Sydney, Juracy e eu!
Hoje é dia de um incrível jubileu!
Não é que o tempo logo passe.
Penso que o tempo nem liga para a gente.
Mas, é que há lembranças que permanecem vívidas, de tão boas e intensas.
A que hoje relembro e festejo, é dessas.
Faria tudo de novo.
Se pudesse escolher, de preferência escolheria começar pelo final, nele me demorando um bocado.
Justificado isso estaria pela proximidade maior do meu AGORA, e das alegrias vividas ao longo dessas duas últimas décadas.
Elas puderam ser por mim muito bem aproveitadas.
O momento é portanto de fazer UM BRINDE.
Não um brinde à aposentadoria ou mesmo à vida.
Um brinde, isso sim, ao que de melhor podemos fazer com ELAS.
Aproveito então para compartilhar com vocês, a minha mensagem de "despedida":
Caros Colegas,
Iniciei na Chesf em 09 de setembro de 1974.
Portanto há 21 anos.
Foi a execução de um Projeto a longo prazo.
Este Projeto surgira, quando dez anos antes, eu ainda estudava para fazer o meu vestibular.
Do Projeto passei ao seu Planejamento, após ser submetido aos “Ensaios de Rotina”, durante o meu Curso de Mestrado na chamada “Escola de Campina Grande”.
Finalmente na Chesf, fui Comissionado para operar inicialmente na Gerência Regional de Salvador.
Lá permaneci energizado, literalmente falando, durante quase quatro anos.
Diferentemente de alguns bancos de capacitores e reatores que nem sempre precisavam estar ligados, estive por todo este tempo operando continuamente.
Ali, nem sempre era possível trabalhar submetido às próprias condições nominais, pois que constantes sobrecargas precisavam me ser impostas, para que fosse possível assegurar a confiabilidade do sistema.
Tenho bem vivos em em minha memória, incríveis momentos de grandes contingências operacionais e pessoais.
Elas misturavam-se ao longo das intensas jornadas de manutenções e requisições da operação.
Lembrarei para sempre das manutenções que, quando programadas, eram infalivelmente para serem realizadas durante os regimes de carga leve dos sábados e domingos.
Lembrarei, em particular, dos Compensadores Síncronos da SE Matatu, que por serem imprescindíveis ao Sistema, tinham as suas manutenções preventivas programadas para a partir da zero hora.
Foi porém durante os desligamentos acidentais, que pude sentir a quantas ia a minha pressão arterial.
Ela aumentava junto com as batidas do meu coração.
Por falar em desligamento, os desligamentos, em geral, costumam mesmo fazer bater mais depressa os corações.
Lá na Bahia, aquele tempo era anterior à Subestação de Camaçari, a qual só entrou em operação depois de mim!
Pituçu só existia no papel.
Mas era tempo da Usina Flutuante de Aratu.
Já estavam lá as SE´s de Matatu, Cotegipe, Catu, Governador Mangabeira e Funil.
Embora já desativada, também ainda existia para quem quisesse ir conhecer, a outrora tão importante Usina de Bananeiras! Que um dia supriu Salvador.
Portanto, lá na Bahia, eu sempre tive muito para onde ir!
Também foi um tempo rico de Folclore.
Lembro do histórico Ensaio de Malha de Terra, no qual Sérgio Ferreira contava, que ao enfiar a haste no solo, depois de abrir uma picada pelo meio do mato, assustou-se ao ver jorrar petróleo. Na realidade, apesar da decantada riqueza do solo baiano, ele apenas acertara bem em cima de um oleoduto da Petrobrás.
Lembro do dia em que o zeloso Operador Encarregado de uma Subestação, exigiu nervosamente ao colega Dorgival, que fosse dispensado aos Operadores da sua Subestação, um tratamento “unifilar” para todos.
Naquela época, o Despacho de Carga situava-se na própria SE Matatu, um lugar para onde o mesmo Dorgival ia com muita freqüência, pois morava em uma residência situada em terreno da própria subestação. Não admira que, tendo em vista a natureza mística da Bahia, certo dia, ao ser procurado por um amigo, a empregada de sua casa informou que ele havia saído para “fazer um despacho”.
Entre tantas e tão curiosas histórias, lembro contudo de uma que gostaria de destacar, porque há nela um aspecto que me chamou a atenção.
Eu alcancei o tempo em que a Chesf ainda operava as Subestações de apenas 69 kV. Havia então uma pequena Subestação, situada no alto de uma colina, a qual supria uma cidade cujas luzes podiam dela ser avistadas, ao anoitecer.
Certo dia um Operador desta SE, convidou um amigo para ir com ele à noite visitar a Subestação. Lá chegando, colocou-se à frente do painel de comando, junto à chave que comandava o disjuntor geral, e disse para o amigo: “estás vendo aquelas luzes todas lá embaixo? Se eu quiser, apago é tudo. Quer ver?” E em seguida abriu o disjuntor geral. “Não disse?” Agora, se quiser eu ligo”. E fechou o disjuntor geral. Em seguida ainda repetiu a demonstração! Ligando e desligando o disjuntor geral, dizia: “ apagou, acendeu, apagou, acendeu...”. O amigo dele deve ter ficado extasiado com a demonstração.
De fato, para aquele Operador, embora lhe faltasse compreender o espírito da coisa, só não era mesmo possível apagar, da sua consciência, a importância que tinha o seu trabalho.
Ele se sentia orgulhoso por ser Operador daquela pequena Subestação. Apenas necessitou demonstrar este seu orgulho de uma forma desastrada, ainda que convincente.
Por ter começado a minha vida na Chesf na Bahia, este sentimento da importância do trabalho que todos nós desempenhamos, para uma Empresa do alcance social da Chesf, foi portanto em mim, um sentimento baiano de nascimento.
E que prosseguiu depois em Recife, para onde fui “remanejado” a partir de janeiro de 78.
Vim atraído por um instante verdadeiramente importante da vida profissional dos que então já trabalhavam na Chesf. Foi a época da “chegada do 500 kV”.
Inicialmente, foram outros quatro anos de trabalho no antigo DTE, onde a maior parte do tempo participei do Comissionamento das nossas instalações de 500 kV, no antigo GPCS.
Foi naquela época que a palavra Comissionamento se popularizou. A propósito, um dia eu viajava para Teresina, quando durante o vôo, um passageiro ao meu lado me perguntou: “Onde você trabalha?” Respondi que trabalhava na Chesf. Em seguida, ele me perguntou: “E o que é a Chesf?” Eu então lhe expliquei. Prosseguiu ele, desta vez indagando: “E o que é que você faz na Chesf?” Respondi: trabalho no Comissionamento. E foi aí que ele perguntou: “E de quanto é a comissão?”
Pouco antes porém de trabalhar no “Comissionamento”, participei juntamente com os colegas Mário Kano, Alexander Saunders e Luiz Augusto, da criação da Divisão de Subestações – a antiga DOSE.
De Mário Kano, do folclórico Mário Kano, lembro de como costumava preparar-se minunciosamente para as reuniões que coordenava. Certa vez, ele iniciou uma reunião, dizendo: “Caros Colegas, tenho algumas perguntas para fazer, a cada um de vocês. Porém para facilitar, já trago prontas todas as respostas que será possível vocês darem a cada pergunta que eu fizer. Portanto, nossa reunião deverá ser como acontece naquela hora de um casamento, na qual o padre pergunta, e aos noivos basta responder SIM ou Não.”
Foi daquela época o meu relacionamento profissional com Luiz Fernando, que conheci quando ainda trabalhava em Salvador, o qual, sempre que me convidava para ir trabalhar com ele na DEEQ (atualmente DEBS), acontecia de eu terminar sendo transferido do órgão onde estava lotado, para algum outro lugar.
Os seus convites sempre me ajudaram a ser transferido. Primeiro, do SOTS de Salvador para o DTE em Recife. E depois, do GCPS para a DOEL.
Até hoje porém, tenho a impressão de ter trabalhado também, na antiga DEEQ!
E finalmente em 82 cheguei à DOEL, onde permaneci durante 13 anos.
A DOEL de Saulo, de Graça, de Ceça, de Àlvaro, a DOEL de Noronha, de Edjair, a DOEL de Sydney, TOIM... A DOEL de tantos quantos lá estiveram, desde o seu começo, a DOEL dos demais que ao chegar encontrei, daqueles que foram chegando depois, a DOEL dos que estão acabando de chegar, a DOEL de todos nós.
Guardarei deste período da minha vida na Chesf, preciosas recordações. O privilégio de ter um dia convivido com vocês, enriqueceu-me sobre os mais variados aspectos, tornando esta fase, para mim, de valor inestimável.
Sinto-me feliz por ter podido participar ao lado de vocês, da construção dos nossos ideais profissionais, tendo sempre a preocupação de preservar os valores essenciais da vida.
Por tudo isso é que desejo ressaltar que gostaria que isso pudesse não ser considerado uma despedida! Gosto muito de todos vocês. Sei que tenho muitos amigos na Chesf, muitos estão aqui presentes. Continuaremos a nos encontrar e a trocar idéias, ainda que de forma menos rotineira. Diminuiremos as horas de convivência, mas poderemos nos esmerar na qualidade dos momentos que, a partir de agora, nos for dado conviver.
Minhas palavras finais não poderiam ser senão de agradecimento a todos vocês, por cada um dos momentos que me foi permitido conviver, usufruindo das ricas oportunidades que tive de crescimento profissional e pessoal.
Desejo, a todos que vão prosseguir, que possam manter viva a esperança na superação das atuais dificuldades. Sempre que sonho com ricas possibilidades futuras para esta nova etapa da minha vida, faço votos para que feliz também seja cada um de vocês. Que os anseios mais profundos dos seus corações, tanto no plano profissional como no plano pessoal, individual, sejam enfim realizados. E que possamos todos ser muito felizes.
Ainda agora à tarde, Sandra Maciel nos entregou, a Juracy, Sydney e a mim, uma coletânea de ricas mensagens. Um presente de grande sensibilidade e beleza. Gostaria então de concluir, lendo para vocês, o que acredito ser um trecho da famosa declaração dos direitos do Homem, de Thiago de Melo. Ele vale naturalmente para os que saem, mas também para os que permanecerão
“Fica decretado que
Agora vale a verdade,
Que agora vale a vida
E que de mãos dadas
Trabalharemos todos
Pela vida verdadeira.”
Um grande abraço a todos. Nos veremos...
José Jucá Júnior
22 de setembro de 1995
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