.


Uma outra concepção que parece bastante generalizada, é a aceitação de que estaremos após a nossa morte, fora do tempo e do espaço. Será esquisito eu sei! Principalmente para os que vivem dizendo "já vou, senão termino chegando atrasado".


O tempo linear tal como nesse mundo conhecemos, na explicação de Einstein, é apenas para que as coisas não aconteçam todas de uma vez.


Para os que imaginam um tempo de permanência no lugar de espera, é só depois dessa estadia, que viria finalmente o julgamento e a conseqüênte destinação final.


É curioso que os homens - bomba de movimentos radicais islâmicos, crêem já sair daqui julgados e aprovados. Vão direto em busca do prêmio. Nada de sala de espera, nem período para desintoxicações. Para eles está reservado por Alá, um lugar onde correm rios de leite e de mel (!). Além disso, e creio que essa possa ser a principal motivação, lá os esperam mil mulheres virgens para cada um. Um arraso!
Em caso de mulheres bombas, claro que por elas esperariam mil jovens donzelos!


Quanto algumas idéias sobre a destinação pós - julgamento, no momento em que escrevo, permaneço com a dúvida. Não sei se mantidos estão o céu, o inferno e o prugatório. Leitores do site do Vaticano dão conta, que já sob o papado atual, o purgatório andou ameaçado de revogação. Quanto ao "Landlord" do inferno, lembro de algumas dúvidas de fiéis que andaram se atormentando quanto a sua existência real.


- O diabo realmente existe? Ou é apenas no sentido figurativo, como alguns papéis das bolsas de valores?


O papa anterior ao atual porém, bateu o martelo, e avisou: O diabo existe!
Deve ter sentido vontade de acrescentar: "... e é bom ficarem lembrados!"
Você lembra diso?
Refiro-me a se você lembra de que o Papa realmente confirmou a existência do capeta!


Fácil portanto é observar, que mesmo os adeptos de uma mesma crença, as vezes concordam no atacado, discordando no varejo.


A busca da humanidade pelo conhecimento sobre a vida após a morte, decorre da necessidade de dar um sentido a própria vida. Sob a influência milenar de sabedorias orientais a começar pela literatura védica, e até os dias atuais, acho edificante acompanhar as aventuras pessoais dos que buscam essa compreensão, através dos mais variados caminhos.


Há três exemplos que guardo, os vejo associados a busca de Deus, os quais considero comoventes:

O primeiro vem de uma entrevista do grande brasileiro que foi, Darcy Ribeiro. Ex-reitor da Universidade de Brasília, antropólogo, político, um grande entusiasta da vida. Entrevistado pelo Frei Leonardo Boff, assistí admirado a um grande exemplo de coerência, honestidade, coragem e sinceridade. Abatido pelo câncer e pelas repetidas seções de quimioterapia, ele ao comparecer ao senado federal dias antes, nem reconhecido fora, pelos seus colegas e amigos. Debilitado, aguardava para muito em breve, o dia da sua partida.

E aí, veio aquela pergunta inevitável:
- Você acredita em Deus?

Eu nem precisaria ter guardado em vídeo aquela entrevista, para reter na minha memória os mínimos detalhes de uma expressão desejosa de responder algo diferente! Estava lá estampado no seu rosto, que fizera um esforço enorme ao longo da sua vida, para alcançar Deus. Comentou sobre a admiração que tinha da mãe enferma, que tinha uma fé inabalável em Deus, a qual a acompanhou por toda a vida! E ele .... Bom! Disse o Darcy abatido: "fosse possível chegar a Deus através da razão, e eu teria chegado! Sentí tanta vontade! Mas isso não aconteceu!"


Outro exemplo me vem do famoso filósofo alemão, Arthur Schopenhauer. Disse Schopenhauer, após a leitura dos textos Vedas dos Upanixades: "Trata-se da leitura mais gratificante e mais elevada que pode existir neste mundo. Ela foi o consolo de minha vida e o será de meu morrer".


E finalmente, qual o terceiro exemplo que guardo dessas fascinantes aventuras, por esses caminhos que nos parecem vedados conhecer? Ela me vem do homem comum, bom e simples, que ainda que sem a segurança filosófica ou a fé religiosa para assegurar o seu destino, é um buscador incansável. Será ele ao final como o Darcy Ribeiro? Como Schopenhauer? Não! Ao final será como ele mesmo. Ele suscita o alerta de quem um dia afirmou:

"Acredite nos que buscam encontrar a verdade, e desconfie dos que dizem tê-la encontrado".

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Sobre a Morte (01/03).

Talvez a maior certeza de um ser humano quanto ao futuro seja a da sua própria morte, embora paradoxalmente quase ninguém a espere. Quanto mais velho um sobrevivente, maior o número de vezes que passou pela dor causada pela morte dos outros. Algumas visceralmente indesejadas e inesperadas. Principalmente em nossa cultura ocidental, a convivência com a morte tende a permanecer incômoda, porque ameaçadora.

Embora algumas pessoas negem sentir medo da morte, na opinião de importantes psicoterapeutas, a "angústia da morte" está presente em TODOS de diferentes formas. A sua manifestação em cada um acontece de modo próprio, e nem sempre trata-se de algo consciente.

Em outras palavras, um terapeuta poderia muito bem lhe dizer:
- Você não tem medo da morte?! Claro que você "se pela de medo" da morte! Você é que não sabe!

Sendo assim, sentimentos negativos atribuidos a conflitos da lida diária, podem ter a sua fonte real na angústia (inconsciente) da morte.
Ainda que sem saber, os que não conseguem parar por um instante, os que precisam ter preenchidos todos os minutos do seu dia, os que entregam-se a cargas de trabalho cada vez mais absorventes, e os que não sabem se aposentar, refugiam-se no excesso de ocupações, para evitar essa dor inerente a condição humana.

Por isso se diz que para viver melhor, é preciso aprender a lidar com a morte.

Irvin Yalon, é um psiquiátra e escritor nascido americano, que aos 77 anos, aguarda em grande estilo, a aproximação da sua própria morte. Como goza de boa saúde, é provável que deverá esperar ainda por muitos anos. Enquanto isso ele continua a escrever excelentes livros, e a ajudar pessoas com medo da morte. Entre elas, ele próprio.
Ele é o autor de "Quando Nietzche chorou".
O seu livro mais recente é: "De frente para o sol - Como superar o terror da morte".
Uma alusão ao pensamento de François de La Rochefoucauld: "Nem o sol nem a morte podem ser olhados fixamente."
Nele, o autor pela primeira vez revela aspectos pessoais de sua vida, e dedica um capítulo a conselhos dirigidos a colegas psicoterapeutas.

A propósito, você já pensou sobre o que acontece depois que morremos?


Quero dizer, deixando de lado os pensamentos que provávelmente lhe foram introjetados desde a infância, você uma vez tendo deles se livrado, já pensou sobre essa questão utilizando a razão? Você escolheu "sozinho" a sua própria idéia de como seria o após morte?

Isso o Irvin Yalom certamente o fez, para chegar a plena concordância com Epicuro (341 a.C. - 271 a.C), o filósofo da Alegria".
Para eles, assim como o corpo é finito e se extingue com a morte, a alma também é finita, e se extingue junto com o corpo.
Afinal, com base em Epicuro e Yalom, ninguém precisa mesmo se preocupar. "Por que temer a morte se nunca podemos percebê-la"? "Onde a morte está, eu não estou. Não existirei mais para sentir terror, tristeza, pesar, privação. Minha consciência vai estar extinta, o interruptor desligado. Luzes apagadas". E diz ainda o Yalom: "Também encontro conforto no argumento simétrico de Epicuro: depois da morte, vou estar no mesmo estado de inexistência de antes do nascimento."

O incomparável Woody Allen, disse provávelmente baseado nesta idéia: "Não tenho medo da morte, apenas não quero estar presente quando ela chegar".

Yalom porém não faz questão que ninguém pense como ele. É um belo exemplo a ser seguido, de como não buscar prosélitos. Isso está exemplificado em sua vasta experiência profissional. Jamais ele destruiria um sistema de crença já enraizado em alguém. Ainda mais se esse sistema o ajuda a lidar melhor com o problema. Mais do que isso, quando necessário, tem ajudado a remover obstáculos para que alguém resolva a sua "angústia de morte", pela adoção de qualquer que seja o seu "sistema de pensamento".
É através do livre pensar, que surgem os abismos ideológicos.
Talvez seja um bom exemplo de abismo ideológico, o diálogo entre o Irvin Yalom e um rabino ortodoxo, durante uma seção de psicotrapia. Esse pequeno trecho do livro, que até poderá estimular a lê-lo, é na minha opinião, da parte do Yalom, um exemplo de respeito as opiniões alheias, uma prática saudável e que bem poderia tornar-se generalizada.
Diz à página 152 do seu livro, o autor:

"Anos atrás, um jovem rabino ortodoxo vindo de fora do país telefonou para pedir uma consulta. Disse que estava estudando para se tornar um terapeuta existencial mas que sentia uma dissonância entre sua prática religiosa e minhas formulações psicológicas. Concordei em vê-lo, e uma semana depois ele apareceu em meu consultório, um homem jovem e atraente, com olhos penetrantes, uma longa barba, suiças longas, um solidéo e, curiosamente, calçando tênis. Por meia hora, conversamos generalidades sobre seu desejo de se tornar terapeuta e os conflitos entre suas crenças religiosas e muitas idéias específicas em meu livro didático "Existential Psychotherapy".

De início respeitoso, seu comportamento mudou lentamente, e ele começou a expor suas crenças com um fervor que me fez suspeitar de que o real objetivo da visita era me converter à vida religiosa. (Não foi a primeira vez que fui visitado por um missionário.) Conforme a sua voz ficava mais alta e suas palavras mais velozes, eu lamentávelmente fiquei impaciente e muito àspero e descuidado do que de costume.
- Sua preocupação é justificada, rabino, - interrompí - , existe um antagonismo fuandamental entre nossas opiniões. Sua crença em um Deus pessoal, onipresente e onisciente observando, protegendo e proporcionando a você um modelo de vida é incompatível com o núcleo da minha visão existencial de uma humanidade livre, mortal e atirada sozinha e aleatoriamente em um universo hostil. Na sua opinião - continuei - a morte não é o final. Você me diz que ela é apenas uma noite entre dois dias e que a alma é imortal. Portanto sim, existe de fato um problema em seu desejo de se tornar um terapeuta existencial: nossos dois pontos de vista são diametralmente opostos.

- Mas como você - ele respondeu com imensa preocupação em seu rosto - consegue viver com apenas essas crenças? E sem um significado?
- Ele balançou o dedo indicador na minha direção. - Pense bem. Como pode viver sem uma crença em algo maior do que você mesmo? Digo-lhe que é impossível. É como viver na escuridão. Como um animal. Que sentido haveria, se tudo está destinado a desaparecer? Minha religião me proporciona sentido, sabedoria, moralidade, conforto divino, um modo de viver.
- Não considero essa uma resposta racional, rabino. Essas conveniências: sentido, sabedoria, moralidade, viver bem, não dependem de uma crença em Deus. Sim, é claro que a crença religiosa proporciona uma sensação boa, confortável, virtuosa; é exatamente para isso que religiões são criadas. Você perguntou como consigo viver. Acho que eu vivo bem. Sou guiado por doutrinas criadas por humanos. Acredito no juramento hipocrático que fiz como médico e me dedico aos outros se curarem e crescerem. Vivo uma vida moral. Sinto compaixão por aqueles ao meu redor. Tenho uma relação carinhosa com a família e amigos. Não preciso que a religião me proporcione uma bússola moral.
-Como pode dizer isso? - ele interrompeu. - Lamento muito por você. Há momentos em que sinto que, sem meu Deus, meus rituais diários e minhas crenças, não poderia viver.
- E há momentos - respondi, perdendo completamente a paciência - em que penso. que , se tivesse que devotar minha vida à crença no incrível, passar o dia segundo um regime de 613 regras diárias e glorificar um Deus que ama a exaltação humana, eu consideraria me enforcar!
Nesse momento o rabino ergueu a mão para o seu solidéu. "Ah, não", pensei, "ah, não, ele não vai desistir. Fui longe demais! Longe demais! Disse impulsivamente mais do que gostaria". Nunca desejei minar a fé religiosa de alguém.
Mas não, ele estava simplesmene se esticando para coçar a cabeça e expressar um espanto desconcertante quanto ao enorme abismo ideológico que nos separava e quanto ao meu grande afastamento da minha herança e antecedentes culturais. Terminamos nossa sessão de maneira cordial e nos separamos, ele para o norte, eu para o sul. Nunca fiquei sabendo se ele continuou o estudo de psicoterapia existencial."


Cada pessoa tem um papel fundamental na criação da sua própria realidade.

Ou não?


Bom! Isso aqui é apenas um blog, se eu não morrer, pretendo voltar ao assunto na próxima postagem.

:-)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Marx, Agora Para Capitalistas.

Crise em Wall Street, queda do neoliberalismo, ansiedade generalizada e eis que ressurge o Karl Marx.

O historiador Eric Hobsbawm em entrevista a Marcello Masto, recomenda a leitura do pensador alemão.

Diz ele: "Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista."

... e são os capiatalistas que hoje redescobrem Marx!

O George Soros, "homem de negócios" e pensador liberal, disse:

"Ando lendo Marx e há muitas coisas interessantes no que ele diz."

(A gente nunca saberá quando já viu tudo!)

Fonte: Site Carta Maior.

Clique no título acima, para acessar a entrevista.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Brasil 2009: Crescimento Mínimo, 2,5%.

"Em 218 anos foram 46 crises, e o seu tempo de duração é de aproximadamente 20 meses.

É assim mesmo que funciona a economia de mercado.

O momento deve ser enfrentado com inteligência e ousadia.

O Brasil não precisa importar a crise!

É preciso ter otimismo.

Mesmo que o Brasil parasse agora, em 2009 ainda cresceria 2,5 %."


Palavras da Salva ...


Digo, Palavras do Delfim Neto.


(A gente nunca saberá quando já viu tudo!)

Fonte: Entrevista à TV Cultura, em 20 de outubro de 2008.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Nós e Nossas Origens.

Está em discussão a recente proposta de revisão da Lei 6683 de 28 de agosto de 1979 - A Lei da Anistia.

O Ministro da Justiça Tarso Genro já disse, que torturadores não poderiam ser beneficiados pela anistia, e deveriam responder na Justiça pelos seus crimes.


Enquanto prosseguiam as discussões, encontrei lendo o livro "O Mundo é Bárbaro e o que nós temos a ver com isso" do genial escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo, o seu artigo intitulado "O touro".


Uma análise leve, bem humorada e pertinente a questão em discussão.


Você vai gostar!


O Touro


Autor: Luis Fernando Veríssimo.


Já se disse que a alma ibérica se divide em duas, uma mais caliente e outra menos, e que Portugal é uma Espanha ponderada. A divisão estaria evidente na tourada, essa metáfora para todas as dicotomias humanas. Na Espanha matam o touro, em Portugal apenas o chateiam. Ainda não se chegou a um acordo sobre o que, exatamente, toureiro e touro simbolizam. A metáfora não é clara. Razão X Instinto? Cultura X natureza? Ou - como li em algum lugar - tudo não passa de um ritual de sedução, com o homem subjugando a Mulher, a Besta Primeva e todos os seus terrores, numa espécie de tango sangrento em que não falta uma penetração no fim? Ou o toureiro gracioso é a mulher estilizada e o touro resfolgante uma paródia de homem? Enfim, seja o que for que se decide numa arena de touros, os espanhóis terminam o ritual, os portugueses deixam pra lá.

Pensei nisso lendo sobre o livro que saiu na argentina, no qual pela primeira vez líderes militares da época, inclusive o presidente Videla, reconhecem em entrevistas as atrocidades cometidas durante a última ditadura deles. No Chile, o processo contra Pinochet revelou os crimes da repressão e permitiu que, aos poucos, a história ainda não contada dos anos terríveis se incorpore à história do país - para ser reconhecida e expiada, para que a reconciliação não signifique absolvição, para que nunca mais se repita. No Brasil a repressão foi menos assassina do que na Argentina e no Chile - se é que se pode falar em graduações de barbaridade - e ninguém teve que dar muitas explicações. No caso, a simpática irresolução portuguesa desserve a história. Pois se o touro continua vivo, o que há para expiar? Aqui venceu o deixa-pra-lá-ismo.

Já que temos de ser ibéricos, é melhor ser português. Vive-se mais longe do coração selvagem da vida, com menos drama e menos sangue. E, vez que outra, também é uma boa desculpa.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Verdade X Aparência.

Diz-se que a filosofia começou, quando algum pensador entendeu que a verdade estava para além das aparências.

Conta-se que certo dia, um grande e sábio maestro, precisou selecionar um violinista para tocar na sua orquestra. Já ouvira vários interessados na vaga, e nenhum satisfizera o seu apurado grau de exigência. Restavam apenas dois candidatos para examinar, os quais aguardavam a sua vez.


O primeiro, impecávelmente vestido, era como se fosse apresentar-se em um concerto de gala. Tinha a barba bem feita, cabelos bem cortados e penteados e esmerara-se nos mínimos detalhes da sua aparência.


O segundo, vestido displicentemente, trajava calça e camisa rotas, tinha a barba por fazer, e os cabelos compridos estavam sujos e despenteados. Nele percebia-se um completo desleixo.


Diante do que pode observar, o maestro sentiu o ímpeto de ouvir apenas o primeiro. Porém, como falei, ele ela um grande e sábio maestro. Resolveu desconsiderar a sua vontade inicial, e decidiu que ouviria o outro também. Deixaria contudo para fazê-lo por último.


O primeiro violinista foi convidado a apresentar-se. Aproximou-se andando com elegância, retirou da caixa o seu instrumento em perfeito estado de conservação, e exibiu-se tocando bem. Mais do que isso! Tocando muito bem!


Na realidade, o resultado foi mais do que satisfatório, pois agradou sim, aquele maestro perfeccionista, que pareceu ter finalmente encontrado o músico que ele precisava. De todos que até aqui ouvira, encontrara finalmente aquele que viera a preencher os seus requisitos.


Sentiu-se como era natural, outra vez tentado a sequer ouvir o segundo candidato. Afinal, estava seguro principalmente agora, que seria uma perda de tempo. Tratava-se contudo de um maestro que parecia saber que "A verdade está além das aparências".


Chamou o segundo candidato, que veio trôpego, desajeitado e abrindo a caixa do instrumento, tirou de lá um violino todo arranhado. Recebeu o sinal para que começasse a tocar.


Vieram os primeiros acordes.


O velho maestro levantou o rosto e olhou para ele, sem disfarçar seu espanto.


Aquele violinista, era mesmo um horror!


E assim veio a se confirmar, o que dizia o Barão de Itararé:

"De onde menos se espera, é que não vem nada mesmo!"

Já o presidente americano Abraham Lincoln, parecia acreditar piamente, no que revelavam as aparências. Conta-se que um seu amigo fez-lhe a indicação de alguém para ocupar um cargo, no primeiro escalão do seu governo.


Lincoln pediu para conhecê-lo, e qual não foi a surprêsa do amigo, ao saber que a sua indicação não fora aceita.


Ele perguntou então ao Presidente:

- Por quê não?!

Ao que Lincoln respondeu:

- Porque não fui com a cara dele.


Ainda sem aceitar a negativa, ele prosseguiu:

- Mas que culpa pode ter alguém da cara que tem?

E o Presidente respondeu:

- Todo mundo acima dos quarenta anos, é responsável pela cara que tem.

Lembrei dessas estórias, hoje que estamos às vésperas de uma nova eleição. Eu diria que na política e entre os políticos, há uma verdade que se esconde mais além, e por debaixo. Ela fica de fato muito além das aparências. Mas existe outra, que está na cara de todos nós mortais.

Ainda assim, assistí ontem o debate entre os candidatos a prefeito da minha cidade. Alguns candidatos, foi para mim tão difícil ouvir, quanto para aquele velho maestro. Me dispus porém a fazê-lo. Esperei paciente e sonolento, que chegasse cada momento. A impressão que eu criara deles, era tão ruim! Eu precisava porém ouví-los.


Finalmente eles foram cada um por sua vez dizendo as suas falas, eu me espantando, me espantando, e o que eu de muito antes eu já "sabia", em um instante se confirmou.


Conclusão: Tem uma parte da verdade que está além das aparências, e outra não!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Um Jogo Perigoso com o Tempo.

Gabor Steingart, correspondente em Washington da revista alemã Der Spiegel, escreveu um interessante artigo, sobre a crise financeira americana. Título, "Os Estados Unidos: O país onde o fracasso é recompensado".
Ele aponta o erro do mundo do capital (sem capital), tratar o dinheiro antecipado como real, e "de entender desejo como realidade".

Comenta sobre o refinamento das atitudes dos cultuadores do Deus dinheiro, e lembra um comentário de 170 anos atrás, quando Alexis de Tocqueville observou, em ralação aos Estados Unidos: "De fato, não conheço nenhum país no qual o amor pelo dinheiro tenha se estabelecido tão fortemente no sentimento dos homens."

O artigo é recomendável para quem queira conhecer um pensamento realmente lúcido a respeito dessa preocupante questão atual. O artigo embora traduzido pelo UOL, está publicado em um local desse site reservado aos seus assinantes.

Por esse motivo, mesmo que eu fornecesse o link para ele, o acesso estaria limitado aos assinantes UOL.

Sendo assim precisei trazê-lo para o Blog, onde você poderá ler a seguir.

O autor, face as circunstâncias que são por ele apontadas, termina por concluir que "Teve início um jogo perigoso com o tempo."

I'm Sorry!

01.10.2008
Fonte: Der Spiegel (Tradução Universo On Line)
Autor: Gabor Steingart

Estados Unidos da América: o país onde o fracasso é recompensado.
Na atual crise financeira, o modelo de capitalismo dos Estados Unidos implodiu com um grande estrondo. Mas o governo Bush está tentando extinguir as chamas com mais combustível, em vez de água, e quer que os apostadores de Wall Street sejam recompensados pelo fracasso.
Mais de cem anos atrás, o sociólogo alemão Georg Simmel criticou os bancos por ficarem cada vez maiores e mais poderosos do que as igrejas. A sua principal queixa - a de que o dinheiro é o novo deus dos nossos tempos - ainda é ouvida nos dias de hoje. Se Simmel estava certo, e há indicações de que de fato estava, a declaração teria que ser modificada para coadunar-se com as circunstâncias atuais: nem todo mundo reza para o mesmo deus.Entre o grupo de adoradores de dinheiro, existem pelo menos três fés. A primeira é a dos Puritanos, que carregam pacientemente o dinheiro deles para as novas igrejas, esperando que ele se multiplique. O chinês típico, por exemplo, deposita 40% dos seus rendimentos em bancos. Que disciplina louvável! E há também os Pragmáticos. Estes poupam e emprestam, mas somente nesta ordem; a poupança é o fator que limita a ousadia deles. Esta linha é especialmente comum nos países germânicos, nos quais o banco de poupança é o templo religioso.Finalmente, temos a comunidade religiosa dos Desinibidos, que é especialmente popular nos Estados Unidos. Os seus seguidores não se acanham em admitir a falta de cautela, o desperdício extravagante e a cobiça onipresente. Eles chamam isto de "American way of life" ("estilo de vida americano"). Os seus membros vivem no aqui e no agora, sem fazer perguntas sobre o amanhã. Um empresta dinheiro ao outro, mesmo que o dinheiro não lhes pertença. Em vez disso, eles tomam quantias emprestadas com uma terceira pessoa, que prometeu conseguir o dinheiro com um quarto indivíduo - e assim por diante.
Southampton: o início do rastro de evidências.
Esta comunidade religiosa é a mais fervorosa de todas. Há algum tempo, ela adotou a prática de tratar dinheiro antecipado como dinheiro real e de entender desejo como realidade. Atualmente ela não conta mais com nenhum fragmento de inibição.Como todos sabiam que havia mais desejos do que dólares, o resultado inevitável foi uma certa lacuna de financiamento, ou déficit. Capitalismo sem capital - o núcleo audacioso desta inovação - não poderia funcionar. Não há salvação terrena - pelo menos esta foi uma conclusão quanto à qual o antigo Deus, aquele que carregou a cruz, e o novo deus, o que traz cifrões nos olhos, poderiam concordar. E, assim, o inevitável ocorreu: o big bang. Três entre cada cinco bancos de investimento dos Estados Unidos perderam a independência, e os outros dois ainda estão afundando. Dois bancos de hipotecas e uma companhia de seguros encontram-se agora sob administração governamental.O sistema financeiro global foi abalado, horrorizando os membros das outras duas fés. Pode haver três religiões, mas só há um céu. Se este cair, todos morrem.Uma busca por evidências a fim de identificar os responsáveis deveria provavelmente começar em Southampton, um reduto da elite endinheirada. Nesta cidade, na parte leste de Long Island, perto da cidade de Nova York, é possível presenciar o quanto a cobiça pode ser atraente. Trata-se de um lugar no qual as opções de ações foram transformadas às centenas em castelos de contos de fadas à beira-mar. Aproveitando-se das brechas tarifárias, os gurus financeiros de Wall Street conseguiram retirar os seus bônus da cidade mais ou menos intactos. Segundo a legislação tributária dos Estados Unidos, a compensação na forma de ações e garantias é taxada em menos da metade do índice mais elevado de impostos. Como resultado, a taxa tributária que incide sobre os rendimentos de muitos banqueiros é inferior àquela a que estão sujeitos os salários das suas secretárias. Como menos transformou-se em mais.
Os donos destas mansões à beira-mar não estão lá neste momento, de forma que uma investigação mais profunda requer uma viagem de trem até Nova York. No arranha-céu de Midtown que abriga os escritórios do Lehman Brothers, que está em processo de encerramento da sua história, há muito o que descobrir a respeito da seqüência de eventos. Bilhões de dólares foram emprestados a pessoas que não tinham crédito para que elas adquirissem condomínios e casas de pouco valor. No jargão alegre e cínico dos banqueiros, esse tipo de empréstimo foi batizado de "NINA", acrônimo de "No Income, No Asset" ("Sem renda, sem bens").Mas mesmo assim as coisas andavam bem no mundo dos financiadores. O aumento miraculoso da oferta de dinheiro contribuiu para que o preço de imóveis subisse mais de 70% entre 2000 e 2006. A indústria conseguiu obter lucros aumentando o risco. Pelo menos na folha de balanço, o menos se transformou em mais. Em tempos melhores, alguém poderia ter chamado os banqueiros de empreendedores; atualmente, eles são chamados de irresponsáveis. Antes mesmo do surgimento da expressão banco de investimentos, Karl Marx sabia como as duas coisas estavam vinculadas: "O capital tem tanto horror à ausência de lucro ou de um lucro muito pequeno quanto a natureza tem horror ao vácuo. Com um lucro apropriado, o capital é despertado; com 10% de lucro, ele pode ser usado em qualquer lugar; com 20%, torna-se vivaz; com 50%, fica positivamente ousado; com 100%, ele esmagará com os pés todas as leis humanas; e com 300%, não existe crime que ele não se disponha a cometer, ainda que se arrisque a ir para a cadeia".
A fé de Paulson.
Agora o rastro conduz de Nova York a Washington, onde o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, tem o seu gabinete na Avenida Pensilvânia. O seu ministério é tão importante que há um portão ligando o subsolo do Departamento do Tesouro ao da Casa Branca. A atitude adotada por Paulson em relação aos bancos foi a de deixá-los atuar livremente, e ele agora pretende assumir os prejuízos dessas instituições. Para os altos círculos financeiros, ele tornou-se algo como uma garantia extra. O objetivo dele é eliminar a ameaça de cadeia - mas não a cobiça. Paulson já foi um banqueiro de Wall Street. Ele é um homem de boas maneiras e princípios firmes. Em tempos normais, ele tem fé no mercado, em Deus e em George W. Bush. Mas em tempos como estes, ele prefere depositar a sua fé no governo, no contribuinte e em Bush. Ao contrário do que muito se anunciou, Paulson não pretende utilizar as rendas obtidas com impostos para financiar o pacote de socorro aos bancos. Em vez disso, a intenção dele é tomar novos empréstimos de bilhões de dólares em nome do Tesouro dos Estados Unidos. "Detesto o fato de termos que fazer tal coisa, mas isto é a melhor do que a única outra alternativa", disse ele na semana passada. O presidente já deu o seu sinal de aprovação.É isso o que acontece com as comunidades religiosas quando sofrem pressões: elas tornam-se ainda mais fervorosas. A idéia é que o mesmo tipo de pensamento de curto prazo que provocou o desastre vá agora pôr um fim a esta situação calamitosa. O governo está tentando extinguir o fogo com combustível, e não com água. Na verdade, este é exatamente o mesmo combustível que deu início ao incêndio em Wall Street: dinheiro emprestado.A única diferença é que os novos empréstimos não virão do sexto, do sétimo ou do oitavo membro da comunidade religiosa. Eles serão coletados de todos os contribuintes. Isso significaria o fim da separação entre igreja e Estado, sendo que Wall Street se tornaria a religião nacional. Os pontos em comum com as outras duas comunidades religiosas já estão desaparecendo. Coisas que na época da tradicionalmente honrada economia de mercado eram consideradas inseparáveis - como valor e consideração, salário e desempenho, risco e responsabilidade - estão sendo agora rasgadas em nome do governo. O capitalismo atualmente exibido pelos Estados Unidos é uma versão rota e degradada daquilo que costumava ser. As ações dos políticos estão amplificando, em vez de mitigar, os efeitos do fracasso econômico. O capitalismo no estilo norte-americano ainda não morreu, mas está simplesmente preparando o seu próprio falecimento. A história destes dias é a história de uma morte que já foi anunciada. O que nos leva a Miss Marple.
Começou um jogo perigoso com o tempo.
A detetive amadora imaginada por Agatha Christie, baseada na avó da escritora, era equipada com algo mais do que apenas um senso de humor e uma compreensão da natureza humana. Ela também tinha experiência em relação a coisas óbvias que ninguém acredita serem possíveis - até que elas aconteçam. No seu romance de 1950, "A Murder is Announced" ("Convite para um Homicídio"), Christie olhou para o futuro de maneira cômica.A história transcorre mais ou menos assim: certa manhã, os cidadãos leram a seguinte mensagem nos classificados de um jornal local: "Um assassinato foi anunciado e ocorrerá na sexta-feira, 29 de outubro, em Little Paddocks, às 18h30. Amigos, por favor aceitem isto, a única intimação". Na hora designada, metade da vila reuniu-se na casa onde o assassinato supostamente aconteceria. A advertência é tratada como uma piada frívola, que ninguém desejaria rejeitar. Serve-se sherry aos presentes. O grupo é tomado por um pânico coletivo. Exatamente às 18h30, as luzes apagam-se."Não é maravilhoso?", diz uma voz feminina. "Estou trêmula".Quando as luzes voltam a acender-se - para a surpresa de todos - um crime foi cometido. E agora nós, assim como os presentes na sala em Little Paddocks, estamos de pé, sussurrando, tomados pelo medo coletivo, aguardando para ver o que acontecerá a seguir. E ninguém acredita seriamente que um crime de verdade está prestes a ocorrer."Todos estavam em silêncio e ninguém se movia. Todos olharam para o relógio... Quando a última nota terminou, todas as luzes apagaram-se. Murmúrios de alegria e gritinhos femininos de satisfação foram ouvidos no escuro. 'Está começando', gritou a senhora Harmon, extasiada".
Um futuro vendido.
Quem quer que espere receber um alerta antecipado deveria simplesmente expandir o seu campo de visão enquanto as luzes permanecerem acesas. As companhias de cartão de crédito dos Estados Unidos não estão em uma situação significativamente melhor do que os bancos. Elas também venderam o futuro e até mesmo uma parcela do período posterior a ele. A indústria automobilística norte-americana também se encontra seriamente combalida e tem dificuldades para estender as suas linhas de crédito no mercado aberto. A indústria perdeu mais de 300 mil empregos desde 1999. Mas qual é o benefício disto se são os gerentes - e não os trabalhadores - os culpados pela crise? A enorme conta dos Estados Unidos com a compra de petróleo - cerca de US$ 500 bilhões (? 345 bilhões) - é atualmente paga com dinheiro emprestado pela China. A cada dia útil, a dívida externa dos Estados Unidos aumenta em quase US$ 1 bilhão (? 690 milhões). Provavelmente a pílula mais amarga de engolir nos Estados Unidos de hoje é o fato de os lares privados não estarem administrando as suas finanças de maneira melhor do que os executivos de corporações. Estes lares vêem o reflexo de suas imagens nos banqueiros de Wall Street, e não uma espécie de figura destorcida de si próprios. "De fato, não conheço nenhum país no qual o amor pelo dinheiro tenha se estabelecido tão fortemente no sentimento dos homens", observou Alexis de Tocqueville 170 anos atrás. A conversa há muito necessária entre o governo e os governados ainda não se materializou. Essa teria que ser uma conversa a respeito da relação entre a economia e os valores, sobre a recuperação daquilo que se perdeu, em vez de sobre expansão. A palavra frugalidade - que desapareceu do vocabulário dos Desinibidos - deveria ser reintroduzida.Mas não há sinal de que nada disso esteja acontecendo. Os Estados Unidos de hoje são muito estadunidenses para sobreviverem na sua forma atual. Mas os Estados Unidos atuais são também muito orgulhosos para perceberem isto. Os fiéis dificilmente permitiriam que alguém os convertesse. Assim, a nossa compreensão dos acontecimentos continua ficando cada vez menos clara. Teve início um jogo perigoso com o tempo."O ruído de duas balas sacudiu a complacência da sala. Subitamente, o jogo não era mais um jogo. Alguém gritou... 'Luzes'. 'Não consegue encontrar um isqueiro?'...'Oh, Archie, quero sair daqui'".

O Sexto Sentido.

Uma Volta ao Mundo, Dançando!