É lamentável que no lugar do Bush, por falta de agilidade, pessoas amáveis teriam sido atingidas em cheio.
Sapatos não acertam Bush no Iraque, mas recado é correto.
( Diz Caio Blinder, de Nova York)
NOVA YORK- As vezes quero crer, mas não consigo, é tudo uma total insesatez. George W. Bush ainda está presidente dos EUA. Ele é o responsável pelo desastre. Mais uma vez a proximidade do final melancólico foi relembrada na visita do presidente a Bagdá no domingo. Melhor dizer um final patético. Um jornalista iraquiano atirou sapatos contra Bush durante uma entrevista coletiva. Em uma metáfora da politica do presidente americano, ele errou o alvo. No entanto, acertou no recado, apesar da grosseria, em todos os sentidos. Na cultura iraquiana, atirar sapatos em alguém é uma expressão de desprezo.
A visita de Bush era uma "incerta" para vistoriar a obra iraquiana, supostamente a maior de sua presidência. Saraivada de sapatos à parte, esta viagem de Bush (pouco mais de um mês antes do final do governo) era destinada a mostrar os progressos de segurança no país. De fato, desta vez, as condições eram melhores do que nas anteriores e o presidente esteve em Bagdá, entre outras coisas, para ratificar o pacto de segurança que estipula a retirada das tropas americanas dentro de três anos.
Mas esta última volta da vitória de Bush não é uma vitória. A invasão foi um erro estratégico (apesar da derrubada e morte do tirano Saddam Hussein) e o fiasco, ao lado da crise econômica, será o destaque no verbete sobre W nas enciclopédias. O verbete, porém, pode reconhecer que um jornalista arremessou sapatos contra Bush sem consequências fatais para ele. Imagine se o alvo tivesse sido Saddam Hussein?
O Iraque pode estar mais seguro (e mais livre) e existe muito debate se o fator principal foi o reforço das tropas americanas ou a decisão de tribos sunitas de se aliarem aos ocupantes para combater a barbárie da rede Al Qaeda. A questão-chave, porém, é validade da invasão em si. Ela foi desfechada com base em mentiras (o inexistente arsenal de armas de destruição em massa de Saddam Hussein) e o principal resultado estratégico é o fortalecimento regional do Irã.
A falcatrua é a marca do empreendimento americano no Iraque. A vistoria de surpresa de Bush à sua obra coincidiu com a divulgação pelo jornal "New York Times" do rascunho da história oficial do projeto de reconstrução que os EUA realizaram no país invadido em 2003. O esforço já foi prejudicado antes da invasão por planejadores do Pentágono que eram hostis à idéia de reconstruir um país estrangeiro.
O investimento de US$ 100 bilhões foi marcado por rivalidades burocráticas e ignorância sobre os elementos básicos da sociedade e da infraestrutura do país. Em um padrão bushiano de acobertamento da realidade, medidas de progresso eram infladas para maquiar os fracassos.
Bush insiste que o Iraque foi uma guerra necessária. Na verdade, foi uma guerra de escolha. Para o governo Obama, a missão delicada será cair fora do Iraque sem que isto provoque uma nova espiral de violência. Quanto ao jornalista que agrediu Bush, ao invés de atirar os sapatos, ele poderia ter cantado o "se foi pra desfazer, por que é que fez?" de Vinícius e Toquinho.
Fonte: 15/12 - 06:04 - Caio Blinder, de Nova York
Obs: O irmão do jornalista que atirou os sapatos, informou à mídia que ele foi espancado na prisão, tendo sido quebrados os ossos da mão, algumas costelas e que apresenta hematomas no olho. Tivesse o alvo sido Saddam Hussein, e ele teria sido apenas fuzilado. Acredita-se ainda, que ele não terá os sapatos devolvidos.
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